Os interesses ideológicos e políticos nem sempre são suficientes para assegurar uma boa relação entre os dois homens. Desde as últimas remodelações, o nome de François Bayrou aparecia como um dos favoritos para ser primeiro-ministro. Porém, Emmanuel Macron resistia em nomeá-lo, sabendo que a presença do seu aliado no Palácio Matignon podia dar-lhe dores de cabeça. O líder do MoDem também desabafava aos apoiantes, segundo o Le Parisien, que o Presidente “nunca o nomearia, a não ser em circunstâncias excecionais”.
Essa conjuntura excecional chegou com a queda do governo de Michel Barnier, a primeira escolha de Emmanuel Macron para ser primeiro-ministro, após as eleições legislativas de julho, em que a Nova Frente Popular (NFP) acabou vencedora, mas muito longe de uma maioria. Já nessa altura François Bayrou vaticinava que o executivo duraria pouco e preparou terreno para chegar ao Matignon. Um dos seus aliados resume ao Le Parisien como Bayrou viu a situação, realçando que o Presidente francês tentou com Os Republicanos — o partido de Michel Barnier — e “não resultou”, para além de que alguém do Renascença também não iria funcionar, dado que as restantes forças partidárias (principalmente os socialistas) não iam aceitar esse cenário.
Neste contexto, François Bayrou, por causa da sua boa relação com o PS e com o centro-direita, era o homem certo na hora certa. Porém, a escolha não foi fácil para Emmanuel Macron. O Presidente francês adiou o anúncio por algumas horas, ultrapassando o prazo estipulado na passada terça-feira, de 48 horas — que terminaria na quinta-feira à noite. E a reunião decisiva que manteve com o político de 73 anos no Palácio do Eliseu, esta sexta-feira de manhã, não correu particularmente bem. À BFMTV, o deputado Bruno Fuchs, do MoDem, admitiu que houve “tensões” no encontro, mas que mostram a “independência e liberdade de François Bayrou”.
Nem à esquerda, nem à direita. Macron nomeia centrista François Bayrou para primeiro-ministro
A imprensa francesa apurou que Emmanuel Macron comunicou inicialmente a François Bayrou que não seria o próximo primeiro-ministro, sendo que Roland Lescure seria o sucessor de Michel Barnier. Convidou o líder do MoDem, ainda assim, para ser o número dois do executivo. O centrista de 73 anos recusou de imediato essa proposta. Mais: chegou mesmo a ameaçar retirar o seu partido da coligação centrista, deixando o Renascença sozinho na coligação na Assembleia Nacional.
A reunião foi, por isso, tensa. François Bayrou saiu do Eliseu convencido de que não seria eleito primeiro-ministro. No entanto, segundo a BFMTV, conselheiros de Emmanuel Macron apontaram-lhe que o presidente do MoDem seria a melhor opção para o cargo do chefe do governo. A contragosto, o Presidente francês cedeu. No Renascença, alguns membros não ficaram contentes. “E no final foi Bayrou quem vence”, comentou fonte do partido do Chefe de Estado à Le Point.
Os próximos tempos da relação entre o Presidente e o primeiro-ministro não se avizinham fáceis. “Ele não será facilmente disciplinado. E vai aproximar-se da esquerda”, avisa o comentador político Alain Duhamel à BBC. Em declarações ao canal de televisão Public Sénat, o historiador Jean Garrigues recorda que François Bayrou não deverá ser um “primeiro-ministro colaborador”, uma vez que “tem uma identidade política própria”. “Eles convergiram, mas sempre na crítica.”