São muitos os ex-ministros que mantinham atividade académica antes de irem para o Governo e esse regresso é o mais frequente. Além de Elvira Fortunato, também João Costa voltou ao departamento de linguística da mesma Universidade Nova (embora só até ao final do ano). Ainda assim, neste grupo alguns ministros pediram licença sabática (a que têm direito pelo exercício de funções públicas), caso de João Gomes Cravinho, que tem em suspenso o regresso à Universidade de Coimbra. Ao Observador revela que nesta altura está a ponderar dois convites (um académico e outro diplomático) que lhe chegaram depois de ter saído do Governo.
Pedro Adão e Silva, ex-ministro da Cultura, também recorreu à dispensa temporária da atividade docente no ISCTE, bem como Helena Carreiras, da Defesa, que conta ao Observador que vai aproveitar este período para “uma reciclagem”, como lhe chama: “Ler tudo o que não li e participar nas conferências em que não participei”. É professora catedrática no ISCTE, nas áreas da Sociologia, Políticas Públicas e Metodologia de Pesquisa Social, e investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia.
Outro dos ex-ministros que segue para a academia mas para lecionar é José Luís Carneiro. Neste momento é deputado, onde faz parte da Comissão de Assuntos Europeus e na semana passada assinou contrato com o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas para professor convidado — “sem remuneração porque não posso acumular” dois salários do público. Vai dar aulas num seminário que está enquadrado nas licenciatura, mestrados e doutoramentos da faculdade e em duas áreas: Relações Internacionais e Administração Pública. Às segundas-feiras, antes de vir para Lisboa, para o comentário na CNN Portugal, ainda dá duas horas de aulas sobre política externa portuguesa na Universidade Lusíada.
Há também quem ainda não tenha revelado o que pretende fazer no futuro, caso de Duarte Cordeiro. O ex-ministro do Ambiente foi alvo de buscas no âmbito da Operação Influencer — a que fez cair o Governo — e desde então tem recusado assumir cargos políticos, mantendo-se apenas como um dos secretários-nacionais do PS. Contactado pelo Observador, não quis falar sobre o futuro.
“Já viu? Eu que sou coxo a fazer os Caminhos de Santiago. É um desafio brutal”. Quando João Costa falou com o Observador estava já na última etapa de 120 quilómetros, tendo partido de Tui. Depois de deixar o Ministério da Educação, onde esteve desde o início (primeiro como secretário de Estado), voltou à universidade, mas em janeiro de 2025 vai assumir a direção da Agência Europeia para as necessidades especiais e educação inclusiva.
O Governo é um passado que ficou lá atrás e garante que não sofreu com esta passagem depois de tantos anos: “Sou muito bom a fazer transições“. Fala da “vida mais calma” que tem, de “poder escrever, ler, estar com a família e amigos com tranquilidade”. Mas longe de se afastar da política: não só escreve artigos para o Expresso, como publicou um livro com o título “Manifesto pelas Identidades e Famílias. Portugal Plural” — uma espécie de resposta ao que esteve no centro da recente polémica com Pedro Passos Coelho. Também diz que fala diariamente com a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, uma amiga que diz ter feito nos primeiros tempos do Ministério da Educação, em que ambos eram secretários de Estado, e com quem mantém relação “de quase irmãos”.