Chama-se Identidade e Família e reúne um conjunto de textos de várias personalidades da vida pública portuguesa “sobre a importância de um pilar central da vida em sociedade: a família”. O livro, à venda desde o dia 12 de março, vai ser esta segunda-feira apresentado pelo ex-primeiro ministro Pedro Passos Coelho.
Identidade e Família – Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade é uma obra coordenada pelos quatro fundadores do Movimento Acção Ética – António Bagão Félix, Pedro Afonso, Paulo Otero e Victor Gil, e fala da família como “natural, universal e intemporal”, valores que não se alteram, “apesar da mudança constante da sociedade”.
O livro, editado pela Oficina do Livro, conta com contributos de 22 figuras como Jaime Nogueira Pinto, Manuel Clemente, Manuela Ramalho Eanes, João César das Neves, Isabel Galriça Neto, Guilherme D’Oliveira Martins ou José Ribeiro e Castro, “autores, que, no seu conjunto, contribuem para um perfil ético da vida em sociedade, salientando em particular a instituição familiar”, lê-se na nota de imprensa.
A obra aponta o dedo à “cultura de morte”, avança o jornal Expresso, citando um excerto da introdução do livro: “Não podemos desvalorizar os adversários da família, umas vezes mais à luz do dia, outras vezes de um modo mais subtil e larvar, mas nem por isso menos dissolvente. Importa valorizar a família enquanto a primeira instituição contra o relativismo ético, a indiferença e a licenciosidade, a propagação anestesiante da cultura de morte, o positivismo hedonista, o egoísmo geracional, o individualismo predador, o subjectivismo e o fundamentalismo a-histórico.”
Entre os testemunhos está o de Pedro Vaz Patto, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, que, segundo o mesmo jornal, se insurge contra o casamento homossexual ou a legislação “que facilita o divórcio”, ou o do economista João César das Neves, que questiona a “certeza” de que “ao longo dos séculos a mulher foi sucessivamente oprimida e desprezada”.
O volume também critica a “chamada ideologia de género”. “Estamos assim perante um movimento ideológico com impacto na família, na educação, na socialização, na comunicação. A ideologia de género não é promotora da liberdade ou acolhedora da diferença, mas impositora de um novo modelo de pensamento único, comprometendo o desenvolvimento humano fundado em valores, formado na liberdade e autonomia e vocacionado para a felicidade”, consta num parágrafo citado pelo Expresso.
A expressão “ideologia de género” não é reconhecida por todos os académicos, que preferem utilizar antes “identidade de género”. O termo surgiu em textos doutrinários da Igreja Católica em 1997, escritos pelo então cardeal e futuro papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, de acordo com um artigo dos investigadores Richard Miskolci e Maximiliano Campana, da Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina, e publicado em 2017 na Revista Sociedade e Estado, editada no Brasil. Desde então, a expressão tem sido utilizado por grupos conservadores como expressão depreciativa das ideias veiculadas por grupos feministas ou de defesa da diversidade e sexualidade.