O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, nunca escondeu a sua opinião sobre a guerra na Ucrânia. O líder eslovaco considera que o conflito tem de terminar em negociações, mesmo que as condições não sejam favoráveis para Kiev. Anunciou igualmente que vetaria a entrada do país na NATO e promete levantar obstáculos à entrada ucraniana na União Europeia.
“Tem de haver algum tipo de acordo, que será muito doloroso para ambas as partes. O que esperam? Que os russos deixem a Crimeia, Donbass e Lugansk? Não é realista”, disse Robert Fico numa entrevista de rádio em janeiro de 2024, assegurando que havia uma “normalidade absoluta” em Kiev. Recorde-se que o veterano político chegou (novamente) ao cargo de primeiro-ministro da Eslováquia em setembro de 2023 e envergou uma bandeira eleitoral durante a campanha: que terminaria com o apoio militar à Ucrânia. Assim o fez.
Apesar disto, após ser eleito chefe de governo, Robert Fico tem tentado manter as relações com a Ucrânia de forma cordial. Mas o primeiro-ministro eslovaco nunca escondeu as suas tendências pró-russas, sendo um dos principais defensores da Rússia na União Europeia.
Já esta quarta-feira, Robert Fico foi alvejado por um homem de 71 anos no final de uma reunião entre membros do Governo eslovaco. Logo após o episódio, surgiram várias publicações nas redes sociais que associavam a tentativa de assassinato de Fico à liderança ucraniana. Numa delas, lê-se que o atentado contra o primeiro-ministro eslovaco poderá não ter sido uma “coincidência”.
Mas depois relaciona-se o facto de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter “cancelado todas as viagens ao estrangeiro” nos próximos dias — incluindo a Portugal e Espanha — para provavelmente se “concentrar” na operação que levaria ao ataque contra um dos chefes de executivo mais pró-russo na Europa. Na publicação questiona-se mesmo o “porquê” de o Chefe de Estado ter cancelado as duas visitas oficiais.
“Esta é a parte do filme onde uma personagem sussurra à outra: ‘Acho que se está a passar alguma coisa’”, lê-se na mesma publicação, que partilha um link para uma notícia do jornal norte-americano The Hill.
Ora, as autoridades eslovacas não escondem que houve “motivações políticas” no ataque que visou Fico — e que o deixou em estado crítico. Mas relacionaram-nas sempre com a política interna eslovaca, altamente polarizada, e nunca com um país estrangeiro. O ministro da Administração Interna, Šutaj Eštok, apelou ao “público, aos jornalistas e todos políticos” que parem de “espalhar ódio”. “Estamos perto da guerra civil”, avisou numa conferência de imprensa.
Além disso, o atirador já foi detido. Trata-se de Juraj Cintula, um poeta de 71 anos, que estará ligado a movimentos políticos de esquerda. Num vídeo partilhado nas redes sociais, o homem revela a sua insatisfação com a vida política eslovaca, principalmente pelo encerramento da televisão estatal, RTVS. “Não concordo com a política do governo. Por que razão estão os media a ser liquidados, porque está a RTVS [Rádio e Televisão da Eslováquia] sob ataque?”, questionou, lançando ainda críticas à pressão do governo sobre o poder judicial.
Zelensky cancela visita a Portugal e Espanha por causa da ofensiva russa em Kharkiv. Estaria menos de 24 horas em Lisboa
No que diz respeito a Volodymyr Zelensky, o Presidente da Ucrânia justificou o motivo pelo qual adiou a viagem a Espanha, onde se ia encontrar com o Rei Felipe VI e com o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, e a Portugal: o estado do conflito em redor de Kharkiv. A Rússia começou uma ofensiva naquela região e está a conseguir obter avanços, controlando algumas aldeias perto da fronteira, o que está a preocupar as autoridades ucranianas.
“Volodymyr Zelensky instruiu que todos os eventos internacionais marcados para os próximos dias sejam adiados e que sejam coordenadas novas datas”, escreveu o assessor Sergii Nykyforov, no Facebook. Esta quinta-feira, o Presidente ucraniano visitou a linha da frente em Kharkiv.
I met with the warriors of the 92nd Assault Brigade “Ivan Sirko,” who are defending the Kharkiv region. I was briefed by the brigade commander and presented state awards to our fighters.
I thank them for their strength and commitment to defending Ukraine.
???????????????????????? pic.twitter.com/vCkjH9cxDz
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) May 16, 2024
Conclusão
Não é verdade que Volodymyr Zelensky tenha cancelado as visitas ao estrangeiro para se focar no atentado que feriu com gravidade o primeiro-ministro eslovaco, que continua em “estado crítico”. As autoridades eslovacas dizem que se tratou de um ato com “motivações políticas” de um “lobo solitário”, mas relacionadas com a política interna do país, nomeadamente com o encerramento da televisão estatal. Paralelamente, o Presidente ucraniano cancelou as viagens a Portugal e Espanha pela situação difícil que as tropas ucranianas enfrentam em redor de Kharkiv, região em que a Rússia começou uma ofensiva.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
