O intervalo já era sinal de algo. À exceção da goleada sofrida frente ao Manchester City em 2022, nunca o Sporting tinha terminado a primeira parte de um encontro europeu a perder por 3-0. Depois, e durante cerca de 20 minutos, nada nem ninguém recordou esse empate em falso perante uma exibição que chegou a dar a ideia de que esta pode ser uma equipa com sete vidas num só jogo. Houve um golo, houve oportunidades, houve o renascimento de uma esperança que foi derrubada quando Diomande fez falta na área sobre Martin Ödegaard para Bukayo Saka fazer o 4-1 antes de Trossard fechar o 5-1 final. A primeira derrota na Liga dos Campeões chegou em forma de goleada – sem que os adeptos tenham deixado de apoiar na despedida.
As últimas três vezes em que o Sporting consentiu cinco golos foi goleado na Champions. No primeiro, com o Ajax em 2021, conseguiu depois dar a volta e chegar apenas pela segunda vez na história aos oitavos da Liga milionária. No segundo, na primeira mão dessa mesma eliminatória com o Manchester City em 2022, Ruben Amorim confidenciou na hora da saída que foi um dos melhor momentos que teve em Alvalade pelo impacto da reação dos adeptos nos derradeiros minutos de jogo. Agora, após a partida do Arsenal, só o futuro dirá.
Depois do desaire na Supertaça com o FC Porto após prolongamento, o Sporting sofreu a primeira derrota em 90 minutos da temporada, consentiu tantos golos contra o Arsenal do que nos últimos sete encontros oficiais e sobretudo quebrou uma série de 32 partidas sem qualquer desaire em Alvalade (a última derrota tinha sido com a Atalanta na Liga Europa, na última época). Houve erros assumidos, houve um grande foco nos 20 minutos iniciais da segunda parte, houve também um discurso e uma expressão em falso de João Pereira que não demorou a ter grande destaque ainda na zona de entrevistas rápidas da SportTV.
“A verdade é que não entrámos bem no jogo, sofremos muito cedo, o que trouxe intranquilidade à equipa. Acabando a primeira parte com o 3-0, sentiram um pouco. Ajustámos na segunda parte, os jogadores tiveram uma reação excelente, depois com o penálti sofremos o quarto golo e tudo ficou mais complicado. Fomos penalizados pela entrada que tivemos no jogo. Vimos que estávamos à espera que o Declan Rice jogasse mais subido, ele estava a descer mas os jogadores uniram-se e tentaram dar a volta, conseguiram nos primeiros minutos mas o penálti acabou por complicar tudo. Bragança em vez de Edwards de início? Não, voltaria a fazer o mesmo, não foi porque o jogo correu mal que mudaria as minhas opções”, começou por dizer.
“Dedo na equipa? O dedo é importante ganhar e hoje não conseguimos ganhar. Vamos tentar fazer já no próximo jogo do Campeonato. É levantar a cabeça, foram três pontos. Adeptos? É uma força para mim mas também para os jogadores porque sentem que os adeptos estão com eles e que isto pode ter sido um erro de casting, que é um jogo e que no futuro podemos melhorar e voltar a ganhar”, completou o técnico.
“Erro de casting? Não me lembro de ter dito erro de casting, sinceramente. Casting, não sei se disse isso… O responsável pela derrota sou eu. Fui eu que preparei a tática, que coloquei os jogadores a jogar e sou eu quem tem de assumir esta derrota pesada. O mais importante é os adeptos estarem com a equipa, que os jogadores já responderam em vários momentos de adversidade e estarem connosco é o mais importante”, apontou depois na conferência de imprensa, não se recordando da expressão que antes usara.
“Acho que nem em mim nem aos jogadores vai ter impacto. É verdade que é um resultado avultado, e em casa, frente aos nossos adeptos, mas o impacto é para reagirmos já no próximo jogo, pois já temos um no sábado. De facto foi um mau início de jogo para nós, muito condicionado pelo primeiro golo que sofremos muito cedo. Vamos ter de sair daqui com os 20/25 minutos da segunda parte, onde fomos claramente superiores. Expetativas depois do City? Não sinto que os jogadores não tivessem os pés bem assentes na terra. Foi um grande resultado contra o City, mas sabemos que todos os jogos são diferentes. Hoje não entrámos bem, o Arsenal foi superior na primeira parte, na segunda nem tanto. Não vamos ter tempo para fazer o luto, vamos ter de levantar a cabeça e preparar o jogo contra o Santa Clara”, reforçou.
Já Morten Hjulmand, capitão do Sporting, falou ainda no relvado após o jogo mas foi depois à zona mista soltar a frase forte da noite. “Demos muitas chances ao Arsenal na primeira parte e eles são muito eficazes, foi uma noite dura. Mas o importante agora é manter a cabeça levantada, temos um jogo importante contra o Santa Clara, no sábado, e temos de nos focar nisso agora. Vamos analisar este jogo através do vídeo porque não foi bom o suficiente para nós. Superioridade deles no meio-campo? Penso que é normal quando eles colocam o avançado deles mais como um número 10 e às vezes quase como um 8. Eles tinha mais jogadores no meio-campo, podíamos sentir isso no campo, mas eles são um adversário difícil. Não correu bem, não estamos satisfeitos e precisamos de fazer melhor”, começou por referir na flash interview.
“É claro que o Sporting não pode perder por 5-1 contra nenhuma equipa do mundo, nem mesmo com o Arsenal. O jogo com o Santa Clara é muito importante para nós, muito foco nesse jogo agora. Mas digo: o Sporting, com o apoio que tem aqui, não pode perder 5-1. Não podemos jogar uma época sem perder um jogo, isso é impossível mesmo nas melhores equipas do mundo. Mas vou repetir: perder 5-1 é inaceitável”, destacou depois na zona mista, dando o mote para uma resposta no próximo encontro.