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o que se sabe do Mundial de 2034 na Arábia Saudita – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 24, 2024

Contudo, o relatório de avaliação da candidatura da Arábia Saudita aponta o contrário, com a FIFA a considerar várias “áreas onde são necessárias mais reformas legais e uma aplicação eficaz, sem as quais o risco de condições de trabalho indecentes pode ser elevado”. O organismo elogiou ainda o “compromisso do governo saudita em respeitar, proteger e cumprir os direitos humanos reconhecidos internacionalmente em conexão com a competição, incluindo nas áreas de segurança, direitos dos trabalhadores, das crianças, igualdade de género e liberdade de expressão”.

No que diz respeito à diversidade e anti-discriminação, o relatório apresenta “lacunas e reservas na implementação de padrões internacionais relevantes”, embora a FIFA reconheça “um bom potencial de que o torneio possa servir como um catalisador para algumas das reformas em andamento e futuras e contribuir para resultados positivos em direitos humanos”. Para a Amnistia Internacional, o relatório não passa de “uma espantosa lavagem cerebral do histórico atroz de direitos humanos do país”.

A resposta a esta pergunta ainda é incerta. Depois de o vizinho Qatar ter organizado o Mundial de 2022 durante o inverno do hemisfério norte, devido ao calor abrasador do verão, esta hipótese volta a estar em cima da mesa. A decisão oficial dos qataris foi conhecida em 2015 pelo que, se o prazo da FIFA for o mesmo, a Arábia Saudita tem até 2027 para preparar esta questão. Caso aconteça a mudança, as críticas deverão voltar a fazer-se sentir devido à interrupção dos campeonatos e ao risco elevado de lesões dos jogadores, embora esta parte ainda não esteja evidenciada.

No relatório de avaliação da candidatura saudita, a FIFA indica que a organização não expressou qualquer janela temporal para a realização do torneio, mas a Arábia Saudita vai “determinar o momento certo”. Alguns órgãos de comunicação social apontam o mês de janeiro como um cenário provável, devido à questão do calor e ao Ramadão.

Cinco cidades-sede, dez localizações-sede, 15 estádios, 16 aeroportos internacionais, mais de 230 mil quartos por cidade anfitriã e 134 campos de treino. É desta forma que é apresentado o Campeonato do Mundo de 2034 no site oficial da candidatura. Tem como mote “Crescendo. Juntos” (“Growing. Together”, em inglês) e vai ser a primeira edição com 48 seleções a decorrer integralmente no mesmo país. Para isso serão construídos de raiz 11 dos 15 estádios, sendo que oito deles ficarão localizados na capital Riade. Estas infraestruturas foram projetadas pela empresa norte-americana Populous, que também esteve envolvida na construção do novo estádio do Tottenham e do Estádio Lusail, que albergou a final do último Mundial.

Na Arábia Saudita, o maior estará localizado em Riade e terá o nome de King Salman. Com capacidade para 92 mil espectadores, este estádio é apresentado com uma “ambição arrebatadora” e sediará o jogo inaugural e a final. Também na capital estará o Estádio Príncipe Mohammed bin Salman, uma “maravilha arquitetónica, com bancadas de três níveis e uma vista deslumbrante para um dos penhascos”, tendo “todos os designs inovadores, futuristas e todas as fachadas externas cobertas por vidro”. Este estádio será, inclusivamente, a casa do Al Nassr, de Cristiano Ronaldo, e do Al Hilal, de Jorge Jesus, a partir de 2029.

As promessas são muitas, as inovações mais ainda. Afinal, a Arábia Saudita será um dos grandes palcos do planeta na próxima década, começando por sediar a Taça Asiática em 2027 e depois o Jogos Olímpicos de Inverno, em 2029. Já na próxima década realiza-se a Expo 2030 e, para terminar, o Mundial de 2034, que será certamente o maior evento já organizado por aquele país do Médio Oriente.

Tem o nome de Neom devido ao prefixo grego “neo”, que significa “novo”, e à primeira letra do nome do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, bem como à palavra árabe “mustaqbal”, que significa “futuro” em português. Localiza-se na zona norte da Arábia Saudita, a duas horas a sul da Jordânia e a cerca de 50 quilómetros do Egito. Está, por isso, ligado ao Mar Vermelho, tendo 525 quilómetros de costa. Falamos no presente mas este é, sem dúvida, um projeto para o futuro. Está de pé, está em andamento e é um dos maiores investimentos do país. Como não podia deixar de ser, será uma das cidades-sede do Mundial-2034.

Nesse sentido, o Observador esteve à conversa com João Canas, responsável de Gestão de Emergências e Riscos Ambientais e um dos milhares de trabalhadores envolvidos no projeto Neom. Esteve no Qatar, na construção da cidade de Lusail e, desde 2022, encontra-se ligado ao projeto saudita, explicando que esta cidade será do tamanho da Bélgica e 24 vezes maior que Manhattan. Em termos estruturais, terá 14 setores, de energia, água, alimentação, saúde, educação, entre outros, e, atualmente, tem “trabalhadores de mais de 110 nacionalidades” envolvidas no projeto, entre eles “mais de 50 portugueses”. Um das fases do projeto já está de pé, já que “a Ilha de Sindalah teve o evento de abertura a 24 de outubro e foi a primeira infraestrutura de Neom a ser mostrada ao mundo”.

“Neom é uma sociedade construída para o mundo. Quem visitar não vai ver elementos de uma sociedade árabe. Apesar de a área ser gigante, o que se perspetiva é que ‘A Linha’ tenha 35 quilómetros quadrados. É como viver numa torre gigante. Cidades lineares já foram tentadas no passado, mas nunca foram conseguidas. Esta tem força porque tem espaço, território para desenvolver, capacidade de investimento e a ambição desmedida de se fazerem coisas únicas. A ideia é fazermos coisas que nunca foram feitas”, explicou Canas.

“Uma das deadlines é 2029, para os Jogos Olímpicos de Inverno. A Taça Asiática não deverá ter repercussões em Neom. Fala-se que até 2030 existam 300 mil pessoas a viver em Neom. Neste momento somos um universo de 10 mil pessoas, embora trabalhem 200 mil pessoas naquela zona”, acrescentou, explicando, depois, que os riscos naturais estão a ser acautelados na nova cidade: “Há pouco tempo simulámos um sismo de 7,4. Já estamos a trabalhar em zonas em que ainda não há população. Neste deserto neva, chove abundantemente e temos bastante calor, apesar de ser uma zona com uma média de temporada 10 graus abaixo de todo o Médio Oriente. Também trabalhamos nos riscos de longo prazo, mas ainda é difícil trabalhar na prevenção porque, como ainda não há pessoas, o risco não está patente. As infraestruturas terão de ser resilientes”.

“Calor? [Os sauditas] podem construir um palácio no meio do deserto. São bons nas infraestruturas temporárias. Em três anos já foram construídos quatro aeroportos nesta região. Futuro? A visão é um bocadinho utópica, mas se não tiver um pouco de sonho, não será eficiente. Se não se sonhar, não se chega lá. Um dos projetos visa plantar dez biliões de árvores em todo o país, 100 milhões delas em Neom. Isso vai mudar o ecossistema a 20/30 anos. É um projeto que visa alterar toda a paisagem e o ecossistema. Está tudo a acontecer a uma velocidade estonteante. Neom é apelidada de ‘terra do futuro’ e vai levar a mudanças estruturais na sociedade. Há modelos sociais que se vão desenvolver dentro deste projeto. Na área da saúde pretendem expandir a esperança média de vida em dez anos e querem criar dessalinização da água através da energia solar. Estamos a falar de toda uma transformação. Acredito que vá haver impactos sociais grandes. Eles anunciam Neom como o Kennedy fez há uns anos com a ida do Homem à Lua”, abordou João Canas ao Observador.

Quanto ao estádio que estará localizado na cidade, a infraestrutura está a 350 metros de altitude e a sua construção deverá começa em 2027 e terminar em 2032. “O desafio começa por toda a estrutura que tem de suportar esse estádio. Os módulos já estão definidos e o do estádio será o módulo da marina. Todo o tipo de desenvolvimento estrutural é um desafio gigante. Primeiro, o desafio está em toda a estrutura do ‘The Line’. A estrutura inicial terá dois quilómetros. É uma obra única. Se houver algum problema com ‘A Linha’, não deverá ser construído a esta altitude. Não é todos os dias que se participa num torneio com infraestruturas deste calibre”, contou João Canas.





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