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Elena e Jaime. Da primeira boda real da democracia espanhola ao “fim temporário de convivência” que se tornou definitivo – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 24, 2024


Uma relação que nos últimos anos se deteriora ainda mais por circunstâncias de saúde, a que se somavam máculas que ensombravam a coroa. Em dezembro de 2001, Jaime sofria um acidente vascular cerebral enquanto praticava exercício numa bicicleta estática num ginásio de Madrid. Esteve internado até janeiro do ano seguinte, e alguns meses depois, sentiu-se mal no avião rumo a Paris em que seguia com Felipe de Espanha, para assistir à final de ténis do torneio de Roland Garros que se disputou entre os espanhóis Albert Costa e Juan Carlos Ferrero. O voo da Iberia inverteu a marcha, regressou a Madrid, e Marichalar foi conduzido de ambulância para o hospital, acusando uma “crise isolada em relação à lesão que sofreu no passado mês de Dezembro”, contava então a Casa Real.

Foi em Nova Iorque, ao cuidado do cardiologista Valentín Fuster que Jaime seguiu a recuperação a partir de outubro de 2002, com a infanta a adiar o divórcio e acompanhar a reabilitação do marido ao longo de onze meses. Curiosamente, foi uma homenagem ao mesmo médico, em fevereiro de 2020, que reabriria as portas do palácio El Pardo ao antigo duque. As sequelas físicas, essas, arrastam-se até hoje.

Em 2008, a extinta revista Epoca reavivava más memórias e fazia capa com Marichalar, associando-o ao consumo de cocaína. Um estrondo de primeira página que acelerava o processo de separação cada vez mais iminente, defendendo que a outrora noiva tivesse invocado aquele motivo como forma a justificar o pedido de anulação canónica. A publicação surgia ainda no rescaldo de outro acontecimento infeliz. Chegara a ser anunciada uma terceira gravidez de Elena, que não chegou ao fim.

Quando o La Vanguardia noticiou que o casal já vivia separado, com a infanta a deixar o imóvel que Jaime comprara com a herança, e a instalar-se numa vivenda arrendada, a Casa Real foi forçada a não adiar mais o inadiável.

Uma semana antes de a declaração da separação ser tornada pública, a rainha Sofia ficava em terra para se concentrar nos netos, não seguindo, como inicialmente planeado, com o marido para a XVII cimeira Ibero-Americana. O encontro rivalizaria em mediatismo com o comunicado que a Zarzuela emitiria poucos dias depois. Em Santiago, Chile, Juan Carlos irritava-se com o antigo presidente da Venezuela Hugo Chávez e fornecia matéria-prima para a posteridade (incluindo t-shirts, toques de telemóveis e vídeos no YouTube). “Por qué no te callas?”, disparou.

Elena e Jaime podem ter aberto uma modesta caixa de Pandora na era moderna, mas há muito que o divórcio no núcleo duro da corte espanhola é uma realidade — provavelmente com superiores traços de polémica e agitação mediática. O ponto chave neste caso é terem protagonizado a primeira separação oficial em solo espanhol. Do outro lado da fronteira, a Lei do Divórcio foi aprovada apenas na Segunda República, vigorou entre 1932 e 1939, e só em 1981, já em democracia, foi restaurada. Não estranha por isso que Eulalia de Borbón, filha mais nova da rainha Isabel II, pioneira neste domínio, tenha precisado de sair do país há mais de um século para poder levar a sua vontade por diante.

A infanta Eulalia em 1924 © Getty Images

Corria 1886 quando se casou com o primo Antonio de Orleans y Borbón, duque de Galliera, um arranjo familiar que resultou em três filhos, e que iria contra o espírito livre, culto, viajante e feminista da noiva. Em 1900, incapaz de manter uma relação infeliz, Eulália logrou ver o divórcio assinado enquanto estava em Paris, um gesto que traria pesadas consequências a nível doméstico. No trono, o seu sobrinho Afonso XIII repudiou o comportamento imoral até então inédito no seio da família real espanhola. Em 1911, proibiu mesmo a tia — que sob o pseudónimo Condessa de Ávila assinara várias obra sobre a emancipação — de entrar em Espanha, ficando o seu retorno adiado até 1922.

Ironias do destino, Afonso XIII viria a lidar com semelhantes desafios dentro da própria casa. Por duas vezes, o seu filho mais velho, Afonso de Borbón, casou-se e divorciou-se. Hemofílico, com uma saúde débil, recuperava num clínica suíça quando conheceu a primeira futura mulher. Membro da alta burguesia cubana, Edelmira Sampedro foi a primeira parceira oficial, uma plebeia filha de um industrial do açúcar, que forçou o príncipe a renunciar aos seus direitos dinásticos para trocar alianças.

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Edelmira Sampedro e Afonso de Borbón

Casaram-se em Lausanne, na Suíça, em 21 de junho de 1933, separando-se poucos anos depois, em 1937. Foi em Nova Iorque, depois de Edelmira o deixar, que conheceu outra jovem cubana, a modelo Martha Esther Rocafort y Altuzarra, com quem se casou em 1937 e se divorciou menos de um ano depois. Morreu num violento acidente de trânsito em 1938 em Miami, quando viajava com sua então namorada, uma artista de cabaré chamada Mildred.

O segundo dos seis filhos de Afonso XIII também lhe reservaria notícias menos desejadas. Jaime de Borbón viu-se igualmente forçado a renunciar à coroa, da qual era depositário depois do abandono do irmão, mas agora por ser surdo e mudo, e considerado inadequado pelo pai pela deficiência.





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