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Políticos que não querem ver – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 26, 2024

A emoção suscitada pela operação policial no Martim Moniz levantou uma bandeira moral que tem animado o espírito de luta dos que insistem em denunciar a violência de um Estado acusado de pendor racista e xenófobo. Seria aconselhável que, face ao que está efectivamente em causa, se terminasse esta dança de culpabilidades acusadas e negadas, para se encarar qual é afinal a sociedade que queremos para o nosso futuro.

O tema aqui não é o uso da violência policial, função para a qual os órgãos de manutenção da ordem pública estão democraticamente mandatados dentro das regras definidas por lei. A questão é se queremos, no futuro, continuar a viver numa sociedade com os valores que aprendemos a respeitar ou se aceitamos mudar para um outro modelo que em muitos aspectos é o seu contrário. O problema é, sim, a imigração e o efeito social e cultural que a alteração demográfica em curso provoca. Importa saber se nos vamos limitar a assistir à transformação de usos e costumes, ou se tentamos agir, preservando o que achamos importante do nosso património cultural. Continuar a falar da operação policial no Martim Moniz nos termos em que se tem feito, é aceitar que somos conduzidos por líderes desprovidos de capacidades de visão como os que, no centro da Europa, abriram um espaço que foi em parte ocupado pelo islamismo radical. Em Portugal ainda estamos a tempo de evitar o pior, mas, se insistirmos nos mesmos erros, acabaremos por cair nos mesmos resultados.

Um efeito patente dos movimentos migratórios que hoje se dirigem por via de regra para a Europa ou para os Estados Unidos foi a implosão dos sistemas políticos ocidentais, que, para o bem e para o mal, garantiram o progresso e o desenvolvimento das sociedades a que temos a sorte de pertencer. Como quase tudo se explica, convinha ter presente as causas para estas vagas de imigração:

  • Fuga da pobreza ou da guerra em direcção a um eldorado de riqueza ou de paz
  • Os mecanismos económicos dos países ricos, que necessitam de mão-de-obra para o funcionamento das suas sociedades envelhecidas e acomodadas
  • E por fim, o caucionamento e a legitimação deste movimento pela componente generosa da nossa alma cristã ocidental, que faz esquecer as pulsões de sobrevivência e a ganância capitalista que lhe está na origem, bem como os riscos causados pela imigração ao equilíbrio das nossas sociedades.

Os movimentos migratórios são, como bem sabemos, uma característica eterna da humanidade desde que esta abandonou há milhões de anos o berço africano e se lançou na travessia dos espaços que a geografia terrestre oferecia. Ocupando terrenos livres ou expulsando os que já lá estavam, a História da Humanidade é uma constante de migrações. Durante muito tempo, os grupos humanos mantiveram-se em permanente movimento, mas, pouco a pouco, quando descobriram como tirar da terra um sustento permanente, foram-se sedentarizando, dando origem a mundos estáveis e magníficos. Nessas sociedade, o progresso surgiu através da organização da troca, com a criação da moeda e da escrita e com a imposição geral de uma ordem legal coerente. Só que todas estas notáveis realizações humanas acabaram, um dia, submergidas por invasões que as desestruturaram e destruíram, como aconteceu com o Império Romano.

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No caso da Europa do Séc. XX, as economias do centro – França, Alemanha e Reino Unido – foram um magnete para as populações desfavorecidas da periferia, nomeadamente Itália, Espanha e Portugal. Esgotado o filão europeu, apareceu o recurso à mão-de-obra do Norte de África e da Turquia, que deu lugar a núcleos habitacionais singulares que foram ganhando identidade e vida própria quando os países de acolhimento, movidos por preocupações humanistas, decidiram promover o reagrupamento familiar desses trabalhadores. O que começou por ser uma curiosidade exótica, tornou-se hoje num problema sem solução e com um efeito político corrosivo devastador.

Como os políticos tradicionais foram incapazes de resolver a situação, entraram em cena os obreiros do caos para cavalgar sem preconceitos a turbulência e o medo. Não sabemos como irão evoluir a França, a Alemanha e o Reino Unido. Mas na situação de bloqueio político em que se encontram, o futuro não é brilhante. Como se sabe, o desespero abre caminho à aceitação de soluções radicais. Vale a pena recordar que Hitler conseguiu convencer os alemães que a origem de todos os problemas se centrava na existência de raças inferiores no solo pátrio sagrado e que a solução que se impunha era a de exterminá-las. Com Trump, a América está numa fase recuada do processo, com o anúncio da mera expulsão em massa.

O nosso País, periférico e sem ostentar riqueza, foi até recentemente poupado às movimentações humanas que já descaracterizaram os países do centro europeu. No entanto, a política irresponsável e suicida dos últimos anos começa a produzir os seus efeitos. A abertura escancarada e indiscriminada a toda e qualquer imigração foi uma política amiga da economia, das explorações agrícolas e das plataformas de mobilidade, muito elogiada por comentadores televisivos que insistem em enaltecer o contributo positivo para as receitas da Segurança Social. O facto é que, entre 2015 e 2023, quase triplicou o número de estrangeiros com estatuto legal de residência, incluindo-se nestes tanto os asiáticos e brasileiros que aspiram a melhorar as suas vidas, como também os europeus e americanos que fogem das transformações sociais e políticas que a imigração infligiu aos seus países.

Portugal tem a obrigação de provar que possui a capacidade de assegurar a manutenção e resiliência do seu modelo cultural. Isto passa pelo uso central da língua Portuguesa, pelo respeito do nosso sistema jurídico e das nossas regras de convivência, nomeadamente com a abdicação expressa da imposição aos outros de valores religiosos. Quem invoca a sharia deve ser convidado a respeitá-la no país de origem.

Os que se designam de políticos tradicionais têm agora a opção de mostrar a sua utilidade – ou inutilidade – a uma sociedade que dizem representar. Se continuarem omissos nas questões essenciais e preferirem os duelos de semântica, os obreiros do caos saberão aproveitar as suas oportunidades.





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