O segundo round está cada vez mais próximo: apenas dois meses depois de umas eleições legislativas que deixaram a Aliança Democrática e o PS a menos de um ponto de distância, o PS prepara-se para tentar uma espécie de desforra nas eleições europeias — já de olhos postos no futuro. No topo do partido, a ideia de que o Governo está numa situação periclitante e pouco “segura” está a vingar. E isto leva o PS a colocar uma fasquia exigente a si próprio, fazendo da vitória europeia “uma questão vital” para a sua própria estratégia.
O mote foi dado pelo próprio líder do partido, quando subiu ao palco da apresentação do manifesto eleitoral socialista, na quinta-feira passada, para falar longamente de temas nacionais e parlamentares, já depois de a cabeça de lista, Marta Temido, ter feito a explicação das propostas europeias em concreto. Depois, e numa altura em que o discurso já ia no habitual crescendo rumo ao minuto final, Pedro Nuno Santos tomou balanço, ouviu os aplausos e disparou: “Vamos ganhar as europeias para logo a seguir ganhar Portugal“.
A frase final dos discursos, ouvida já por entre aplausos, presta-se naturalmente a euforias — mas neste caso a proclamação de Pedro Nuno é, mais do que uma tirada motivadora, uma ideia concreta. Dentro da direção do partido e da lista para a Europa, assume-se que o PS já conta com a “alta probabilidade” de se deparar com um calendário eleitoral mais curto do que seria normal.
Por isso, Pedro Nuno Santos fez o seu all in: tomou a iniciativa de nacionalizar as europeias, colocando para si próprio uma fasquia alta. “Está a contar com eleições antecipadas. E fez da vitória uma questão vital“, resume um socialista ao Observador. “[A queda do Governo] pode acontecer a qualquer momento”, acrescenta um dirigente próximo de Pedro Nuno Santos.
Para já, a meta está fixada. “A frase de Pedro Nuno tem significado. A meta é ganhar“, resume um dirigente. “Temos de repetir o resultado das últimas eleições”, ou, pelo menos, “ganhar nem que seja por um”, acrescenta outro — nas últimas eleições europeias, em 2019, o PS conseguiu uma vitória clara, com 33,38% dos votos, contra os 21,94% do PSD (que então concorreu sem o CDS, que conseguiu 6,19%). O resultado traduziu-se numa delegação de nove eurodeputados para o PS e seis para o PSD (e um do CDS).
Em teoria, esse resultado poderia significar que o PS teria mais a perder, mas na cabeça dos socialistas joga-se com uma mistura de fatores, a começar pela fragmentação à direita. Com dois novos partidos à porta do Parlamento Europeu (Chega e Iniciativa Liberal), a vida da AD pode ver-se mais complicada. No caso do PS, há um novo concorrente, o Livre, o único partido de esquerda que cresceu nas legislativas de março; mas os outros dois vizinhos, BE e PCP, têm registando uma tendência de perda nos últimos ciclos eleitorais.
A matemática otimista do PS junta isto à “fragilidade” e “postura arrogante” que o PS vê no Executivo de Luís Montenegro — ou seja, aos defeitos próprios do Governo — e às virtudes da lista do PS — Marta Temido continua a ser vista como um trunfo eleitoral, apesar de depois do primeiro debate a própria antiga ministra ter admitido que, apesar de se preparar intensivamente para todos os temas, os europeus ainda não são a sua praia (ou pelo menos não são aqueles que trabalhou durante “20 ou 25 anos”).