Paulo Raimundo e João Oliveira atiraram esta segunda-feira contra os últimos governos por cederem às imposições europeias, causando a estagnação dos salários em Portugal. O secretário-geral socialista participou esta segunda-feira numa sessão pública comemorativa dos 50 anos da criação do Salário Mínimo Nacional, e criticou quem quer “falar de tudo menos do fundamental” na campanha para o Parlamento Europeu, sobretudo sobre o aumento geral dos rendimentos. No discurso de encerramento da iniciativa, Raimundo garantiu que os futuros deputados eleitos pela CDU não vão permitir que a questão fique arredada de Bruxelas.
Além dos governos da Direita e do PS, que de acordo com o líder comunista, só não subiram os salários a nível nacional por opção política, também Christine Lagarde foi alvo das críticas do líder do PCP. “É falso que os salários não aumentam para travar uma espiral inflacionista, como diz a senhora Lagarde, com os seus acólitos de lá e os seus acólitos de lá”, atirou. Deu depois o exemplo da diferença entre o crescimento dos lucros e dos salários para comprovar a afirmação: “O ritmo de crescimentos dos lucros líquidos em relação ao crescimento dos salários reais foi 33 vezes superior. Não é para travar a inflação que os salários não aumentam. É para garantir a acumulação dos lucros do grande capital”.
Nesse sentido, Raimundo acusou ainda o atual Governo de se assemelhar ao “conselho de administração dos interesses do capital”, concluindo que Luís Montenegro está mais interessado em governar para mais ricos, que “dominam e que se acham os donos disto tudo”.
Antes do secretário-geral do PCP, já João Oliveira tinha discursado para destacar a criação do salário mínimo como uma das maiores conquistas do 25 de Abril. 50 anos depois, afirmou o candidato da CDU, é mais importante do que nunca valorizar essa conquista, o que não considera estar a ser feito pelos últimos executivos. “A política de direita executada pelos governos do PS, PSD e CDS sob orientação e de forma submissa às políticas da União Europeia têm empurrado o país para o caminho contrário: da desvalorização do salário, do empobrecimento dos trabalhadores e do agravamento da divergência face aos salários dos países mais desenvolvidos”.
Face a este cenário, e tendo em conta os 50 anos da criação do salário mínimo em Portugal, João Oliveira deixou um recado para a Europa: “Quando nos perguntam se, ainda assim, não estamos melhor por causa da União Europeia, é importante lembrar que o 25 de Abril não começou em Bruxelas, e que o salário mínimo não foi criado por uma diretiva da União Europeia”. Por tudo isto, concluiu que a política da direita não só está na origem dos principais problemas do país como é “inseparável do processo de integração capitalista europeu”. “São duas faces da mesma moeda”, garantiu.
Mas as críticas de João Oliveira não vão apenas para a questão dos salários. O candidato participou também numa sessão sobre cultura organizada pela CDU, em Lisboa, onde assumiu que muitas das soluções para os problemas do setor no país passam pela política nacional. Ainda assim, garantiu, a questão passa também pelo panorama europeu, desde logo na aplicação dos fundos comunitários, que de acordo com o comunista, devem chegar “livres de constrangimentos na sua utilização”. Dessa maneira, argumentou, o país teria disponibilidade para “compensar os prejuízos que tem sofrido pela imposição das políticas europeias, também em relação à cultura”. Exigiu, por isso, soberania nacional para mobilizar os meios que chegam da Europa, para que possam ser aplicados aos interesses do povo português.
Encara por isso as próximas eleições como uma “batalha pela democracia”, do ponto de vista político, económico, social e cultural, e fez questão de frisar que o tratamento do setor é um ponto de diferenciação em relação às restantes candidaturas. “Nós não estamos a tratar das questões da cultura como um aspeto secundário do conjunto vasto de matérias que temos a tratar. Estamos a tratá-las com a importância que têm”.
João Oliveira considera que a cultura deve ser vista como “fator de realização individual” a nível social, e que esse é o ponto de vista político “mais relevante” na discussão do tema. “No plano atual, esta é uma afirmação contra-corrente, num mundo em que as pessoas são cada vez mais empurradas para olharem para o próprio umbigo”.
Numa sessão em que 135 agentes e trabalhadores da cultura apresentaram um manifesto de apelo ao voto na CDU, João Oliveira opôs-se ainda contra quem olha para o setor como um produto que se comercializa como qualquer outro e em que “desaparece tudo o que não tenha rentabilidade económica”. Por esta razão, concluiu com a ideia que tinha lançado logo ao início do discurso, defendendo que a cultura é um pilar importante da democracia e um “espaço de construção de identidade”, que não deve ser tratado de maneira mercantilista.
O dia de João Oliveira começou com uma arruada na Amadora, onde admitiu que tem notado “desfasamento e alheamento” da população em relação às eleições europeias, mas prometeu lutar para contrariar essa tendência. O comunista garantiu, no entanto, que no contacto que tem promovido com trabalhadores de todo o país, ao longo das últimas semanas, tem notado uma “identificação de problemas no dia-a-dia” que têm uma “ligação muito profunda com as decisões que são tomadas na União Europeia”.
Não arriscou traçar “objetivos quantitativos” para o dia 9 de junho, mas mostrou confiança num “reforço da CDU”. Em relação à campanha, prometeu que não se vai desviar para “questões laterais e acessórias”, nem vai fazer gastar tempo em “festas e festarolas”. Nesse sentido, assumiu o compromisso de fazer uma “campanha de esclarecimento e informação sobre o que está em causa, que é a vida das pessoas”, desde logo em temas como o aumento dos salários e das reformas, a saúde e a habitação.