Num clima em aquecimento, os padrões das nuvens estão a mudar de formas que amplificam o aquecimento global. Uma equipa de investigadores liderada pelo professor Johannes Quaas da Universidade de Leipzig e Hao Luo e pelo professor Yong Han da Universidade Sun Yat-sen na China descobriu mudanças cada vez mais assimétricas na cobertura de nuvens: a cobertura de nuvens diminui mais durante o dia do que à noite. Esta assimetria significa que o efeito de arrefecimento das nuvens diminui durante o dia e o seu efeito de aquecimento aumenta à noite, aumentando o aquecimento global. Os pesquisadores publicaram suas novas descobertas na revista “Science Advances”.
Nuvens: mais do que apenas um fenômeno meteorológico
Durante o dia, as nuvens refletem a luz solar de volta ao espaço, resfriando a superfície da Terra. À noite, por outro lado, agem como um cobertor, prendendo-se ao calor. Isso mantém a superfície da Terra aquecida. “É por isso que as nuvens desempenham um papel decisivo no clima da Terra”, afirma o meteorologista Quaas.
No seu estudo, os cientistas utilizaram observações de satélite e dados da sexta fase do Coupled Model Intercomparison Project (CMIP6), que fornece modelos e cenários climáticos abrangentes. Estes modelos abrangem dados históricos de 1970 a 2014 e projeções até o ano 2100.
“À medida que a cobertura de nuvens diminui mais durante o dia do que à noite em escala global, isso leva a uma diminuição do efeito albedo de ondas curtas durante o dia e a um aumento do efeito estufa de ondas longas à noite”, explica Hao Luo. principal autor do estudo.
Modelos climáticos e sua importância
Os modelos climáticos são essenciais para compreender e prever os complexos processos e interações dentro do sistema climático. Eles ajudam os cientistas a desenvolver possíveis cenários futuros e a analisar o impacto de vários fatores, como gases de efeito estufa, aerossóis e nuvens, no clima.
Johannes Quaas, da Universidade de Leipzig, enfatiza: “A assimetria de como a cobertura de nuvens muda é um importante fator recém-descoberto. Nosso estudo mostra que essa assimetria causa um ciclo de feedback positivo que amplifica o aquecimento global.” Segundo o pesquisador, as nuvens estão mudando em função das mudanças climáticas. No geral, há um pouco menos nuvens, o que significa mais aquecimento global.
Os mecanismos por trás da assimetria
Esta assimetria diária na cobertura de nuvens pode ser atribuída a vários fatores. Uma das principais causas é a crescente estabilidade na baixa troposfera, como resultado do aumento das concentrações de gases com efeito de estufa. Esta estabilidade significa que é menos provável que as nuvens se formem durante o dia, enquanto permanecem estáveis ou até aumentam à noite.
Yong Han, coautor do estudo, explica: “A mudança na cobertura de nuvens não é distribuída uniformemente ao longo do dia. Durante o dia, quando a irradiância solar é mais forte, observamos uma redução maior nas nuvens. À noite, quando a superfície da Terra normalmente esfria, a cobertura de nuvens retém o calor e, portanto, amplifica o efeito estufa.”
Olhando para o futuro
“As nossas descobertas mostram que existe uma necessidade ainda maior de reduzir os gases com efeito de estufa, porque não só a cobertura de nuvens responde ao aquecimento, como também amplifica o aquecimento através deste novo efeito”, alerta Johannes Quaas.
Os cientistas acreditam que são necessários mais estudos para compreender melhor as mudanças na cobertura de nuvens. Os estudos em curso na Universidade de Leipzig também analisam as alterações na vegetação e na sua biodiversidade, por exemplo, bem como o papel da diminuição da poluição atmosférica.
Título original em “Avanços da Ciência”:
“Tendências de cobertura de nuvens assimétricas diurnas amplificam o aquecimento do efeito estufa” , DOI: 10.1126/sciadv.ado5179