Mas a abertura foi sol de pouca dura. O mercado ficou dominado por empresas que pertenciam à elite política e a abertura para o diálogo político não se refletiu na democratização das instituições. Em 2001, mil intelectuais sírios apresentaram uma petição para a criação de novos partidos e uma democracia multipartidária. Em resposta, o regime acabou com os fóruns de discussão e prendeu novamente ativistas políticos. Damasco era — novamente — “o reino do silêncio“, como definiu o opositor Suheir Atassi, citado pelo Le Monde.
Tal como o seu pai, Assad continuava a rodear-se de pessoas próximas em Damasco. Na região, a instabilidade internacional crescia. Em 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque; em 2005, o primeiro-ministro libanês foi assassinado e o Ocidente apontou o dedo à Síria; em 2006, deflagrou a guerra entre Israel e o Hezbollah. Assad procurou aproximar-se de aliados e adversários ao dialogar com Washington, Paris, Teerão e Ancara.
Mas uma nova primavera viria a pôr fim a todas as tentativas de Assad estabilizar o seu regime. A pedra no charco foram as revoluções na Tunísia e no Egito que começaram a Primavera Árabe. As ondas chegaram à Síria com um grafitti em Deera, no sul do país: “A tua vez está a chegar, doutor”.
Os jovens responsáveis pela frase foram presos, espancados e as unhas foram-lhes arrancadas, lembra o Le Monde. A violência com que o regime respondeu às ações dos jovens e aos pedidos de clemência dos pais gerou uma onda de protestos. Os primeiros em Deera em março de 2011, mas rapidamente alastraram ao resto do país.
As forças do regime responderam com detenções e violência contra os manifestantes. Alguns manifestantes armaram-se, alguns soldados de Assad desertaram e fortaleceram-se grupos de revolta armada pelo país todo. O maior destes grupos foi o Exército Livre da Síria, que contou com o apoio da Turquia, do Qatar e da Arábia Saudita. Multiplicaram-se outros grupos, que contam com o apoio de al-Qaeda e grupos extremistas islâmicos.