• Dom. Set 22nd, 2024

O disponível – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 1, 2023

1 Só faltou o champagne, mas talvez tenha havido. Ou castanholas, coisa muito dos vizinhos. O que manifestamente houve foi o subentendido do “haja o que houver”, formaremos governo: com jubilo e o (inconfundível) aroma da propaganda, o “par” espanhol do momento, Pedro e Yolanda, anunciaram há dias, com notável desenvoltura política, o seu casamento político. O PSOE do cinematográfico Pedro e o Sumar (grupo de partidos de esquerda e de extrema esquerda) da turbulenta Yolanda reluziam de felicidade pela assinatura do seu acordo com vista à formação de um novo governo. Era o primeiro mas muito leve andamento da partitura governamental que Pedro Sánchez se entretém a compor há meses, mas era preciso tocá-lo com sorrisos para amaciar o resto da composição. O resto é de ardilosa escrita e duvidosíssima execução mas o maestro não se atemoriza: está habituado a disponibilizar-se e o hábito facilita muita coisa. Desta vez — e ele sabe — irá até ao “ilimite” de si próprio: a permanência no Palácio da Moncloa vale bem qualquer missa. E mesmo que esta seja de luto pela soberania espanhola, a disponibilidade de Pedro Sánchez é magnânima. Está-lhe na massa do sangue, nos genes e agora — talvez houvesse uma réstia de dúvida — na alma.

2 Alberto Nunez Feijoo, líder do PP, ganhou as eleições em Agosto, não conseguiu formar governo, a esquerda não deixou, a direita não passará, decidiu Pedro. Para reunir os votos indispensáveis à sua própria indigitação para formar governo, o líder do PSOE bateu à porta menos recomendável do xadrez partidário, os independentistas catalães do Junts. Comandado por um foragido à Justiça, Carles Puidgemont e acolitado por outros foragidos e ex-detidos, pelas convulsivas consequências da convocação em 2017, de um referendo a favor da independência da Catalunha, realizado ilegalmente no primeiro dia de Outubro desse ano. O gesto anti constitucional desaguou nos tribunais. Houve condenações e detenções por crime contra a Constituição, mas Puidgemont já fugira de Barcelona, fê-lo logo nesse mês, a 30 de outubro, ou seja apenas 30 dias após a mediatizadissima realização do referendo: a fuga como opção política.

3 Hoje negoceia-se. Sem sombra de remorso, negoceia-se a Espanha. Primeiro houve conversações, depois a lista das exigências – uma amnistia após os indultos já aliás acordados pelo mesmíssimo Pedro Sanchéz na anterior legislatura; e hoje há uma chantagem: o reconhecimento da Catalunha como “nação”. Puidgemont não pode ter sido mais claro, Pedro Sánchez não se pode ter mostrado mais disponível. (No pacote do Junts vinha ainda, à laia de post scriptum, a exigência de 7 milhões de euros para redimir os implicados no “procés” da Catalunha além da garantia (?) verbal da substituição imediata do autarca de Barcelona, democraticamente eleito há meses, por outro partido. Depois da disponibilidade de Pedro (e de Yolanda Díaz e dos outros ) para assegurar uma amnistia a um partido fora da lei e com um líder fugido à Justiça, veio a última chantagem, a última até à próxima: ”reconhecimento” da Catalunha como “nação”. O Tribunal Constitucional vetou a pretensão: dotar o termo “nação” de “valor jurídico” era como pôr ao lume a fragmentação da Espanha: atrás da Catalunha, outras “catalunhas” viriam.

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