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“Namorar é muito mais importante do que estudar”. Publicação exclusiva de excerto do novo livro de Eduardo Sá – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 19, 2024


Quem tem o papel mais difícil, os pais ou os filhos adolescentes? Em “Adolescentes – Manual de Instruções”, o psicólogo Eduardo Sá quebra mitos e desfaz nós que, afinal, podem ser mais simples de desatar do que se imagina. As respostas para a tensão entre adolescentes e pais estão, por vezes, no ato simples de escutar o outro. Isso fica bem patente no excerto que publicamos em exclusivo do novo livro, lançado esta semana, do autor e anfitrião do podcast da Rádio Observador “Porque Sim Não é Reposta”.

“Namorar é muito mais importante do que estudar”. A frase, que retirámos do excerto que aqui publicamos, pode aterrorizar alguns pais, ou a maioria, mas é preciso lê-la no contexto. Neste capítulo com o título: “É chato, de verdade, ser adolescente”, Eduardo Sá guia-nos através das muitas dúvidas que temos nesta fase da vida. O plural é aqui propositado para conter o nós (pais) e o eles (filhos). Nós (pais) damos mostras de esquecimento sobre o que já vivemos quando nos interrogamos perante os “encontrões” que eles (filhos) nos dão. Porém, como pergunta Eduardo Sá neste livro, “mas, afinal, quem sofre de défices de atenção, serão eles ou (quem sabe?) nós?”

Eduardo Sá é psicólogo clínico e psicanalista. Tem dedicado grande parte da vida profissional ao acompanhamento de crianças, adolescente e claro, dos pais. Podemos ouvi-lo no “Porque Sim Não é Resposta”, o podcast da Rádio Observador, que vai para o ar de segunda a sexta depois dos jornal das 16h e lê-lo nos artigos publicados aos domingos no Observador. Eduardo Sá é um dos nomes mais respeitados na psicologia em Portugal. É professor da Universidade de Coimbra e do ISPA, em Lisboa. É autor de artigos e livros científicos na área da psicanálise e da psicossomática, bem como, de divulgação de boas práticas de saúde mental e parentalidade.

A capa de “Adolescentes — Manual de Instruções”, o mais recente livro de Eduardo Sá (Lua de Papel)

“Mas, vendo bem, os adolescentes são pessoas que valem, realmente, a pena. Eu gosto dos adolescentes! Do seu lado leal e sério, quando conversam. Mesmo quando são demagógicos, todos os dias. Gosto da forma enxofrada com que nos põem à prova e, como se fosse uma montanha russa, vão do Rezingão ao Calimero num quase-nada. E gosto da forma como resistem a conversar (quando nos imaginam como agentes duplos, trabalhando para os pais) e do modo como quase se irritam por não conseguirem conter um sorriso, depois de sermos irónicos para com eles. E do flash com que vão de certinhos a insolentes e esperam, por parte daqueles que admiram, pelas regras e pelos argumentos que, logo a seguir, desbobinam sobre os irmãos mais novos, como se tivessem pensado nas coisas com método e delicadeza. E gosto do modo como abraçam causas e ignoram o que é enfadonho. E rebuscam os slogans. Quer quando se dizem desmotivados (como se isso fosse uma virose, indiferente ao modo como não nos sentem motivados para os conhecer e resgatar) como quando bloqueiam (que é uma forma, com efeitos especiais, de falar do medo de falharem, de não serem capazes e, até, do medo de ter medo, que parecem interditos a qualquer burocrata de mochila). E gosto finalmente, do lado batoteiro com que vão a jogo, na escola e fora dela. E comem a relva (e jogam com a cabeça, com o corpo e com a alma), sempre que sentem que ganham de caras. Ou se refugiam na culpa, na preguiça ou na burrice (dos outros!), sempre que o empenho, o brio, a garra ou a tenacidade se constipam ou mal evitam competir com um colega ou fogem de medir forças com um adulto.

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Eu gosto dos adolescentes. Mesmo quando reconheço que é tudo o que é importante e precioso leva tempo e se costura com imensos erros. E aquilo que lhes exigem parece não contar com nada disso. Depois, porque ligar as relações sociais, é muito confuso, a ponto de não se saber como se pode gerir A seguir, porque todos lhes exigem este mundo e o outro enquanto que, aos 12, a puberdade os desformata e, aos 14, a sexualidade, ao bater na cabeça, só os complica.



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