Ainda Jerónimo andava pela vida política, e já o Chega e a Iniciativa Liberal tinham não só aparecido, como ultrapassado os comunistas na representação parlamentar. Hoje, no entanto, a diferença ao nível de votos é ainda maior. Talvez por isso mesmo, João Oliveira ainda não tenha baixado a mira apontada aos dois partidos.
Agora espicaçado por João Cotrim Figueiredo, que além de ter provocado os comunistas com a sugestão do livro “A Conspiração do Kremlin”, ainda insinuou que tem muita coisa em comum com o partido de André Ventura, os ataques vieram para ficar. “Para quem tem muitos esqueletos no armário, não é uma sugestão muito criativa”, afirma no início do desfile, não resistindo também ele a sugerir uma obra: “Tenho muitos livros preferidos na minha vida — não sei se encaixam no diário liberal — mas dava-lhe uma sugestão: ‘As Aventuras de João Sem Medo’ são sempre uma boa inspiração e uma belíssima obra literária”.
Já em relação às comparações do candidato liberal, João Oliveira usa a situação política nos Países Baixos para voltar a deixar uma bicada. “Para quem está comprometido na Holanda com um governo de extrema-direita, convenhamos que também é uma maneira pouco criativa de sacudir a convergência” com estas forças, refere.
Mais tarde, já em discurso perante centenas de simpatizantes no Parque das Nações, o comunista volta à carga, juntando também as duas maiores candidaturas à mistura. “Aos candidatos da AD, do PS e da IL, que agora se lembram de agitar o papão da extrema-direita, procurando dizer ao povo português que a alternativa está entre a extrema-direita e a continuação do caminho neoliberal da União Europeia, dizemos que essa não é uma alternativa”, começa por frisar, antes de garantir que a extrema-direita não é mais do que “a versão musculada, anti-democrática e agressiva do mesmo caminho neoliberal, militarista e federalista” que é seguido por estas forças políticas.
Tirando a extrema-direita, que é atacada na generalidade por todos os partidos, e o PS e a AD, que João Oliveira costuma juntar num bloco só para criticar a conivência com as imposições europeias, a Iniciativa Liberal começa mesmo a ser o alvo mais recorrente do cabeça-de-lista. Mesmo tendo garantido não se querer envolver nas nos “arrufos” laterais da campanha, João Oliveira não resiste a responder sempre que pode.
Desta vez vai mais longe, apontando até para uma ligação histórica entre os liberais e o Estado Novo: “Quando os comunistas e os outros democratas lutavam antes do 25 de abril pelo derrubamento do fascismo, andavam os liberais na União Nacional a sustentar o fascismo, a servir os grupos económicos e os latifundiários que acumulavam fortuna à custa da exploração, da miséria, da pobreza e do analfabetismo do povo. Não aceitamos lições sobre o combate à extrema-direita”.
Ao contrário do habitual, também Bloco de Esquerda e Livre entram no livro de reclamações comunista, que já conta com queixas contra os partidos da direita e o PS. Foram precisos seis dias, metade da campanha eleitoral, mas a tentativa de diferenciação com os partidos com quem a CDU mais disputa eleitorado lá acabou por chegar — mesmo sem menções diretas. Questionado sobre o que é que um eleitor de esquerda encontra nos comunistas que não pode também encontrar nestes dois outros partidos, João Oliveira é direto: a coerência.
“Connosco, o povo sabe exatamente aquilo com que conta e sabe que não andamos ao sabor da maré e dos ventos”. Os ventos, de acordo com João Oliveira, às vezes puxam certos partidos para “posições militaristas” e para a aceitação da corrida ao armamento. Também em relação aos direitos dos trabalhadores encontra diferenças, frisando que a CDU recusa o “nivelamento dos salários por baixo”, ao contrário do que noutras circunstâncias “outros partidos ditos de esquerda fizeram”.