Depois de muitas horas dedicadas ao tema da imigração nos últimos meses, e após um arranque de debate entre PS e PSD que se focou bastante no assunto, André Ventura deu destaque à segurança, não só para acusar o primeiro-ministro de “fazer uma brincadeira de governação” quando fez uma declaração “um pouco ridícula”, em São Bento, sobre o tema, mas também para desafiar Montenegro a reconhecer que “há um problema” associado ao tema.
“Temos um país assolado pela insegurança, por uma verdadeira epidemia de droga”, rematou Ventura, que estava empenhado em perguntar a Montenegro se podia “dizer mais às pessoas” em matéria de segurança em vez de permitir a “bandalheira” em considera que o país se transformou. O primeiro-ministro acabaria por deixar claro que o tráfico de droga e a criminalidade violenta estão no “radar” do Governo. “Somos um país seguro mas não podemos ficar à sombra da bananeira”, afirmou, recordando o posicionamento que decidiu tomar naquela declaração em São Bento.
As preocupações com a segurança estenderam-se ao parceiro de coligação governamental, o CDS, que acusou o PS de não ter combatido os criminosos e de ter desprotegido as vítimas, alimentando a tese de que Portugal era um “país seguro”. Neste sentido, até recuperou a polémica com decisões em autarquias socialistas: “Quando se ouve autarcas do PS a denunciar o que os portugueses veem todos os dias, os deputados do PS combateram os seus próprios autarcas”.
À boleia do tema da segurança, Ventura acabaria mesmo por acusar Montenegro de “arrogância” e de estender a crítica ao processo dos bombeiros sapadores, colocando nos ombros do Governo a responsabilidade pelo “clima” em que o setor está — com violentos protestos com petardos que levaram até à suspensão das negociações. O chefe de Governo reiterou, como já havia sido feito no próprio dia, que não negoceia “sob coação”. Assim, apesar de se manter o “interesse em negociar”, já depois de 12 reuniões, o Governo recusa manter essas conversações neste clima.
Em resposta ao PAN, o primeiro-ministro revelaria que no caso dos bombeiros sapadores “a negociação já está muito avançada” e que as propostas do Governo são “suficientes para garantir uma valorização salarial equivalente” à que foi promovida nas forças e serviços de segurança — um valor que pode atingir um aumento de 4 mil euros por ano nos pontos mais baixos da carreira. Ainda assim, não deixou escapar, mais uma vez, a oportunidade: “Não aceitamos intimidações.”
O assunto já tinha gerado um anúncio estrondoso do Governo, seguido por um recuo igualmente estrondoso do Governo, e desta vez serviu para Pedro Nuno Santos reforçar a sua tese de que o Executivo não é confiável nem competente. O número de alunos sem aulas foi mais uma vez assunto, com o PS a pedir os dados atualizados (e IL e a pedir previsões para o próximo ano) e Luís Montenegro a reconhecer que o Executivo tem “tido muita dificuldade“, “mais do que esperava”, “em saber qual era a situação há um e dois anos”.
Quanto ao cenário atual, adiantou: “Hoje o número de alunos sem aulas a uma disciplina de forma não permanente foram 26.011, os que de forma permanente não têm professor a uma disciplina são 878 alunos.” Ainda assim, explicou que o Governo decidiu acabar com as dúvidas e facilitar as comparações pedindo uma auditoria externa.
A resposta não satisfez, ainda assim, o PS, que disse “não poder acreditar” nos números do Governo, acusando o ministro da Educação de só admitir erros nos valores que apresentou quando foi “apertado” e considerando a encomenda da auditoria uma ideia “conveniente” para impedir que “o sucesso da política do ministro” seja monitorizado.
Em resposta à IL, Montenegro acrescentaria ainda que 698 professores voltaram à carreira e que foram celebrados 4.351 novos contratos. “Não chega mas é um caminho que estamos a percorrer para, valorizando a carreira, poder ter maior retenção de recursos humanos”, explicou o primeiro-ministro. Mais uma resposta que deixaria os liberais insatisfeitos, classificando o tempo atual como “a era da apatia social democrata” e acusando o Executivo de continuar a “rasgar”, tal como o PS, o contrato social com os portugueses.