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entre as novidades das editoras independentes portuguesas – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 29, 2023

Longe dos grandes conglomerados editoriais, dos holofotes mediáticos, dos festivais literários, a lutarem mês a mês com o preço do papel (que a inflação catapultou para máximos), a contas com as gráficas, os problemas congénitos das distribuidoras, sem extras para montras e escaparates, dependentes do dinheiro que entra a conta gotas vindo das pequenas livrarias, também elas em crise contínua, as editoras independentes portuguesas não pedem quem lhes cante um fado triste e as notícias da sua morte são (sempre) manifestamente exageradas. Até porque quando uma morre, outra nasce como aquela espécie de erva-daninha endémica, que desnorteia os donos da terra queimada.

Talvez porque nem tudo se explique pela via da economia e das finanças e a volúpia de pensar e conhecer tenham um força maníaca das grandes paixões, que nunca são eternas, já dizia Vinicius de Moraes, mas infinitas enquanto duram. Como o amor pelo pensamento raramente se desliga da paixão pelo obstáculo, pois é dele que se alimentam os grandes espíritos, as pequenas e independentes editoras que publicam meia dúzia de livros por ano — ou menos — funcionam como um mundo à parte, infelizmente destinado uns happy few, que não traçam o seu gosto e o seu caminho intelectual nas “novidades”, nos “génios”, nos “prémios”, mas nos desafios impostos pela vida e não nas emanações do mercado, das séries do streaming, das folhas de cálculo das grandes consultoras.

É pois quase com um espírito de fora-de-lei, de velho contrabandista, que estas chancelas se movimentam, fazendo sair para a luz autores arquivados pela girândola de produtos totalmente supérfluos, autores estreantes, autores mortos e enterrados à pressa, mas ainda não esquecidos. D0s Ensaios de Montaigne, esse autor do século XVI absolutamente fundamental para o pensamento ocidental, cuja obra está pela primeira vez a ser editada em Portugal (até agora só têm saído livros de ensaios dispersos, note-se o escândalo desta omissão para a cultura portuguesa) pela E-Primatur; ao Discurso Sobre o Colonialismo do poeta e político Aimé Cesaire, escrito nos anos 30 e agora dado à estampa pela VS; à coletânea Luz Central que reúne os ensaios, artigos e entrevistas de Ernesto Sampaio, pensador e poeta iluminado pelo espírito iconoclasta, que pertenceu ao Café Gelo e pensou como poucos a cultura portuguesa, que sai numa parceria entre a Maldoror e a Língua Morta.

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