O Hospital de Aveiro vai passar a fazer tratamentos de dessensibilização, um procedimento destinado a induzir tolerância em doentes com alergia a determinados medicamentos que até agora apenas podia ser feito na Unidade Local de Saúde de Coimbra.
“O objetivo deste tipo de procedimento é tornar o doente tolerante em relação a um medicamento ao qual é alérgico”, disse à Lusa a diretora do serviço de imunoalergologia do Hospital de Aveiro, Ana Morete.
De uma forma geral, as reações de hipersensibilidade a fármacos têm aumentado à medida que vários medicamentos vão sendo utilizados com maior frequência.
“À medida que vamos usando mais os medicamentos, podem haver mais reações alérgicas aos medicamentos e especificamente na medicação para os doentes oncológicos é frequente haver reações de alergia, reações de anafilaxia”, observou a médica.
Assim, quando os doentes não têm alternativas terapêuticas ou estas não são igualmente eficazes, existem protocolos de dessensibilização que permitem a aquisição de tolerância temporária a um determinado fármaco.
Segundo Ana Morete, o primeiro tratamento de dessensibilização a agentes quimioterápicos no Hospital de Aveiro vai ser realizado na quinta-feira, num doente oncológico.
“Este doente que nós vamos iniciar este tipo de terapêutica teve uma reação anafilática muito grave, que colocou a vida em perigo. Como para este medicamento não temos outras alternativas, e como é um doente que precisa efetivamente de fazer a medicação, nós vamos dessensibilizar”, referiu.
Este tratamento, segundo a clínica, consiste na administração controlada e gradual do medicamento, começando por quantidades ínfimas e aumentando progressivamente até à dose terapêutica pré-definida para cada doente.
“Vamos dar o medicamento em doses reduzidas, diluídas, em intervalos constantes que é a forma de fazer a dessensibilização e, no final do tratamento, que deverá durar cinco a seis horas, o doente vai conseguir fazer o fármaco com boa tolerância”, explicou.
Ana Morete adiantou ainda que, durante este período, o doente vai estar internado numa unidade de cuidados intensivos, porque tem riscos associados, e terá um enfermeiro e um médico sempre ao lado dele para fazer tratamentos a efeitos indesejáveis se acontecerem.
Este procedimento, que ocorre com alguma frequência, terá de ser repetido sempre que o doente necessitar de tomar o medicamento em causa.
Estes tratamentos, que até agora eram feitos apenas em Coimbra, vão passar, a partir de agora, a ser feitos também no Hospital de Aveiro, evitando assim, entre outros, as viagens dos doentes e seus familiares.
“Estamos muito contentes”, disse Ana Moreto, acrescentando que se trata de um tratamento que salva vidas e que envolveu um esforço dos diretores e enfermeiros chefes dos serviços de Imunoalergologia, Oncologia Médica, Medicina Intensiva e os serviços farmacêuticos da Unidade Local de Saúde da Região de Aveiro.