Passaram dois anos desde que Rita Rocha Silva vestiu a pele de Leila em Lua Amarela, peça do escocês David Greig encenada pelos Artistas Unidos que lhe valeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Teatro. Na mesma categoria competiam nomes consagrados da representação nacional: Carla Maciel, Dalila Carmo, Joana Bárcia, Rita Blanco. O ar estupefacto que se exige aos vencedores apoderou-se do rosto da jovem de 28 anos que, de estatueta na mão, em direto em horário nobre, acabaria por dizer: “Isto parece um bocado sonho. Ninguém me conhece muito bem”.
“Não sou uma pessoa de me deixar deslumbrar pelas coisas facilmente. Mas naquele entusiasmo de tantas mensagens, tantas chamadas depois… Se a tua família, os teus amigos, toda a gente, se criam essas expectativas em ti, há um momento em que quase acreditas que vai correr tudo bem. E se a coisa não corre assim tão bem, como não correu logo, ficas um bocadinho… Sem chão.” Sentada num banco de jardim, no meio da azáfama da cidade, Rita Rocha Silva, 30 anos feitos, reflete sobre o prémio com que muitos sonham uma vida inteira.
“Venho de um meio mais pequeno em que [o Globo] é um feito enorme. Não estou a desvalorizar de todo, fico feliz e agradecida por ter tido esse reconhecimento. Mas também sinto que me trouxe alguma pressão. Não tanto de mim própria, mas do que os outros começaram a dizer do que achavam que poderia acontecer a seguir. ‘Agora é que não sei o quê…’ Agora nada, está tudo igual”.
Não choveram trabalhos, não se tornou uma celebridade, não deixou de ter de trabalhar em bares para pagar as contas. Depois do Globo, “a vida continuou.” Desde então, a atriz têm-se mantido discreta, mas com participações consistentes em projetos que a estimulem. Como é o caso de Se te portares bem, vamos ao McDonald’s!, peça de Mário Coelho, em cena no Teatro Ibérico, em Lisboa, desde sexta-feira até este domingo. Trata-se de uma reposição de um espetáculo que, em 2022, esteve esgotado em todas as récitas no Teatro do Bairro Alto. Rita é a protagonista, uma jovem que trabalha numa empresa que disponibiliza pessoas que se fazem passar por outras. Coube-lhe o serviço de ir substituir uma criança que morreu, convivendo com a família em luto. “É dos espetáculos mais desafiantes que já fiz. É uma viagem de duas horas em que passo por muitas emoções. É um processo muito intenso, há um desgaste físico e mental muito grande, mas é um sítio que eu adoro trabalhar”. No palco sente-se realmente “livre”, diz, e é um porto “seguro” o que encontra ao trabalhar ao lado de Mário Coelho, autor e encenador do espetáculo com quem partilha amizade.