Um pouco mais a sul, na delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Coimbra, a ucaniana Olena Petryk dá apoio a cidadãos do seu país — e são mais de trezentos naquela cidade. A mediadora na área da saúde mental do EU4HEALTH fala ucraniano e russo, traduz o que é necessário, ajuda na burocracia, na Segurança Social, no centro de emprego, nas unidades de saúde, nas questões com a AIMA (anterior Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). E vai às escolas e assiste a reuniões de pais — ainda há pouco tempo foi chamada por causa de uma situação de bullying de uma jovem ucraniana. “Tento resolver todo o tipo de problemas. O sofrimento emocional é um problema, na Ucrânia ficaram maridos e filhos, alguns infelizmente morreram. É muito difícil lidar com isso.”
O estado psicológico dos deslocados ucranianos é frágil. “A saúde mental está bastante debilitada.” Olena Petryk fala em ataques de pânico, depressões, ansiedade, tristeza, frustração, desespero. Lembra-se de crianças que fogem para debaixo das camas quando ouvem uma porta a bater ou alguém a falar um pouco mais alto. Da dor e do desespero de adultos, idosos, famílias que tiveram de fugir. O seu trabalho passa essencialmente por escutar e ajudar. “Ouvir e acalmar para que se sintam tranquilos e apoiados. É muito importante que ganhem confiança outra vez. Confiança neles e na vida.”
Em Fafe, durante a formação, Sónia Antunes, socióloga na Segurança Social, recebe um telefonema. Tem de atender. Um senegalês está com uma dor de dentes, não sabe o que fazer, ela dá indicações. Trabalha no atendimento a refugiados da Ucrânia e a requerentes de proteção internacional do Senegal e da Mauritânia. As histórias que escuta têm pontos em comum, preocupações que se tocam. Mulheres com filhos e maridos a combater contra militares russos, gente que ficou sem casa e perdeu tudo o que tinha, quadros de ansiedade e tristeza profunda.
A formação do projeto europeu abre-lhe outras perspetivas. “Faz-nos perceber quem nem sempre temos a postura correta a dar resposta a necessidades para o futuro, a desenvolvermos o que a pessoa está a sentir no momento”, diz a socióliga. “Tudo é importante, o discurso, a empatia, o ouvir com mais atenção e deixar as pessoas exporem os seus sentimentos.”