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Cortes acidentais, espionagem ou sabotagem. Os cabos submarinos podem ser armas de guerra? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mar 30, 2024

A Seacom, proprietária de uma das ligações que tiveram de ser redirecionadas, assumiu o “impacto nos negócios” de alguns dos seus clientes “em toda a África Oriental e Austral” em resultado dos cortes. De acordo com o Financial Times, a empresa afirmou estar “otimista” de que os cabos submarinos começassem a ser reparados durante o segundo trimestre deste ano, mas salientou estar “consciente da atual agitação na região”.

Nos primeiros dias de março, a Seacom admitiu, à CNN, que as reparações do cabo submarino afetado não vão começar este mês, devido, nomeadamente, ao tempo necessário para conseguir autorizações para fazer essas operações na região. A investigadora Sabrina Medeiros, em conversa com o Observador, explica que, por norma, se estima “em oito semanas o tempo médio de reparação dos danos de um cabo”. Isto acontece porque “todos os navios e suportes operacionais que têm condições para fazer o reparo demoram tempo a deslocar-se, identificar [os danos]” e também porque “nem todos os lugares são acessíveis”. “Se tivermos um problema em Carcavelos é uma coisa, se tivermos um problema em alto mar é outra”, exemplifica.

Foi a partilha num grupo de Telegram com ligações aos houthis de um mapa com as rotas dos cabos submarinos no Mar Vermelho que fez soar o alarme. O alerta chegou logo de seguida, de acordo com a BBC, quando o governo do Iémen, reconhecido pela ONU, levantou a hipótese de os rebeldes estarem a ameaçar sabotar essas ligações que são consideradas cruciais para a transferência de dados da Ásia para a Europa.

Quando, no final do mês de fevereiro, três cabos foram cortados no Mar Vermelho, os houthis negaram ter qualquer responsabilidade. “Não temos qualquer intenção de atacar cabos submarinos que fornecem internet aos países da região”, afirmou Abdel Malek al-Houthi, líder dos rebeldes, citado pela CNN.

De seguida, os Estados Unidos disseram que o arrastar da âncora do navio britânico Rubymar — que afundou após ser atacado pelos houthis — era o responsável pelos cortes. A Seacom considerou que esta teoria era “plausível” devido “à quantidade de tráfego marítimo que se verifica na região e ao baixo nível do fundo marinho em muitas partes do Mar Vermelho”. Porém, alertou que só será possível confirmar o que causou a disrupção nas ligações “quando o navio de reparação [dos danos] estiver no local”.

A consultora TeleGeography considera que “acidentes com âncoras de navio são responsáveis pela segunda causa mais comum de falhas de cabos submarinos”, logo atrás dos navios de pesca. Em declarações ao Observador, Sabrina Medeiros, que também é professora da Universidade Lusófona, reitera que as principais causas dos cortes são “naturais”, desde terramotos ao volume e força das próprias águas. Dentadas de tubarões já são mais raras.

A atividade humana é responsável pela maioria das interrupções


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A Anacom estima que a atividade humana seja responsável pela maioria das falhas do cabos submarinos, cerca de 70% das interrupções. De seguida, num documento que data de 2021 e intitulado “Cabos Submarinos num Mar de Conectividades”, surge o meio ambiente (com 18%).

Em terceiro lugar aparecem as falhas inerentes ao cabo, com 6%, a mesma percentagem que “outros” fatores que não são discriminados.

Ainda os cabos submarinos no Mar Vermelho não tinham sido cortados já a BBC dava como “quase certo” que os houthis os visariam se tivessem capacidade para tal. Como essas ligações estão fora do alcance de mergulhadores, uma vez que se encontram no fundo do mar, poucos são os países, como os EUA ou a Rússia, com capacidade para as comprometer. Na altura, quando chegou o alerta do governo iemenita, o contra-almirante John Gower, antigo comandante de submarinos da marinha britânica, considerou que a possível ameaça se tratava de um “bluff”, a menos que o alvo fosse um data center. Para sabotar os cabos, continuou, os houthis precisariam de “um aliado com capacidade para o fazer, [que tivesse] um submersível e a capacidade de localizar” os cabos.

Mesmo assim, no entender de Sabrina Medeiros, a “descoberta dos cabos submarinos por grupos anti-sistema, anti-Estado, que são uma fonte de insegurança para o sistema internacional, é absolutamente preocupante”. A especialista alerta que um possível ataque dos houthis aos cabos submarinos levaria a que deixasse de existir apenas um “caso de conflito doméstico”, dos rebeldes contra o regime do Iémen, para existir um “caso de ampla repercussão na geopolítica internacional” porque as ligações atingidas teriam “direta associação com a interrupção de comunicações com a Europa”. Além disso, avisa que ficaria em cima da mesa a possibilidade de serem mobilizados outros grupos, como o Hezbollah.



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