Mas, para Khamenei e para a elite, isso pouco importava, já que Raisi dava sinais de estar disposto a seguir a atual linha conservadora do regime: “Acima de tudo, ele era um produto do regime. Era um ideólogo que trabalhou dentro do sistema e através do sistema”, resumiu Vakil.
Essa lealdade à corrente atual, mais conservadora, num regime nascido da Revolução Islâmica de 1979, deu vantagem a Raisi na corrida para Líder Supremo. A maioria dos pesos-pesados apontados ao longo dos últimos anos ou morreram (como o ex-Presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani e Mahmoud Shahroudi), ou caíram em desgraça (como o ayatollah Sadeq Larijani), como notava em 2022 um ator da cena política iraniana que mantinha o anonimato. Os moderados (como o ex-Presidente Hassan Rohani) deixaram de ter lugar no contexto atual do regime, cada vez mais radicalizado.
Sobrava assim Raisi e uma outra carta fora do baralho, que agora surge como a escolha mais provável: Mojtaba Khamenei. Mas na política iraniana nada é assim tão simples. E o filho do atual Líder Supremo também enfrenta dificuldades.
Com 55 anos, o segundo filho de quatro do ayatollah Khamenei tem os pergaminhos certos para encaixar no perfil pretendido atualmente pelo regime. Aos 17 anos, entrou no Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica e combateu na guerra Irão-Iraque, inserido no batalhão Habib — conhecido como uma das fações do Exército iraniano defensoras de um islamismo mais radical, como notaram os académicos Saeid Golkar e Kasra Aarabi num artigo publicado no Atlantic Council. Durante os anos 2000, Mojtaba fez os seus estudos como clérigo, orientado pelo ayatollah Mohammad Taqui Mesbah-Yazdi, um teólogo tão radical que, notam os mesmos autores, emitiu uma fatwa contra os jovens iranianos que promovessem “a imoralidade ocidental” — leia-se, pena de morte para quem fosse infiel.
Nos últimos anos, Mojtaba tem ocupado um papel central dentro do Beit-e Rahbari, o gabinete da Autoridade da Liderança Suprema. Na prática, isso significa que trabalha diretamente para o pai, num cargo de enorme autoridade que supervisiona todos os ramos políticos e judiciais do país. A sua nomeação como Líder Supremo seria, por isso, uma aposta na continuidade.