Já Rui Zink referiu ao Observador que o processo Operação Maestro “está a decorrer” e que, “neste momento, não é útil fazer comentários”, apesar de deixar uma crítica à forma como o caso foi retratado na comunicação social. “O julgamento de Manuel Serrão na praça pública está feito. Está condenado. O julgamento para tribunal, se eu for chamado a depor, fá-lo-ei”, referiu.
Em jeito de conclusão, Zink diz: “Não é a primeira nem a última vez que aparece como uma coisa terrível algo que não é. Acredito na inocência de Manuel Serrão. Não é curial estar a atirar mais achas para a fogueira”.
Nuno Mangas, presidente da comissão diretiva do COMPETE 2020 e da atual autoridade de gestão do Programa Temático Inovação e Transição Digital, foi um dos decisores que os “Kings” procuraram influenciar para que o dinheiro dos fundos não parasse de chegar às sociedades e entidades que controlavam.
Entre os indícios recolhidos pela PJ está um encontro entre Manuel Serrão e Nuno Mangas a 10 de maio de 2023, no terminal de contentores de Leixões, na sequência de um evento do CITEVE — Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário.
De acordo com a investigação, Mangas terá apontado ao empresário um problema com uma fatura da Selectiva Moda que a impossibilitaria de aceder a um programa de financiamento. Isto obrigou Manuel Serrão a várias iniciativas de anulação e substituição de faturas, conseguindo em novembro garantir a elegibilidade da operação pelas autoridades.
“A troco de quê?” Os alertas sobre transferências ligadas a Manuel Serrão já corriam na AICEP há anos
Mas Nuno Mangas não foi o único e os esforços dos “Kings” estenderam-se igualmente à AICEP, em especial a Mónica Moreira, da direção comercial, e a Ana Pinto Machado, diretora da verificação de incentivos.
Manuel Serrão, conjuntamente com outros colaboradores, terá contactado por várias vezes Ana Pinto Machado para saber do estado das candidaturas a fundos submetidas pela Selectiva Moda, para pressionar a realização de pagamentos e convidou-a para um evento das 60 edições do Modtíssimo — um evento da empresa controlada por Serrão.
Ana Pinto Machado dormiu nessa noite de 30 de setembro de 2022 no Hotel Sheraton e a dormida foi paga pela empresa Nicles, de Manuel Serrão. Está em causa um valor de 155 euros. O MP e a PJ entendem que a responsável da AICEP não poderia ter aceitado esta oferta num hotel de cinco estrelas por ser funcionária de uma entidade empresarial do Estado que escrutinava a ação das empresas de Manuel Serrão.
Nuno Mangas e Ana Lemos Gomes foram já visados pelas buscas realizadas em março e são considerados suspeitos pelo MP, tal como Ana Pinto Machado. A investigação entende que os gestores públicos terão alegadamente violado os seus deveres funcionais ao não respeitarem as regras no pagamento de projetos financiados pelo COMPETE 2020 e na verificação dos incentivos na AICEP.
As faturas com viagens para a participação em eventos internacionais eram habituais entre as despesas submetidas pela Selectiva Moda para reembolso no âmbito dos programas de financiamento. Uma dessas viagens, segundo a investigação do DCIAP, foi para a feira Magic Las Vegas, de 8 a 10 de agosto de 2022, com Manuel Serrão a rumar à cidade norte-americana na companhia da namorada.
O empresário e a namorada viajaram para Las Vegas a 29 de julho, tendo esta última regressado a 5 de agosto, antes do início da feira, enquanto Serrão ficou até 11 de agosto. A despesa total, entre viagem e estadia, atingiu os 13.213 euros.