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desta pandemia podemos rir-nos – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jul 25, 2024

Pandemia: o drama, o caos, o horror. Ainda é demasiado cedo para fazermos piadas com isto? Para Decameron, a série que se estreia na Netflix esta quinta-feira, 25 de julho, não é e ainda bem. Estamos noutra pandemia, mais precisamente na peste negra (Itália, 1348) e, embora os paralelismos sejam inevitáveis, o ritmo e o nonsense que tomam conta desta narrativa rapidamente nos fazem atirar para 15.º plano as memórias da nossa experiência.

Decameron baseia-se no livro de Giovanni Boccaccio do século XIV e apresenta-nos um grupo de nobres e respetivos criados que foge de Florença, infestada de mortos por todo o lado, para se refugiar na mansão de um conde, Leonardo, e esperar que a doença fatal lhes passe ao lado. É, por vezes, uma espécie de The White Lotus em esteroides, com uma data de gente privilegiada a comportar-se de forma egoísta e sem noção das consequências. Juntemos-lhe aqui o fator humor negro e os oito episódios consomem-se mais depressa que todos os cocktails a dobrar permitidos numa happy hour.

[o trailer de “Decameron”:]

Sob pena de revelar spoilers, não nos podemos alongar muito na evolução da história, mas podemos apresentar as personagens que lhe dão vida (muitas caras são reconhecíveis, embora nunca em papéis de protagonistas mediáticos). Pampinea (Zosia Mamet, de Girls) é a noiva prometida ao conde Leonardo e não tem tempo a perder. “Tenho 28 anos”, diz em surdina duas ou três vezes, sempre perante o olhar horrorizado da pessoa a quem confia esta informação. Neurótica, desesperada, tem 50 personalidades que se revezam numa troca frenética que se manifesta muitas vezes só numa mudança de olhar. É acompanhada por Misia (Saoirse-Monica Jackson, que, para quem viu Derry Girls, não será surpresa sair-se tão bem num papel cómico), a criada que está sempre à beira do colapso. Desdobra-se para agradar à padrona, que a controla como uma marioneta, dá ordens aos outros, corre, canta — só não faz o pino. Não lhe sobra grande tempo para lidar com a perda da namorada, morta pela peste, e isso irá apanhá-la pelo caminho, claro.

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Filomena (Jessica Plummer) é prima de Leonardo e a única sobrevivente entre os pais e as duas irmãs. Pega na criada, Licisca (Tanya Reynolds) e faz-se à estrada. Uma zanga entre as duas acaba por atirar a primeira ao rio e dá à segunda a oportunidade de se fazer passar por nobre. Os vestidos, a comida e a repentina atenção dos homens são aspetos até ali desconhecidos para ela, mas que passa a dominar com mestria. Algures terá de escolher entre a atração pelo médico Dioneo (Amar Chadha-Patel) e uma união conveniente ao rico Tindaro (Douggie McMeekin), um homem que sofre de tantas maleitas que depende mais do médico do que do próprio ar que respira e que não se cala um minuto, fazendo dele uma personagem insuportável na mesma medida em que é hilariante. São dele muitas pérolas, como “acredito que podemos aguentar cinco anos. Com canibalismo limitado, seis”.

Enfeitiçada pelo exótico doutor está também Neifile (Lou Gala), uma beata presa num casamento sem sexo com Panfilo (Karan Gill), um homem gay. Este casal que parece não ter ponta de sal no início vai revelar ser uma explosão de condimentos necessários para que o grupo nunca se torne enfadonho. Restam Sirisco (Tony Hale, de Veep), o mordomo da Villa Santa e Stratilia (Leila Farzad), a cozinheira. Na ausência do homem da casa, que não está quando os convidados desembarcam na propriedade, são eles que comandam a parada — ou, pelo menos, assim tentarão.





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