Depois de O Declínio do Império Americano (1986) e As Invasões Bárbaras (2003), o veterano realizador canadiano Denys Arcand encerra a sua série de filmes sobre a decadência do Ocidente, e o estado do Canadá e do seu Québec natal, com Parece que Estou a +, cujo título original. Testament, é muito mais condizente com as suas intenções. Protagonizada por Jean-Michel Bouchard (Rémy Girard), um arquivista reformado que vive num lar e serve de alter ego a Arcand, esta comédia melancólica mas ácida atreve-se a satirizar todos as manifestações do fanatismo, da censura, dos ridículos e da ignorância woke (só a sequência da entrega dos prémios literários vale o filme), funcionando como um testamento da personagem principal e, através dela, do próprio realizador, bem como da nossa civilização sob ataque dos novos bárbaros. No final, além de uma notazinha de esperança, Denys Arcand acrescenta um remate brilhante e presciente sobre quem acabará por triunfar após toda esta confusão.
Considerado um dos expoentes do chamado slow cinema contemporâneo, o argentino Lisandro Alonso parece querer fazer um exercício de no cinema em Eureka, a sua mais recente realização. Começando por ser um falso (e muito tosco) western a preto e branco, o filme passa depois a centrar-se numa agente da polícia índia de serviço na reserva da sua tribo no Dakota do Sul, e na sua insatisfeita sobrinha adolescente, saltando a seguir para o mato no Brasil, envolvendo indígenas e pesquisadores de ouro. Não se passa quase nada ao longo de quase duas horas e meia nesta fita lentíssima, narcoléptica, opaca e formalmente pretensiosa, em que Alonso aparenta ter algo para dizer sobre a condição indígena, mas a verdade é que custa muito a detetar o que seja, além de alguns lugares-comuns desgraçados e “místicos”. Resta apenas perceber o que fazem Viggo Mortensen e Chiara Mastroianni neste sério candidato ao título de campeão da chatice cinematográfica da década.
O novo filme do nonagenário Roman Polanski (e que poderá também ser o seu último) foi escrito pelo realizador e pelos seus compatriotas, e velhos amigos e colegas, Jerzy Skolimowski e a sua mulher Ewa Piaskowska, e rodado “em casa” daquele, em Gstaad, na Suíça. A história desta comédia negra, satírica e anarquizante passa-se num hotel de luxo, no último dia de 1999, entre rumores apocalípticos sobre o Bug do Milénio, e para onde convergem, para celebrar a passagem do ano, uma série de personagens tão abastadas como ridículas e caprichosas. Ao serviço de toda esta humanidade decaída, mimada, venal e grotesca, está Hansueli, o competentíssimo e sofrido gerente do hotel, que coordena uma grande e sobrecarregada equipa e vai ter que acudir às mais insólitas e desvairadas emergências dos seus hóspedes. O Hotel Palace foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.