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a primeira casa feita com uma impressora 3D em Portugal – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mar 29, 2024


É uma moradia de tipologia T2 com 90 m2, paredes cinzentas e rugosas, soalho de madeira, cozinha e casa de banho de tons claros, janelas grandes a deixar entrar a luz e a permitir uma vista maior para o jardim. Uma casa com uma arquitetura minimalista e moderna igual a tantas outras recém-construídas. Mas esta, localizada em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde, é a primeira casa impressa em 3D em Portugal, um projeto da empresa Havelar, fundada em 2023.

A casa demora 18 horas (não contínuas) a ser impressa — os trabalhadores que operam a impressora passam por uma formação certificada — e depois duas semanas a ser “construída”. “Depois da casa estar impressa, temos de a montar. A cobertura, as portas, a cozinha, são montadas em duas semanas”, explicou ao Observador Rodrigo Vilas-Boas, co-fundador da Havelar, acrescentando que apenas as paredes de betão são a 3D, o telhado e o soalho são convencionais.

Neste projeto, as paredes destacam-se das de uma casa “normal” porque não são pintadas, optou-se por deixar a textura do betão, em camadas, resultante do processo de impressão. Estas paredes escondem um outro segredo: uma camada de cortiça granulada para uma melhor otimização térmica – o que representa um fator diferenciador em Portugal, onde se estima que entre 1,8 a 3 milhões de pessoas vivam em situação de pobreza energética. Além disso, a moradia tem ainda climatização centralizada e abastecimento por fontes de energia renovável. O objetivo é que custe 150 mil euros ao cliente final, sem contar com o preço do terreno.

O preço é um dos atrativos que a Havelar — construtora cujo nome é uma combinação das palavras “have” (em inglês “ter”) e “lar” — procura apresentar com este projeto que cresceu de uma vontade de dar resposta à crise na habitação, enquanto contribui com soluções sustentáveis. “A nossa visão é criar uma solução para a crise da habitação com tecnologia que vai mudar a maneira de fazer casas no futuro, com alto nível de automação, com sustentabilidade – um pilar muito importante na nossa estratégia -, e com design”, confessou ao Observador Patrick Eichener, presidente executivo e também ele co-fundador da empresa. Em comparação à construção convencional, assegurou, a Havelar produz menos 80% de resíduos no processo de construção, é 70% mais rápida e 60% mais automatizada, por causa da robótica.

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As casas são construídas segundo um projeto de engenharia, com materiais e estruturas que cumprem as normas e regulamentos para o licenciamento de construção. O processo de produção, igualmente testado, cumpre metodologias e parâmetros de qualidade de forma a produzir estruturas resistentes.

Sobre a segurança estrutural da moradia, Rodrigo Vilas-Boas assegurou que a resposta está no betão. “É um material resistente sismica e termicamente, tem resistências físicas e propriedades que já estão muito testadas”. Além disso, acrescentou, o betão é um material durável e que está a tornar-se cada vez mais sustentável, permitindo à Havelar cumprir o seu objetivo de carbono zero até 2030.

A moradia de Vilar do Pinheiro é a primeira a ser construída em Portugal, mas não a primeira no mundo. A impressora usada em todo este processo é da Codob, parceira da Havelar, que já “fabricou” habitações com esta tecnologia em países como o Japão, a Argentina, a Colômbia e o Guatemala.

A impressora 3D funciona como uma “fábrica móvel”, que se desloca ao terreno para imprimir a casa num processo, como já se disse, que não é contínuo. Segundo dados avançados por Rodrigo Vilas-Boas as 18 horas necessárias a imprimir a casa são divididas ao longo de quatro dias. No total, contando com a impressão, com a montagem mas também com o licenciamento e infraestruturas, o representante da Havelar acredita que é possível construir cerca de 50 casas por ano. O objetivo, para 2024, é chegar às 30 ou 40 casas.

“O objetivo da Havelar é atuar no mercado da habitação acessível, e, por isso, a escala é fundamental”, reforça Rodrigo Vilas-Boas. “Estamos prontos para entrar no mercado. Esta é a casa protótipo, portanto, pode ser construída amanhã, em qualquer lugar”, promete.

O preço da habitação foi o que motivo Henrik Lund-Nielsen, presidente executivo da Codob, a embarcar nesta aventura. Depois de construir a sua própria casa, num processo que considerou caro e lento, virou-se para a construção a 3D, que assegura uma melhor otimização de custos e rapidez. Nesse sentido, o objetivo desta construção é reduzir as dificuldades existentes na construção tradicional, permitindo uma construção mais rápida e económica, e que atraia as gerações mais jovens para o setor da construção.

Isto porque, para o líder da Cobod, os mais jovens vão querer trabalhar com robótica. “Há falta de gente qualificada. Os jovens querem entrar na construção? Querem carregar sacos grandes? Não. Querem trabalhar com um portátil? Sim, isso é robótica. Por isso, os clientes [com quem trabalhamos] não têm problema em contratar gente qualificada. Mas outro empresário, que faça construção da maneira convencional, não consegue encontrar alguém que trabalhe para ele“, atirou.

Entre as vantagens da impressão 3D, Henrik Lund-Nielsen aponta a necessidade de menos trabalhadores, menor impacto ambiental e a maior flexibilidade no design da casa. Para já, existe uma limitação de até 3 pisos, mas nada que impeça o presidente executivo de assumir que a ambição é crescer até ao ponto destas casas serem comuns.

A Havelar, que emprega 10 pessoas, entre arquitetos e engenheiros civis, ambientais e de materiais, trabalha com arquitetos como Álvaro Siza Vieira e Manuel Aires Mateus. Também o gabinete Oada, conhecido pela sua preocupação com a sustentabilidade, consta na lista de parcerias.

Outros nomes são a arquiteta brasileira Glória Cabral – que ganhou o primeiro prémio de Pan American Biennial, na categoria de reabilitação e reciclagem -, Francis Kéré – conhecido por trabalhos sustentáveis e em harmonia com a natureza, em diversas geografias – e Kengo Kuma – nomeado em 2021 pela revista Time como um dos arquitetos mais influentes do mundo, conquistou nome pelo uso de materiais naturais e pelo seu trabalho em comunidades locais.

A empresa tem ainda protocolos de cooperação celebrados com a Faculdade de Engenharia e a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e com o Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha.



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