Estima-se que cerca de 24 mil portugueses sejam afetados pelas doenças inflamatórias do intestino (DII), um grupo de doenças do trato gastrointestinal ao qual pertencem a doença de Crohn e a colite ulcerosa. Em ambos os casos, tratam-se de doenças crónicas, autoimunes e sem cura, que provavelmente resultam de uma interação complexa entre vários fatores: genéticos, ambientais e uma resposta inadequada do sistema imunitário.
No caso da colite ulcerosa, a inflamação atinge o reto e o cólon (intestino grosso), sendo que o processo inflamatório habitualmente se estende de forma contínua do reto ao cólon e restringe-se à camada mais interna do intestino, também denominada de mucosa. Por sua vez, a doença de Crohn pode atingir qualquer segmento do tubo digestivo, desde a boca até ao ânus, de forma descontínua, intercalando zonas de inflamação com zonas saudáveis.
Dor abdominal, urgência fecal, diarreia (com sangue no caso da colite ulcerosa), perda de peso e cansaço… São apenas alguns dos sintomas da DII, que pode ainda ter manifestações extraintestinais, envolvendo outros órgãos além do intestino. Nos casos moderados a graves, o impacto na qualidade de vida pode ser significativo, com atividades simples do dia-a-dia a tornarem-se desafiantes ou até mesmo impossíveis.
A DII tem uma elevada morbilidade e implica assistência médica contínua, internamentos recorrentes, deslocações para consultas e exames, e, consequentemente, ausências laborais e perda em produtividade. Um estudo recente demonstrou que, em Portugal, entre custos diretos e indiretos, gastam-se anualmente 146 milhões de euros com a DII, o que corresponde a cerca de 6.075 euros por doente. Um outro estudo revelou que 33% das hospitalizações são, de facto, re-hospitalizações.
E de facto, felizmente, nos últimos anos, foram aprovados pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) novos medicamentos para o tratamento da DII, que são mais eficazes e com um perfil de segurança bem caracterizada. Tratamentos capazes de controlar não só os sintomas, mas a inflamação em todas as suas vertentes, e de promover a remissão da doença a longo prazo, reduzindo internamentos, cirurgias e complicações tardias.
Este é um momento de grande entusiasmo para os gastroenterologistas, pois os novos tratamentos podem permitir um melhor controlo da doença, prevenir a sua progressão, evitar dano intestinal irreversível e, principalmente, devolver aos doentes uma vida digna e com qualidade. Se tudo isto é possível hoje, a nossa ambição não pode ser menor. Urge ter acesso a medicamentos inovadores e é nossa obrigação garantir que os doentes Portugueses possam usufruir de todas as opções terapêuticas.