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A “derrota pesada e surpreendente” que impediu a União Nacional de tomar o poder – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jul 8, 2024

As desistências nas chamadas “triangulares” já se adivinhavam como uma dor de cabeça para Le Pen, mas os estrategas do partido não antecipavam a enxaqueca que, afinal, debilitou a União Nacional. É isso que resume o Le Figaro: “A escada era demasiado alta para o nacional-populismo de Marine Le Pen, que se viu confrontada com um novo telhado de vidro, desta vez de betão armado. É evidente que, perante os resultados, a frente republicana está em pleno andamento. No entanto, para os estrategas de Marine Le Pen, este processo, classificado como ‘farsa’, nunca poderia ter impedido a sua vitória”. Pelo contrário, essas desistências de uns partidos a favor de outros tão diferentes eram até vistas, dentro da União Nacional, como um argumento de dissuasão para os eleitores indecisos.

A diabolização dessas alianças foi uma das estratégias do partido, que precisava de desativar a frente republicana que se começou a formar logo após o domingo da primeira volta. “Acho lamentável ver um Presidente da República que acusava o França Insubmissa de antissemitismo e comunitarismo atirar-se para os braços de Jean-Luc Mélenchon”, disse Jordan Bardella, ao Le Figaro, falando mesmo em “desonra”.

A estratégia também passou por colar Jean-Luc Mélenchon a uma “aliança do pior” que levaria ao “desarmamento da polícia, a ambiguidade sobre o antissemitismo, o desejo de libertar os prisioneiros, o inferno fiscal, a desordem e a insurreição”. Marine Le Pen seguiu outra argumentação: “Votar na Nova Frente Popular é votar no FMI”. Além disso, Jordan Bardella tentou mobilizar o eleitorado para as urnas ao garantir publicamente que não iria formar governo caso tivesse maioria relativa (o mais provável era que caísse à primeira moção de censura).

Não correu necessariamente como pretendiam. A União Nacional parece ter sido prejudicada pelas desistências ao centro e à esquerda ou mesmo na direita moderada para travar uma maioria da extrema-direita. Foi isso que aconteceu, por exemplo, no círculo eleitoral da ex-primeira-ministra Elisabeth Borne, que teve mão na polémica subida da idade da reforma, o que ainda está bem presente na memória coletiva, mas que, ainda assim, conseguiu ser eleita à segunda volta. Ou no círculo de Marie-Caroline Le Pen, irmã mais velha de Marine Le Pen, que na primeira volta foi a mais votada, mas na segunda perdeu por pouco o lugar para a candidata da Nova Frente Popular.

De acordo com uma análise do Ipsos, uma empresa de sondagens, feita para o Le Point, 43% dos eleitores do Ensemble (a coligação que inclui o partido de Macron) votaram na França Insubmissa e 19% no União Nacional nos duelos entre as duas forças. Já nos confrontos entre o Ensemble e a União Nacional, 72% dos eleitores da Nova Frente Popular votaram no primeiro e apenas 3% nos candidatos de Le Pen.

Bardella retomou, já depois de conhecidas as projeções, a linha da diabolização: a culpa dos resultados é de uma “aliança política desonrosa, destinada a impedir por todos os meios os franceses de escolherem uma política diferente” e que “está a atirar a França para os braços da extrema-esquerda de Jean-Luc Mélenchon”, disse. Essa aliança, firmada por Emmanuel Macron e Gabriel Attal com a extrema-esquerda, continua, “priva esta noite o povo francês de uma política de recuperação para a qual, no entanto, votou amplamente, colocando-nos na liderança durante as eleições europeias e depois na primeira volta das eleições legislativas de domingo passado”. Bardella também felicitou os apoiantes pela “serenidade face às caricaturas e às campanhas de desinformação dos nossos adversários”.

Mas não terá sido só o jogo das desistências a ditar a derrota. O Le Monde lembra como a campanha da União Nacional foi marcada por polémicas, como o anúncio feito por Bardella a dias das eleições de que iria proibir os cidadãos com dupla nacionalidade de exercerem cargos públicos. Após a torrente de críticas à esquerda e ao centro, Bardella lamentou ter sido “caricaturado” e garantiu que “os franceses de origem estrangeira que trabalham e respeitam a lei” não deveriam ter receio da medida. Le Pen também tentou limpar os cacos e aligeirar, garantido que a medida visaria apenas alguns empregos em “cargos estratégicos sensíveis”, como na Segurança e na Defesa.



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