O Grupo Volkswagen e o poderoso sindicato da indústria germânica IG Metall enterraram o machado de guerra em relação aos cortes que o construtor precisa de fazer para continuar viável. Mas o sofrimento dos trabalhadores está longe de terminar, uma vez que, em matéria de postos de trabalho, vão ser despedidos 35.000 até 2030. Isto só na Alemanha, onde o construtor emprega 296.134 pessoas, com o grupo a possuir globalmente 678.825 funcionários.
Além do número de empregados baixar, a produção também vai ser alvo de um corte de 734.000 veículos, segundo o CEO Oliver Blume, para adaptar a oferta à procura. Isto significa que os 9,24 milhões de unidades vendidas em 2023 deverão cair para 8,5 milhões, sendo previsível que a Volkswagen — o motor do grupo, com 4,9 milhões de veículos comercializados no ano transacto — assuma os maiores sacrifícios.
Denominado “Futuro da Volkswagen” (Zukunft Volkswagen), o acordo visa poupar anualmente 1,5 mil milhões de euros só em custos relativos à mão-de-obra, o que somado ao encerramento de fábricas e à redução da produção permite ao construtor baixar a despesa em cerca de 15 mil milhões de euros/ano, a médio prazo. De acordo com a administração, a estratégia passa por “garantir os restantes postos de trabalho e a estabilidade financeira, bem como o alcance da liderança tecnológica no capítulo da mobilidade sustentável”, além de assegurar a capacidade para realizar os generosos investimentos que são necessários para lançar novos modelos até 2030.
Próximo VW Golf eléctrico vai ter uma mãozinha da Rivian
Além do encerramento de fábricas e de despedimentos, o conglomerado germânico vai reformular o seu aparelho produtivo. A medida mais marcante será a deslocalização, em 2027, da fabricação do Golf e do Golf Variant de Wolfsburg, na Alemanha, para o México, linha de produção de 1967 que foi concebida para o Carocha original, que ali foi fabricado até 2003. Desde então passaram a ser aí montadas as duas gerações seguintes do Beetle, para hoje saírem desta linha de produção o Tiguan Allspace, o Jetta e o Taos.
Se o Golf com motores a combustão se desloca para a terra da tequila e do guacamole, a próxima geração do popular modelo, que será puramente eléctrico, será concebida sobre a nova plataforma do grupo (SSP) e fabricada na Alemanha a partir de 2029, em Wolfsburg. Daqui sairão igualmente os ID.3 e Cupra Born, enquanto a fábrica de Emden continuará a assegurar os ID.4 e ID.7, ficando Zwickau responsável pelos Audi Q4 e-tron, e-tron Sportback e Cupra Tavascan. A linha de produção em Hanôver, especializada em veículos comerciais, manterá a produção dos VW Multivan e ID.Buzz.
Sem futuro no “Futuro da Volkswagen” está a fábrica de Osnabrück, que deverá encerrar quando terminar a fabricação do T-Roc Cabriolet em 2027, bem como a mais bela fábrica do grupo (e da indústria automóvel) em Dresden, conhecida como a “fábrica de vidro” por ser revestida neste material e onde se localiza o silo de armazenamento cilíndrico de veículos coberto, claro está, por vidro. É uma linha de baixa produção e que verdadeiramente não fabrica, mas apenas monta veículos, uma vez que não tem estações de moldagem de chapa nem fabricação de motores ou caixas de velocidade, operando com peças vindas de Wolfsburg. Nasceu como um edifício icónico, no centro de um enorme jardim dentro da cidade de Dresden, exclusivamente para produzir o Volkswagen Phaeton, tendo-se dedicado desde então ao e-Golf e, mais recentemente, ao ID.3. Dada a nobreza das instalações, eram igualmente aí organizadas entregas individualizadas.
A fábrica de vidro deverá ser vendida ou cedida a terceiros, com a certeza que as autoridades da cidade facilmente instalariam no local um museu ou um centro de congressos. Também complicado se adivinha o futuro de seis fábricas de produção de componentes para alimentar as fábricas de veículos, que se manterão em laboração, mas com uma menor carga horária e de trabalhadores.