Vinte minutos depois do previsto, situação que foge largamente à habitual pontualidade comunista, chega finalmente o comboio, a caminho da Reboleira. O espaço na carruagem é curto e acaba por ser pouco para um ajuntamento tão grande de pessoas, o que faz com que ao início, o candidato acabe também ele por se sentar. A hora não é de ponta, mas os lugares na carruagem são escassos. Quem já lá ia dentro, olha o aparato com curiosidade mas em silêncio, como se nada tivesse acontecido. Com o passar do tempo, João Oliveira ganha ânimo para se levantar antes de novo contratempo: ao contrário do que estava nos planos, um funcionário da CP avisa um membro da comitiva que as televisões estão proibidas de recolher mais imagens, o que inutiliza grande parte do grupo que cobria a iniciativa.
Depois de um compasso de espera, agora com mais espaço para se movimentar, começa a caminhar pela carruagem, lugar a lugar, para distribuir panfletos. Explica que está ali para chamar a atenção das condições nos transportes públicos e para pedir um investimento forte num setor tão importante da vida das pessoas. “Se os transportes forem adequados às necessidades das populações, as pessoas recorrem mais”, explica João Oliveira a um dos poucos homens que mostrou disponibilidade para conversar nesta curta viagem.
É precisamente com este senhor, Hélder Alpendre, que acaba por ter a discussão mais animada da manhã. “Esta é uma luta que vamos travando”, garante o convidado. “Mas muito fraca…“, acaba por ouvir de volta. “Com as forças que nos vão dando, nós vamos batalhando por isso, a gente não desiste de lutar”, responde. O homem acaba por anuir mas lamenta que os outros partidos não queiram saber destes problemas — a deixa perfeita para João Oliveira concluir: “Está a ver? Quando se ouve aí que os partidos são todos iguais, o senhor já encontrou uma diferença”.
A viagem dura cerca de 20 minutos e pelo caminho, o cabeça-de-lista da CDU vai ouvindo novas queixas sobre os atrasos dos comboios. “Isto acontece todos os dias, é um grande transtorno. Saímos para trabalhar, mas o patrão nunca espera“, lamenta outro passageiro, já no fim da carruagem. Outro, mesmo ao lado, pede mais transportes grátis, “não só dentro de Lisboa”.
À saída, e face à relutância de alguns dos utentes do comboio em conversar, João Oliveira decide perguntar a quem lhe responde de maneira mais fechada se estas reivindicações fazem sentido e se vale a pena fazer esta luta. “Se está com o povo, vale a pena”, responde uma mulher. O candidato sorri, com sentido de missão cumprida.