É a exaustão física, psicológica e emocional que resulta da grande responsabilidade e exigência das tarefas diárias e preocupações associadas a cuidar dos filhos. O burnout parental, explica a psicóloga Joana Madureira, caracteriza-se por “uma sensação de esgotamento, com impacto na funcionalidade dos progenitores e, por conseguinte, na sua capacidade de discernimento, tolerância, equilíbrio emocional e até de cuidar de si e dos filhos”.
A grande diferença é a origem do stress e da sobrecarga. O burnout resulta da atividade profissional; o burnout parental vem dos cuidados aos filhos, uma função que, recorda a psicóloga, “não tem horários de trabalho nem dias de descanso, já que ser pai ou mãe é uma função vitalícia” e permanente.
No entanto, “não é raro co-existir stress em ambos os contextos — profissional e parental — pela exigência desmedida que às vezes ambos representam, o que aumenta a dificuldade dos pais em encontrarem estratégias saudáveis de gestão, conciliação e de autocuidado”.
Quase todos os pais têm momentos ou fases em que se sentem stressados, impacientes ou cansados, e isso é natural. “Este stress parental torna-se prejudicial quando afeta a funcionalidade e é acompanhado de sofrimento, sobrepondo-se por completo à satisfação que procuramos ter na parentalidade”, explica Joana Madureira.
É quando este desequilíbrio — com muito stress e pouca satisfação — se torna um estado quase permanente que acontece o burnout parental.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses desenvolveu um documento com 15 questões, a checklist “Stress Parental”, através do qual os pais podem avaliar o nível de stress em que se encontram, para agirem no sentido de procurar ajuda, se necessário.
Alguns dos sinais de alerta para o stress parental, refere Joana Moreira, são “sintomatologia depressiva ou ansiosa, impaciência, tensão e irritabilidade, levando a maior impetuosidade e conflito nas relações”.
Estes sintomas podem passar despercebidos ou ser muito expressivos e impossíveis de ignorar. “Um progenitor que se esquece do seu filho — que adormeceu — no carro, seguindo em piloto automático para o seu trabalho sem o deixar primeiro no infantário, é um exemplo da gravidade a que o burnout parental pode levar”, alerta a psicóloga.
De acordo com Joana Moreira, alguns estudos têm vindo a mostrar que há alguns contextos que fazem com que se esteja mais em risco de atingir este estado de exaustão, nomeadamente, ter vários filhos pequenos e ainda muito dependentes; a inexistência de uma rede de apoio e ajuda; conflitos familiares; o historial familiar dos próprios progenitores e a sua experiência enquanto filhos; e a dificuldade de conciliação entre o trabalho e a família, entre outros.
Apesar disso, a psicóloga refere que o burnout parental pode acontecer sem que estejam presentes estes fatores, “já que se encontra dependente da perceção e da forma como cada um vivencia a sua experiência como pai e/ou mãe” e que, atendendo ao ritmo de vida atual, com solicitações constantes “pode acontecer a qualquer um de nós, se não estivermos atentos aos sinais de alerta.”
Sim. O burnout — que não é considerado uma doença, mas antes um conjunto de sintomas associados à exposição ao stress crónico — pode aumentar o risco de desenvolver problemas psicológicos ou psiquiátricos mais graves, nomeadamente, ansiedade e depressão.
Joana Madureira refere três estratégias que os pais podem usar quando sentem dificuldades na gestão dos cuidados aos filhos e os primeiros sinais de exaustão:
- Repensar o que não tem funcionado e fazer uma lista de prioridades, identificando as tarefas imprescindíveis e as que pode ser delegadas ou adiadas;
- Fazer um esforço para encontrar tempo pessoal para estar sozinho, sossegado e em silêncio, de forma a conseguir refletir sobre necessidades, processar emoções e organizar o pensamento;
- Consultar um profissional de saúde mental que possa ajudar, com estratégias mais direcionadas para cada caso.