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O problema do mosquito – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 4, 2023

Dizem que as boas notícias não vendem. Que há um apetite humano pelo problema na base do sucesso ou insucesso de todas as histórias, verídicas ou ficcionais. Mas isso não explica tudo. Não pode explicar. A nossa atracção pela tragédia vai só até a um certo ponto – em princípio, aquele em que deixamos de ser meros voyeurs. Quase ninguém gosta daqueles espectáculos de teatro interactivo em que os actores se metem connosco. Ou de quando o realizador vira a câmara para nós. Queremos rir e chorar desalmadamente, como se tudo aquilo tivesse a ver connosco, sentirmo-nos compreendidos, identificados, mas, no fundo, apenas porque sabemos que não somos realmente nós. É um mero exercício. Uma catarse, a função social histórica da arte e, hoje, dos jogos de computador. Uma substituição, uma equivalência. Uma forma antiquíssima de realidade virtual, de simulacro. Porque, quando as más notícias nos envolvem, quando podem trazer sofrimento real, viramos a cara. Fechamos os olhos. Cobrimos os ouvidos. É por isso que tantos abrandam quando vêem acidentes e aceleram quando são eles a bater. Não queremos saber.

Esta semana, uma newsletter do New York Times trazia um título curioso. Faz ideia de qual o animal que mais mata no mundo? Não são os tubarões, nem os leões, nem os crocodilos, nem sequer os cães raivosos, nem os lobos, nem as orcas, nenhum animal selvagem, nenhum touro numa largada sangrenta, nenhuma ave de rapina, nenhum morcego carregado de vírus. É o mosquito. O mosquito. O título dizia: “Mosquitoes are Winning” e reportava-se a um conjunto de histórias da jornalista Stephanie Nolen que o jornal publicava naquele dia e que qualificava de “alarmantes”.

Depois de termos conseguido reduzir em mais de um terço as mortes por malária no início do século graças a muita investigação, sensibilização, insecticidas e redes mosquiteiras, elas começaram, estranhamente, a subir, de novo, desde 2019. Duas razões são apontadas: a adaptação dos mosquitos, que se estarão a tornar mais resistentes, e o aquecimento global, que estará a criar mais habitats adequados à prevalência das espécies mais perigosas. No ano passado, Texas, Flórida e Maryland registaram casos de transmissão de malária, coisa que há 20 anos não acontecia em solo americano. E a dengue, doença que tínhamos por tipicamente tropical, já é um problema em Paris, que luta por erradicá-la antes dos Jogos Olímpicos do ano que vem. A propósito: o mosquito responsável pela transmissão foi identificado há dias, pela primeira vez, em Lisboa.

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