Confesso-me profundamente decepcionado com o governo de Luís Montenegro. Isto anda mesmo muito fraquinho para quem faz vida de crónicas políticas. Já lá vão, quê?, mais de 3 meses desde a posse do governo e nada daquelas deprimentes – e de alguma forma deliciosas – peripécias rocambolesco-alegadamento-vigaristas com as quais sucessivos executivos do Partido Socialista nos habituaram tão mal. Então mas não havia para lá escândalo com o IMI da casa do primeiro-ministro em Espinho, ou o que era?!
Felizmente, Donald Trump levou um tiro numa orelha. Felizmente, talvez mais para mim do que para o ex-presidente dos Estados Unidos da América. Mas, afinal, este é um espaço dedicado ao bem-estar físico e emocional de quem? Bem vistas as coisas, o tiro que Trump levou foi bom para mim, mas também foi bom para ele porque, antes do sucedido no sábado, Trump iria ganhar as eleições de forma apenas e só muito concludente.
Agora, antecipa-se a chamada landslide victory ou, em português, um esmagamento de proporções bíblicas para o movimento Make America Great Again. Por mim, óptimo. Por mim e, dano colateral, pelos idiotas úteis sinalizadores de virtude que fingem acreditar (ou acreditam, no caso dos muito idiotas mesmo extremamente úteis) que seria um giríssimo avanço civilizacional termos, em alternativa, um Make China, or Russia, or Iran, or any Other Dictatorship Great Again (or for the First Time).
Nada disto invalida o facto de a tentativa de assassinato de Donald Trump ter sido, como é óbvio, uma encenação. Mais uma encenação, melhor dizendo, que os americanos andam a fazer encenações de assassinatos de presidentes há séculos. Só para recordar as últimas, tivemos a encenação de assassinato de John F. Kennedy, que terá sido, porventura, um bocadinho realista de mais. Talvez por, nessa altura, os americanos estarem muito investidos na encenação da chegada do Homem à Lua. Depois, tivemos a encenação de assassinato de Ronald Reagan, já muito bem conseguida. E agora, esta encenação de assassinato de Donald Trump, que pouco mais foi do que uma mordidela de Mike Tyson.
Atenção, longe de mim desvalorizar mordidelas do Mike Tyson, que pior do que sentir toda a crocância da própria cartilagem da orelha aos dentes do mais novo campeão de pesos pesados, só mesmo sentir toda a crocância da própria cartilagem da orelha aos dentes do mais novo campeão de pesos pesados e constatar ter deixado passar a data da vacina do tétano. Não, não duvido que o tiro na orelha tenha sido doloroso para Trump, até porque é das zonas do corpo que ele mais valoriza. Pelos menos é o que se depreende a ser verdade que Donald Trump não é de dar ouvidos a ninguém.
Depois do atentado, houve um dilúvio de críticas aos serviços secretos. Nomeadamente por haver vídeos que mostram que, dois minutos antes de assassino disparar, várias pessoas no recinto do comício chamaram a atenção de agentes das forças de segurança para o facto de haver um indivíduo armado no telhado daquele barracão. E o que fizeram os agentes secretos assim que os populares lhes transmitiram esta informação? Mantiveram-na secreta. Ora, se não é secretismo o que se pede a um agente secreto, não sei o que será. Por mim estão todos ilibados neste caso.
Com especial destaque para o chefinho dos agentes secretos que designou várias senhoras que dão pela cintura de Donald Trump para o protegerem de outros eventuais disparos. Não fosse o atirador querer matar o ex-presidente com um tiro na rótula, como aconteceu nos tristemente célebres assassinatos dos presidentes William McKinley, James A. Garfield e Abraham Lincoln, vítimas de ferimentos mortais, respectivamente, no ligamento cruzado anterior, no ligamento cruzado posterior e no menisco. Para quem não sabe, isto é História. Ou talvez estória.
Uma coisa é verdade, muito mais sólido que o regime estado-unidense é o português. Lá, um ex-presidente leva um tiro numa orelha e cai logo por terra. Cá, o actual presidente dá vários tiros nos próprios pés e mantém-se, ali, firme e hirto no seu posto.
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