António Costa vai estar sexta-feira com Charles Michel para a passagem do testemunho na presidência do Conselho Europeu, que o ex-primeiro-ministro português assume no domingo, dia 1 de dezembro. Antes de assumir as funções de presidente, afirmou acreditar que um diálogo franco com os Estados Unidos deve continuar e que se deve ouvir o que o Presidente Donald Trump tem para dizer.
Em entrevista ao jornal Público, António Costa refere que não separa os dois principais eixos das negociações com os Estados Unidos: a segurança e o comércio.
O ex-primeiro-ministro aborda também a divergência entre o Presidente Donald Trump e a União Europeia quanto à repartição dos encargos com a defesa.
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“Desde o último Conselho do Atlântico Norte, onde o Presidente Trump esteve presente, até hoje, houve uma evolução muito significativa — infelizmente, fruto da guerra”, disse.
Questionado sobre se a intenção de Donald Trump aumentar as tarifas alfandegárias às importações da Europa, Canadá, México e China, com tarifas distintas, vão ter um reflexo na Europa, António Costa disse que ainda se vai ver.
“Num momento de guerra militar, abrir uma guerra comercial é, seguramente, deitar gasolina sobre o fogo. Em segundo lugar, não há nenhuma guerra comercial que promova a prosperidade, nem do lado cá do Atlântico, nem do lado de lá. Em terceiro lugar, nós temos de olhar não só para as tarifas anunciadas relativamente aos produtos europeus, mas também as que foram anunciadas a outros, cujo efeito colateral não deixará de impactar também no mercado europeu”, referiu.
António Costa considerou ser essencial compreender a realidade no seu conjunto. “É justo, razoável e corresponde à opção europeia, reforçar a nossa autonomia em matéria de defesa. Continuarmos a investir mais na nossa própria defesa, aliviando o esforço que os Estados Unidos fazem para garantir a segurança da Europa, até porque sabemos que os Estados Unidos têm agora outras prioridades geopolíticas. Mas, para que isso seja possível, temos de, simultaneamente, proteger a nossa própria economia”, disse.
De acordo com António Costa, é do interesse dos Estados Unidos não enfraquecer a economia europeia.”Eu sei que são sistemas separados, mas não podemos olhar para eles sem entender que estão, de alguma forma, interligados. A negociação com os Estados Unidos vai seguramente ser difícil, vai seguramente ser dura, mas, como deve acontecer entre aliados, vai ter de ser bem-sucedida”, realçou.
Sobre qual a melhor estratégia para lidar com o Presidente norte-americano, António Costa lembra que não é novidade e que a Europa já lidou com uma presidência Trump, sublinhando que este tem de ser tratado como qualquer outro líder.
De acordo com António Costa, a Europa pode oferecer a Donald Trump a disponibilidade para o diálogo.
“Isso é absolutamente fundamental. Respeito. Ouvir o que tem a dizer e vermos como podemos, de uma forma que seja vantajosa para a Europa e para os Estados Unidos, encontrar aqui um ponto de encontro. Há vários problemas sobre a mesa. Os dois principais já os vimos — são os que têm que ver com a política comercial e os que têm que ver com a segurança e defesa. E insisto que temos de os ver em conjunto, porque ambos se reforçam”, disse.
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Sobre a eventualidade de os EUA retirarem o apoio militar à Ucrânia, Costa afirma que não há vantagem em antecipar esse cenário mas defende a importância de um plano de contingência: “Pessoalmente, não acredito que o Presidente Trump queira fazer na Ucrânia o que outros fizeram na retirada do Afeganistão. Não corresponde à imagem de força que ele gosta de projetar de si próprio e da forma como os outros devem olhar para os Estados Unidos. Seria, digamos, estrear-se da pior forma.”
Afirma ainda que, mesmo assim, não pode desvalorizar o risco e o impacto de uma eventual retirada dos EUA mas defende que “não é impossível à União Europeia ter a capacidade de se manter firme no apoio à Ucrânia pelo tempo que for preciso”.
“O compromisso da União Europeia com a Ucrânia não é só um compromisso para a guerra. É um compromisso para a guerra, para a paz e para a reconstrução”, acrescentou.