• Sáb. Dez 28th, 2024

Feijoada Politica

Notícias

A constância das coisas – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 8, 2024

“Bois serão bois,” observa o campino.  A observação traduz a ideia de que certas coisas são como essas coisas, e continuarão a ser como elas.   A ideia, no entanto, não tem muitos adeptos.   A alternativa é a chamada inconstância do mundo, assunto de muitos poemas, da teoria política, e das notícias.  Segundo essa ideia, tudo está sempre em mudança; um poeta conta que ia de carro pela estrada fora e meteu uma mudança; e que tudo mudou quando meteu essa mudança.  Em casos mais extremos sugere-se mesmo que a própria mudança está em mudança e lamenta-se que a mudança já não seja o que era, isto é, que já não se metam mudanças como se metia.

Não há porém razão para alarme: a teoria sobre a inconstância do mundo é inconstante, isto é, inconsistente.  Ninguém de bom senso nega que certas coisas mudam: mas são menos do que se imagina, e não podem mudar mais que em certo número ao mesmo tempo.   Se tudo fosse tão inconstante como por vezes se diz não conseguiríamos notar aquilo que muda; e aliás não conseguiríamos notar nada, visto que nós próprios não reconheceríamos o que notássemos.  Cada ideia que tivéssemos seria tão incompreensível como uma conta da luz que nos chegasse a casa dirigida a quem antes vivia nela; acresce que para os adeptos da inconstância das coisas a frase ‘Tudo muda’ requer que algumas coisas nela ou a respeito dela não mudem.

Uma certa permanência daquilo que as coisas são parece requerida aos nossos modos principais de lidar com elas; não nos torna sempre capazes de prever o que faremos no dia seguinte, mas ajuda-nos a não dedicar tempo de mais ao mundo, deixando justamente por conta da constância do mundo o que possa suceder a este.   O campino que conhece os bois não espera grandes mudanças no seu aspecto ou comportamento; e a haver surpresas terá ocasião de adaptar esse conhecimento ao que porventura se venha a passar.  Mas entretanto a cada manhã não terá grandes razões para supor que os bois se transformaram em rãs ou que mudaram de crenças naturais.

A frase “bois serão bois” não exprime assim uma previsão, ou não exprime quase nunca uma previsão.  Não exprime também um compromisso com a essência dos bois ou uma doutrina sobre a bovinidade; o que os bois são realmente não é um problema para quem os conhece bem.   A frase exprime apenas a ideia de que não há razões para antecipar comportamentos insólitos que possam emanar de certos animais familiares; e que é nisso que consiste o eles nos serem familiares.  Ninguém e nenhum campino no seu perfeito juízo se demorará a prever comportamentos de bichos que já conhece.  A previsão requer a consideração de probabilidades e a constância das coisas é uma alternativa à consideração de probabilidades.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR





Source link

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *