O PS tinha prometido que contaria com Pedro Nuno Santos em “permanência” na campanha eleitoral e o secretário-geral socialista foi ao primeiro comício da volta nacional para começar a cumprir a promessa. Em Almada, o líder do PS fez questão de trazer ataques contra o Governo em toda a linha, acusando Luís Montenegro de estar em “campanha permanente” ou até de improvisar Conselhos de Ministros para dar a ideia de que não está a ser ultrapassado pelas medidas que o PS consegue aprovar a partir da oposição.
“Em Portugal temos um Governo que vive em intenso combate com o Governo anterior”, começou por atacar, acusando o Executivo atual de não se ter importado que o país passe uma “vergonha” a nível europeu quando criticou sem fundamento a “saúde” das contas públicas ou quando disse que Portugal estaria em risco de ser suspenso no espaço Schengen, cenário desmentido por Bruxelas.
Para o secretário-geral do PS, o tal “combate” ao legado do Governo Costa também se vê na pressa do novo Executivo em ir improvisando Conselhos de Ministros (esta segunda-feira aconteceu mais um, que serviu também para reverter medidas do PS na Habitação), uma prova de que o Governo estará “em permanente campanha”.
Aqui, o líder socialista entrou em registo sarcástico e começou a enumerar as razões pelas quais diz que o Executivo sente necessidade de convocar estas reuniões, desde “estar a ser ultrapassado pelos partidos da oposição” a constatar que o PS tem “um agendamento no Parlamento” para aprovar medidas, passando por “más sondagens” ou por uma “má performance” de Sebastião Bugalho, cabeça de lista da AD, na televisão.
Em resumo: para Pedro Nuno Santos, o Governo não tem apresentado uma estratégia coerente, mas olhando para as suas medidas é possível perceber “para quem governa” — segundo o PS, tanto os moldes da redução do IRS proposta pelo PSD como as da redução do IRS Jovem beneficiam quem mais ganha, pelo que o líder socialista concluiu: “Nunca nos enganaram. Querem o voto da maioria do povo para governarem para a minoria”, uma “diferença enorme” entre as visões de sociedade e de formas de “estar na vida” entre AD e PS: “Não governamos, nunca governámos nem nunca governaremos para a minoria, mas para a maioria esmagadora do povo”.
Pedro Nuno Santos aproveitou ainda esta intervenção para criticar o Governo por não explicar “o que quer para a economia portuguesa” — além de baixar o IRC, “sabemos zero” — e para puxar pela sua cabeça de lista, Marta Temido. “A Marta tem-nos representado tão bem. É a maior, a mais alta das candidatas”, começou por dizer, aludindo depois à presença da candidata nas ruas. “Não é apenas uma candidata que se dá bem com o povo, como se fosse coisa de menor. Dá-se de facto”, tem uma relação que é “uma mais valia” para a candidatura, argumentou.
[Já saiu o terceiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio e aqui o segundo episódio.]
E “as relações com os outros não se constroem do nada”, acrescentou: se Temido é boa na rua, isso é “fruto do trabalho dela” e da relação que construiu com os portugueses. “É trabalho em contexto difícil, foi testada como poucos e os portugueses não esquecem”. Assumindo, ainda assim, que ser eficaz no contacto de rua não chega para ser candidata, acrescentou que graças à sua experiência governativa Temido tem uma experiência — também ao nível do conhecimento das instituições europeias — que nenhum outro cabeça de lista tem.
Quem discursou antes de Pedro Nuno Santos foi a própria Marta Temido, que começou por focar-se em três principais prioridades do PS nestas eleições. Por um lado, começou, é preciso responder à Habitação a nível europeu: “A Europa não é uma ideia abstrata e temos o direito de reclamar que esteja mais próxima das nossas vidas e que nos ajude”, defendeu.
E argumentou a fator do Plano Europeu para a Habitação Acessível proposto pelo PS e de u m mecanismo de investimento permanente em habitação permanente na UE, lembrando que Portugal — mesmo após oito anos de governação socialista — tem 2% de Habitação pública e que a média da UE é de 11%: “Há muito para fazer”. Rematou acusando a direita de preferir, ao invés de investir na Habitação, “gastar dinheiro em muros” do “medo e do ódio” para “proteger fronteiras.
Temido frisou ainda a importância de dar respostas europeias ao nível dos jovens e do emprego. E concluiu com aquela que tem sido uma das traves mestras do discurso do PS, garantindo que “há muito que está em risco“, incluindo os valores de base da Europa, nestas eleições. “Não estamos a acenar com o fantasma do medo, estamos a ser realistas e pragmáticos”, garantiu, rematando: “Não aceitamos que nos imponham mais desigualdades, ou estigmas, ou medos, ou ódios”.
Já o discurso da número três da lista, a ex-ministra Ana Catarina Mendes, teve pontos de contacto com essa mensagem de Temido, uma vez que começou logo por garantir que o PS avança para estas eleições “sem medo para combater a extrema-direita e para que vença a liberdade e a democracia na Europa”.
Por entre elogios a Temido — “não poupou esforços para salvar vidas” –, a candidata socialista quis marcar diferenças entre o PS e a direita, frisando as respostas diferentes dadas a crises diferentes — da resposta de austeridade dada quando Durão Barroso estava na Comissão Europeia, na altura da crise das dívidas soberanas, à resposta “solidária da pandemia.
Também foi buscar as votações de PSD e CDS, que “não acompanharam” o PS na Europa para baixar as taxas de juro na Habitação, para criticar a proposta da AD de incluir a Habitação entre os direitos fundamentais na UE. E tocou num dos pontos que os socialistas e toda a esquerda têm atacado com mais veemência — a recusa da AD em incluir o aborto na carta dos Direitos Fundamentais — para concluir: “Os direitos fundamentais são para respeitar, não para fazer campanha e enganar os portugueses, como Sebastião Bugalho está a fazer”. A partir daí, garantiu que com o PS não haverá retrocessos nos direitos sexuais e reprodutivos.
Mais uma vez numa lógica de contrastes, e de ataque tanto à direita como à extrema-direita, Ana Catarina Mendes falou ainda numa visão “solidária e humanista” para a imigração, concluindo que o que está em causa nestas eleições é o projeto de democracia na Europa.
“Não escolham a extrema-direita boazinha ou má. Não há extrema-direita boa. Esteve toda reunida em Madrid há 15 dias a ameaçar o projeto europeu”, atacou. “Os socialistas e democratas têm obrigação de erguer a sua voz contra aqueles que fazem um ataque sem precedentes à nossa democracia”. E rematou com uma mensagem a propósito da visita de Volodymyr Zelensky a Portugal: “Apoiamos sem nenhuma tibieza o processo de integração da Ucrânia na UE”, rematou.