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Gostava de poder dizer palavrões – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 28, 2023

Há muitos momentos em que gostava de poder dizer palavrões. Dá-me ideia de que se soltasse uma ou duas asneiras, os sentimentos que me enchem se iriam materializar de uma maneira mais clara e objectiva. Calculo que assim, que mandando umas quantas bojardas verbais, a minha reacção estaria mais de acordo com a intensidade que vai cá dentro. Nessas alturas, calculo que dizer obscenidades faria de mim alguém mais autêntico, eventualmente até bem-aventurado.

Acontece que não digo palavrões. Comecei por não dizer palavrões porque os meus pais me proibiram. Agora que vivemos numa época tão dada ao cultivo de identidades, diria até que uma das primeiras identidades que abracei foi precisamente essa, a de não dizer palavrões. Desde que me lembro de mim falante, não dizia palavrões e nisso foi tornado parte de uma minoria. Cresci na identidade minoritária de não dizer palavrões.

A maioria dos rapazes no Externato “O Cisne” na Amadora dizia palavrões. Creio não ser exagerado dizer que que dizer palavrões era uma espécie de orgulhosa auto-alfabetização. A nossa alfabetização original, aprendendo a falar e depois a ler, tende a ser algo que os outros decidiram que fizéssemos, certo? Ninguém me consultou antes de me orientar a falar e a escrever. Quando dei por mim, já falava e, um pouco depois, estava a aprender a escrever—sinto-me pouco responsável e meritório por isso.

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