Bernardo Blanco, que quis entrar nas metáforas musicais, ganhou o prémio Rui Veloso. A organização acumulou o prémio Félix (pelo jogo do euro) e o prémio Champomy (por uma decisão criticada do púlpito). Oposição e direção venceram o prémio Saturday Night porque perderam uma renovação de estatutos, mas ganharam uma noite livre. Natacha Santos ganhou um prémio de melhor humorista. Aí estão os “Cartazes de Ouro”, os prémios criados para a VIII Convenção da Iniciativa Liberal.
Há partidos que exaltam muito o patriotismo e a dedicação à pátria, outros fazem-no nos detalhes. A VIII Convenção Nacional da IL estava marcada para os dias 5, 6 e 7 de julho – é aliás essa data que consta nas lonas gigantes à entrada do Europarque –, mas o jogo da seleção nacional na sexta-feira à noite levou a organização a cancelar o primeiro dia de congresso, que passava apenas por um “jantar temático” com Rui Rocha . A decisão parece ter agradado a todos e sobretudo a um membro que se queixou do partido ter inicialmente previsto um dia de trabalhos “onde só se vinha gastar dinheiro para comer e beber”.
A convenção da IL previa refeições no local da reunião magna e por isso a maioria dos congressistas – que assistiram presencialmente — acabaram por recorrer ao serviço de catering contratado pelos liberais, mas com queixas. Logo no sábado, existiram queixas bem humoradas, como a do membro Pedro Janeiro que lamentou um almoço que “nem vinho branco tinha”. Os liberais mantiveram o congresso alcool-free, apenas com água e sumo de laranja. E até na sala de apoio à comunicação social (onde havia café, água, fruta e alguns bolos) havia uma caixa com gelo com dezenas de cervejas sem álcool. A caixa ficou com o stock intacto até ao fim da convenção.
A IL lutou para se afastar do epíteto de partido do Twitter e no TikTok até correu atrás do prejuízo, com João Cotrim Figueiredo a admitir em entrevista ao Observador que foi preciso olhar para o Chega e começar a comunicar nessa plataforma. Ainda assim, o número de congressistas que acompanharam a convenção via Zoom eram quase tantos como os que se deslocaram até Santa Maria da Feira e, no último dia, foi preciso esperar cerca de meia hora para “esperar por espaço na cloud” para arrancar os trabalhos. Para compensar, e excluindo o limite das nuvens liberais, na hora de votar a famosa app do partido já não deu tantos problemas como na anterior convenção.
O sábado da Convenção estava inteiramente reservado para a discussão dos estatutos: primeiro as propostas globais e depois as emendas ao projeto que fosse aprovado. Ou seja: caso nenhuma proposta recolhesse dois terços dos votos, não podiam ser discutidas emendas e por isso o dia estaria terminado. A mesa da convenção ainda fez uma segunda volta, para ver se alguma proposta recolhia os tais dois terços, e o presidente da mesa até avisou que “se não fosse aprovado, íamos todos jantar”. Houve aplausos calorosos, tal não era a fome na sala. Motivados ou não por uma noite livre no sábado à noite, os projetos não foram aprovados e os trabalhos terminaram pouco depois das 20h. Fica por saber se a maioria não concordava com as alterações ou se queria mesmo era ter a noite livre.
Na convenção anterior, que elegeu Rui Rocha numa disputa renhida com Carla Castro, a Iniciativa Liberal mostrou que era um partido em maturação e crescimento. O modelo de organização do congresso era meio atabalhoado, muito longo e com muitos atrasos. Também nessa convenção existiram momentos restritivos: na altura das votações o presidente da mesa anunciou que ninguém podia entrar ou sair da sala do congresso. Agora, foi dado um passo em frente: já é possível sair da sala, para “ir à casa de banho”, mas não se podia deixar o edifício. Veremos até onde se pode ir na próxima.
Do púlpito já tinham sido citados Sérgio Godinho e Sétima Legião, mas Bernardo Blanco avisou que também queria entrar na “música”. Aproveitando que era ele um dos três proponente incumbidos de defender o novo programa político, recorreu à música “Primeiro Beijo”, de Rui Veloso para apelar ao consenso entre os liberais: “Muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa.”
Natacha Santos, num registo de stand up corrosivo, estilo Joana Marques, foi atacando com humor. Primeiro, ainda foi de forma elogiosa: “Estou muito preocupada com quem redigiu este programa porque eles estão com um ego insufladíssimo e ninguém os vai aturar quando eles chegarem a casa.” E pediu que, caso haja, “um mestre de obras na sala, que rebente as portas para eles saírem à vontade.” Depois seguiu para as indiretas aos críticos: “Ontem culpámos a ideologia liberal por tudo e hoje a ideologia liberal é do caraças e isso está-me aqui a causar algum eczema”. E, num ataque direcionado a Mayan, no mesmo registo de humor, atirou: “Eu que não sou jurista, sou historiadora, gostei de saber que a história ainda importa e que gostamos todos da Praia da Vitória e mais não sei o quê”. Mayan tinha contrariado, minutos antes, um outro membro que lembrou a batalha entre miguelistas e liberais na Ilha da Terceira, dizendo que o primeira vitória liberal foi no Porto em 1820.