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“Atentado pode ser usado pelo Kremlin de forma cínica, mas eficaz”. Como Rússia, China e Coreia do Norte usam a propaganda a seu favor – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mar 31, 2024

Pode elaborar? De que forma é que a propaganda russa pode usar o atentado de sexta-feira no Crocus City Hall?
Quando não se tem moral e escrúpulos no que diz respeito a mentir aos cidadãos, pode ser extremamente útil. O ataque pode ser mostrado como uma prova do motivo pelo qual a fronteira tem de ser defendida e por que razão é necessário neutralizar a suposta ameaça da Ucrânia. Não me surpreenderia se começássemos a ver, na propaganda russa, que existe uma espécie de golpe do Ocidente. E há esta ideia: sim, os Estados Unidos avisaram sobre isto, mas foi porque os Estados Unidos estavam envolvidos e planearam isto?Além disso, os ataques terroristas que aconteceram em Moscovo quando Putin chegou a Presidente foram muito úteis a enviar a mensagem de que era por aquele motivo que a Rússia precisava de um líder forte. Assistiu-se a um esforço para centralizar o poder e investir mais nas forças de segurança.
Tudo isto pode justificar parte do argumento do Kremlin, mas desde que se ignore a realidade de que houve avisos que não foram levados a sério. E que muitas forças de segurança estão envolvidas na guerra na Ucrânia. Putin, na verdade, não está a fazer um bom trabalho em manter o povo russo seguro. Mas, desde que se consiga ignorar isso, penso que este atentado pode ser usado pelo Kremlin de forma muito cínica, mas muito eficaz, para mostrar que a Rússia está sob ataque e que é necessário defender-se.

No livro, explica como Josef Estaline utilizou a propaganda enquanto esteve à frente da União Soviética. Nota alguma semelhanças entre Estaline e Putin?
Acho que as semelhanças entre Estaline, Putin — e também Xi Jinping na China — são a paranóia total, um desejo total de controlo, de se quererem colocar no centro de poder, e não confiarem em ninguém. Os três também acreditam na sua versão de tornar a Rússia e a China grandes outra vez. Parece que eles se convenceram de que têm de assumir o cargo de imperador para atingirem isso. E, por isso, todos os passos que tomam justificam-nos com o facto de ser essencial ter um Estado forte e de terem um forte aparato de segurança.
Em relação a Putin e a Estaline, penso que a diferença crucial é que não vejo um componente de ideologia em Putin — que Estaline tinha. Penso que Putin está mais motivado em tornar a Rússia numa grande potência. E, contrariamente a Estaline, Putin não tem interesse em exportar o seu modelo de governação. Putin quer consolidar o poder e a soberania da Rússia, ao mesmo tempo que assegura o seu lugar na história como alguém que vai ser lembrado ao lado de Pedro o Grande, Catarina a Grande, Estaline. Putin quer ser um líder forte como aqueles.

É sobre legado.
Sim. É sobre legado. Penso que Putin considera que líderes como Gorbachev não têm desculpa, porque deixaram o poder escapar-lhes nas mãos. E penso que o Presidente se convenceu de que o seu legado e o seu papel é assegurar o poderio da Rússia nas próximas décadas. Ele vê-se como um grande homem da História e, por isso, os sacrifícios e dificuldades do presente são justificáveis. Acredito que ele pensa sobre como será lembrado e se estará nos livros de História.



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