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Amorim empata numa estreia com mais para corrigir do que para recordar – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 24, 2024

Doze dias depois, o dia. Há menos de duas semanas, Ruben Amorim comemorava como raras vezes fez na zona técnica a épica reviravolta do Sporting em Braga que permitiu aos leões manterem o seu registo 100% vitorioso no Campeonato. O que aconteceu de seguida? Foi de Beja para Manchester de jato privado, teve os primeiros contactos com responsáveis do Manchester United em solo inglês, continuou a conhecer os cantos à casa enquanto esperava o visto, teve a primeira receção apoteótica à saída de um restaurante com os seus adjuntos, deu a primeira entrevista aos canais do clube, orientou treinos no relvado ainda a meio gás sem os internacionais que estavam ao serviço das seleções, falou na primeira conferência de imprensa com todos os meios no dia em que deu uma entrevista à Sky Sports. O que faltava mesmo? O mais importante: jogo.

A continuidade de Queiroz chocou com as obras de Mourinho e a surpresa de Ronaldo. Que Manchester United herdou Ruben Amorim?

Foram escritas dezenas e dezenas de páginas e notícias sobre o novo técnico dos red devils. Sobre ele, sobre os métodos, sobre as táticas, sobre a forma de ser, sobre a maneira de estar, basicamente sobre tudo. Ponto comum? A empatia gerada desde o primeiro dia. Empatia com os jogadores, empatia com os funcionários, empatia com os dirigentes, empatia com a comunicação social. Foi isso que lhe valeu a primeira alcunha no Reino Unido: o Smiling One. Ponto importante? O impacto de qualquer coisa que se possa dizer é avaliado à luz dos resultados conseguidos em campo e era diante do Ipswich fora que tudo começava este domingo.

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“Posso ser a mesma pessoa. A pessoa que entende quem deve ser nos momentos certos, a pessoa que deve ser no balneário ou noutros sítios. Há sítios que são para estarmos mais relaxados e brincarmos um pouco mais, outros em que teremos de trabalhar. Posso ser impiedoso quando tenho de ser. Se pensarem que serei sempre o sorridente ou aquele que só pensa em si mesmo… Eu não sou esse tipo de treinador que gosta de mostrar que é o boss. Eles vão sentir nos pequenos detalhes. Eu posso ser o sorridente nuns momentos mas eles saberão que quando tivermos um trabalho para fazer que serei uma pessoa totalmente diferente”, comentou Ruben Amorim na primeira conferência de imprensa, sempre numa ótica de defesa dos jogadores que fazem parte do grupo como aconteceu também na entrevista com Gary Neville na Sky Sports.

“Sei que vocês não, mas eu acredito muito neles”: a primeira conferência de Amorim para fora teve as mensagens fortes para dentro

“O que para mim não negociável? Posso dizer aquelas coisas bonitas, como trabalho duro, ser profissional… Profissional tens de ser sempre, estamos no Manchester United. Tens de ser em todos os clubes mas aqui não se pode fugir disso. Depois, tens de pensar primeiro na equipa. Quem jogar numa posição diferente da sua, tem de entender a posição e lutar pela equipa. Como antigo jogador conheço todos truques, entendo os jogadores, o que fazem e porque o fazem Se o fizerem pela equipa, defendo-os até ao fim, perco o meu emprego antes de colocar um jogador em frente ao autocarro. Mas se ele não colocar a equipa em primeiro lugar, serei o primeiro a falar com ele”, destacou, entre outra revelação sobre o antigo capitão Roy Keane: “Foi um jogador que gostei muito, gosto de jogadores com caráter. Não apenas pelo que fez no campo mas pela forma como influenciou os outros. Espero que tenhamos como o Roy Keane no Manchester United”.

O “hi, guys” que fez sorrir, o inglês que impressionou e as comparações com Mourinho: o que os ingleses acharam da conferência de Amorim

Tudo o que tinha de fazer, Ruben Amorim fez. Adaptou-se a uma realidade totalmente diferente daquela que tinha do Sporting até a nível de compromissos ligados ao clube, deixou uma primeira imagem elogiada por tudo e todos entre adversários, comentadores e adeptos, recusou qualquer tipo de comparação fosse com José Mourinho, com Alex Ferguson ou com quem quer que fosse para trilhar um caminho que quis arriscar pelo desafio e que tinha (dentro das diferenças) alguns pontos de contacto com aquilo que encontrou quando chegou a Alvalade. O ponto de partida, esse, era atrás de tudo e todos: 12.º da Premier League, com contas difíceis na Liga Europa, ainda nas Taças mas sabendo que terá pela frente um total de 11 jogos em cinco semanas até ao final do ano civil com Arsenal, Manchester City, Tottenham ou Newcastle pelo meio.

Primeiro ponto de curiosidade? O onze inicial. E logo aí foi possível perceber o “impacto” da “ideia de jogo muito clara” que Ruben Amorim trazia para a estreia, com três alterações a nível de nomes (saídas de Manu Ugarte, Lisandro Martínez e Rasmus Höjlund, entradas de Jonny Evans, Eriksen e Garnacho) mas muitas dúvidas sobre as posições que seriam ocupadas. “O que gostava de ver escrito sobre o primeiro jogo? Bem… Primeira vitória. Temos de ser pacientes, precisamos de tempo. Vamos fazer algumas alterações mas se vir no final primeira vitória sou uma pessoa feliz. Não é difícil explicar novas ideias, precisamos é de tempo e quero que os jogadores estejam confortáveis”, comentou o técnico português na antecâmara do jogo.

Ao contrário do que era habitual, Amorim chegou ao banco já com os suplentes da sua equipa sentados mas a manter o cumprimento a Carlos Fernandes antes do apito inicial. Aí, quase nem teve tempo para beber o gole de água com que começa os encontros: quando todos estavam ainda a perceber como estava organizada a equipa do Manchester United, Diallo arrancou pela direita, passou por dois adversários em velocidade e cruzou para o desvio de primeira de Marcus Rashford a fazer o 1-0 com apenas 80 segundos de jogo. Os (muitos) adeptos dos red devils celebravam de forma eufórica nas bancadas, o técnico continuava de forma serena no banco. A estreia era de sonho mas preferia fixar-se nos complicados 88 minutos que se seguiam.

Tentando encontrar referências para quem lê sem ver e ainda se recorda da disposição do Sporting, a estreia teve a aposta no 3x4x2x1 com dinâmicas e nuances diferentes mas pontos em comum: uma linha de três com Mazraoui, De Ligt e Jonny Evans, tendo no marroquino a principal referência para saída de bola a partir de trás ou não fosse ele um lateral de origem; Amad Diallo e Diogo Dalot nas alas com pés invertidos nos dois lados e não apenas na direita como em Alvalade (onde jogavam Geny/Geovany Quenda e Maxi Araújo/Nuno Santos); Casemiro e Eriksen como médios mais centrais, com maior saída do dinamarquês; Bruno Fernandes e Garnacho no apoio a Marcus Rashford, com o português a começar mais à direita para o argentino descair sobre a esquerda mas a cair de quando em vez no meio-campo para ter bola.

Já com essa vantagem no marcador, o United teve um remate com muito perigo por Eriksen em mais uma jogada que fez a bola passar pelos três corredores (6′) mas foi encontrando depois mais dificuldades não só em sair em transições mas também em ter bola uns metros mais à frente do que desejaria. Não se pode dizer que o Ipswich tenha criado grandes oportunidades, com Sammie Szmodics a atirar de fora da área para uma grande defesa de Onana (11′) e Hutchinson a bater um livre em situação perigosa à figura do camaronês (29′), mas tudo podia ter mudado em cima do intervalo com o guardião a fazer uma intervenção monstruosa aos pés do isolado Liam Delap numa espécie de penálti em andamento (40′). Por mais do que uma vez o United teve saídas em busca da profundidade que poderiam ter causado muito mais impacto após passes longos de Bruno Fernandes e Casemiro mas os erros que Amorim tinha apontado foram aparecendo.

Numa altura em que se jogava sem VAR devido a um incêndio na zona onde estavam os árbitros em frente às câmaras (algo que foi comunicado pelo árbitro aos capitães e aos treinadores), o Manchester United não só tinha perdido intensidade e agressividade no jogo sem bola como estava a ceder a posse de forma demasiado rápida e em terrenos proibidos. Foi isso que acabou por funcionar como uma espécie de convite para haver uma subida gradual de linhas do Ipswich, que chegou ao empate há muito justificado perto do descanso num remate de fora da área de Hutchinson sem qualquer oposição ou pressão contrária (43′).

Amorim continuava com uma cara fechada que de Smiling One tinha pouco. Não era propriamente alguém chateado mas aparentava estar numa adaptação a uma realidade que nada tem a ver com aquela que teve ao longo de cinco anos em Portugal. Substituições? Nem uma. Preferiu corrigir posicionamentos com e sem bola do que trocar jogadores, fazendo passar Bruno Fernandes mais para a esquerda e subindo Eriksen mais na direita para deixar os dois avançados mais soltos na área e controlar de outra forma o meio-campo. Já com essa nova disposição, Bruno Fernandes isolou Garnacho na área após diagonal mas o remate foi travado por Muric (47′). Mesmo sem marcar, ficava algo de diferente em posse no meio-campo contrário que iria também alargar-se aos movimentos sem bola, com linhas mais subidas do que na primeira parte, e foi isso que expôs a lentidão de De Ligt e Evans, que viram Onana salvar de novo o golo numa jogada de Delap (52′).

Estava na hora das primeiras alterações, neste caso sem mexer nada em termos estruturais mas a querer mais velocidade nos movimentos com Luke Shaw e Manu Ugarte nos lugares de Evans e Casemiro. O United tinha mais posse, mais espaço para construir e maior controlo mas também por “decisão” do Ipswich, que não pressionava tão alto e tentava jogar em transições. Sem que nada mudasse, seguiu-se mais uma dupla alteração, com as entradas de Höjlund e Zirkzee para as saídas de Eriksen e Rashford (67′), neste caso com Bruno Fernandes a fixar-se mais no meio e Garnacho a dar largura pela esquerda. Era o português a dar o mote por algo mais no jogo, entre passes longos, combinações curtas e um livre direto a rasar o poste (79′).





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