A oficina artística começou no ano letivo de 2016-2017 com o nome “Normativos? Talvez… Não”, batismo que está atualmente em reformulação, numa parceria entre o Serviço de Psiquiatria da ULSEDV, em Santa Maria da Feira, e o Centro de Arte Oliva, em São João da Madeira, equipamento municipal, as duas entidades que suportam financeiramente o projeto. São ateliês artísticos dirigidos a utentes da ULSEDV com doença mental, na sua maioria com psicose e esquizofrenia, com uma motivação para se expressarem através da arte.
O objetivo não é dominarem técnicas de pintura ou desenho, mas encontrarem um espaço seguro para exprimirem vivências, pensamentos e emoções através de várias formas de expressão artística. A referenciação é feita por profissionais da ULSEDV, médicos, enfermeiros e outros técnicos com intervenção com pessoas com experiência de doença mental. Posteriormente são avaliados pela terapeuta ocupacional.
Como foi o caso de Luísa Azevedo. Frequenta a oficina há cerca de três anos e ganhou tanto gosto que se inscreveu em pintura num outro atelier. “O vício, o bichinho começou a despoletar, tenho de agradecer à médica, foi ela que me enviou para aqui, descobri a pintura aqui”, revela Luísa Azevedo que gosta de pintar paisagens, animais e abstratos. “Enquanto aqui estou, só penso nisto, não penso nos outros, não penso em ninguém”, refere. E os dias tornam-se mais leve na sua depressão profunda.
Jorge Madureira pede um pincel mais fino para pintar os bigodes do seu gato de cara amarela-esverdeada, boca e nariz vermelho. Está bastante concentrado, conta que tem dois gatos em casa, a Xanoca e o Brankito, com k indica. Moldou outra cara de barro que deixou para pintar depois e que tem uma parte amovível que pode funcionar com cabelo ou como barba, basta mudar de lugar, ainda vai analisar melhor o que será. Essa figura, o que é? “Nem sei bem… É um monstro. Vi a exposição e inspirei-me num bocado de tudo”, afirma.
É o elemento mais antigo deste grupo, frequenta a oficina desde 2019. Já desenhava em casa, confessa. “É uma forma de me evadir do quotidiano, dos problemas mais pessoais.” Há mais de 20 anos que Jorge Madureira sofre de distúrbio obsessivo-compulsivo. “Não sou a mesma pessoa que era há 20 anos.” Apesar de calado, na oficina, sente-se confortável e garante que tem resultado. “É como uma terapia, é um escape. Tenho melhorado imenso.”