• Sáb. Set 21st, 2024

O daltonismo de Barack Obama – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 9, 2023

Quando empreendemos uma abordagem filosófica às teorias identitárias de esquerda não podemos perder de vista o paradigma contra o qual elas se colocam. Esse paradigma é o paradigma liberal, e não deve ser confundido com a expressão “liberals” que, em contexto norte-americano, se refere aos “progressistas” ou apoiantes do partido democrata. Quando falo em paradigma liberal quero referir o Liberalismo filosófico, que nos legou o vocabulário da universalidade, da igualdade perante a lei, da racionalidade, da objetividade científica.

O paradigma liberal é ainda o paradigma da neutralidade política: um estado liberal deve ser neutro quanto aos projetos políticos dos seus cidadãos, garantindo que esses projetos resultam de uma escolha individual livre e não de uma imposição coletiva ou estatal; mas também deve ser neutro quanto à identidade dos seus cidadãos: a lei deve aplicar-se igualmente a todas as pessoas e identidades, de acordo com o princípio de não discriminação. A teoria do daltonismo racial é, como vimos, uma manifestação desta tentativa de tratar todos os cidadãos da mesma forma, independentemente da sua cor de pele: uma sociedade liberal justa estaria garantida quando a cor de pele se tornasse um fator irrelevante, como disse Martin Luther King. E nos Estados Unidos isso significaria atingir uma sociedade pós-racial, em que qualquer pessoa pudesse vingar – ter sucesso – independentemente da sua raça.

Foi neste contexto que a eleição de Barack Obama, em 2008, foi entendida por muitos como um sinal de que o momento pós-racial tinha chegado: uma nação em que o problema racial esteve presente desde o início (recordemos o compromisso dos três-quintos para efeitos de aprovação da constituição norte-americana) tinha finalmente garantido igualdade de oportunidades para todos. Obama simbolizava, então, não apenas a América que tinha sido capaz de superar o passado, mas também o próprio sonho americano: a crença de que qualquer pessoa, independentemente da sua origem, poderá triunfar – e de que esse triunfo depende apenas do seu esforço e do seu mérito.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.



Source link

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *