Apesar do resultado e aprovação final, nem sequer o salvador de Montenegro — o PS, com uma abstenção — se mostrou satisfeito com o documento. Para os socialistas, este é o ponto de viragem, com Alexandra Leitão a realçar que, de agora em diante, o Governo não tem “desculpas”, que “a dramatização acabou”, bem como as “manobras de vitimização” e Montenegro passa a estar nas suas próprias mãos. E mais: findo o processo, há duas mensagens a retirar: “O Orçamento é do Governo. As opções são do Governo. A responsabilidade é do Governo” e “o PS continuará a fiscalizar a atuação do Governo” — no lugar de líder de oposição que o Chega tanto ambiciona roubar.
Cá fora, já depois da votação fechada, Pedro Nuno Santos diria exatamente o mesmo (“O Governo já não se pode vitimizar, tem é de resolver problemas”), deixando claro que “em nenhum momento o PS passa a ser o suporte deste Governo”. Aliás, as críticas, para quem viabilizou o Orçamento, nem sequer foram leves, tendo em conta que a líder parlamentar do PS disse que está em causa um “mau Orçamento”, feito por um Governo que é bom “mas em powerpoints” e que acusou de “incompetência ou opacidade” nos números apresentados em várias áreas, com a questão da colocação de professores à cabeça. Para o PS, restou festejar as vitórias conseguidas na especialidade, com o aumento extraordinário das pensões à cabeça e o fim das portagens nas ex-SCUT — ambas com o apoio do Chega.
Mais à esquerda, Mariana Mortágua optou por criticar duramente a posição do PS num Orçamento do Estado “muito mau” em que foi criado “o contexto para o velho plano da direita”. “O PS diz agora que este não é o seu Orçamento. É um facto. Neste Orçamento, o PS não escreveu o texto, mas o PS forneceu o contexto. E é talvez por isso que é obrigado a viabilizar a Lei do Orçamento, este mesmo que o próprio PS afirma ser mau para o país”, rematou.
Também o PCP, pela voz de Paulo Raimundo, criticou o PS por se ter tornado “cúmplice do Governo”, destacando a “escandalosa redução do IRC direitinha para as grandes empresas” e o facto de o PS ter chumbado a proposta do partido para aumentar as pensões em 5%. Para o líder comunista, o documento é uma “benesse para o patronato”, que deixará a vida do povo “mais difícil”.
Isabel Mendes Lopes, do Livre, atirou ao facto de, a seu ver, o progresso ter ficado “guardado na gaveta” na hora em que o Orçamento do Estado foi feito. Além de ter culpado a maioria de direita, e de ter atacado o Governo por ser “muito mais hábil na propaganda do que a governar”, a líder parlamentar do Livre não esqueceu a abstenção do PS e disse que “o Orçamento tem as prioridades todas ao contrário”.
Já pelo PAN, Inês Sousa Real elogiou o facto de o partido — que foi o que viu mais propostas de alteração aprovadas — ter tornado o “Orçamento um pouco mais verde, mais inclusivo e mais humano”. Contudo, referiu, o PAN recusou “ignorar os retrocessos que permanecem: a borla financeira às touradas, a ausência de apoios robustos à transição climática e as falhas em garantir justiça fiscal e social”.
Já André Ventura atirou-se ao primeiro Orçamento do Estado com um “cunho e marca” de bloco central “em muitos anos”, que lhe permitiu dizer que “PSD e PS estão juntos na governação do país” e que “não há setor em Portugal que não olhe para este Governo e não veja o rótulo da traição e da cedência ao PS”. O líder do Chega justificou as opções, desde logo a viabilização de pensões, e foi dizendo que “o país não pode tratar os pensionistas como lixo” ou até que o seu partido “não é o dos meninos ricos da IL”.
Durante o discurso, André Ventura ainda aproveitou para criticar a declaração de Luís Montenegro sobre insegurança interna, para dizer que “o Governo compreendeu” o que Chega anda “a dizer há meses”, mas com um alerta: “O original é sempre melhor do que a cópia.”
Pela Iniciativa Liberal, Rui Rocha defendeu que “o país fica na mesma” depois de mais de duas mil propostas de alteração e que o Orçamento do Estado “não muda nada”. Além de ter criticado propostas “assombrosas” de vários partidos, os liberais consideram que o Governo perdeu a oportunidade de fazer diferente, já que o Orçamento, sublinhou Rocha, não dá sinais “claros de mudança” nem sequer respeita o “programa eleitoral da AD e do Governo”.
Seja como for, o presidente liberal disse que o partido “aceita o desafio de defender sozinha a única visão de país focada no crescimento e na prosperidade dos portugueses”. E disse mais: “Ao contrário dos outros, não trocamos o futuro de Portugal por lógicas eleitoralistas de curto prazo.”