Este post contém spoilers para “A Coisa”.
Existem várias sequências de destaque em O clássico cult de John Carpenter “The Thing”. A abertura em si, onde um helicóptero norueguês persegue um cão de trenó e tenta atirar nele, imediatamente dá o tom para este conto mórbido enredado em desconfiança e paranoia. O que inicialmente parece uma tentativa sem sentido de violência (ou um caso clássico de humanos se comportando irracionalmente devido ao isolamento extremo) é gradualmente revelado como um esforço sincero para livrar o mundo de uma força maligna que pode se transformar em pessoas que conhecemos e confiamos. Os habitantes da estação de pesquisa da Antártida se sentem impotentes diante de um organismo tão perfeito — um que pode imitar, adaptar-se e enganar à vontade — mas o mais cínico entre eles, MacReady (Kurt Russell), surge com um teste decisivo para provar a humanidade de todos e atrair o impostor.
O método empregado é bastante grosseiro, mas atinge o objetivo de qualquer maneira: um fio em brasa é mergulhado em amostras de sangue em placas de Petri, com a intenção de descobrir se os instintos de autopreservação da criatura reagiriam a tal intrusão. Sangue humano não contaminado apenas faria o fio chiar, mas uma amostra mutada responderia violentamente a tal ataque percebido… e isso acontece. Embora o método extremo (mas compreensível) de MacReady não saia exatamente como planejado, resultando em algumas mortes inocentes, o culpado é eventualmente atraído para fora, debatendo-se grotescamente em uma tentativa de se proteger do mal.
Esta sequência tensa e memorável foi o ímpeto por trás de Carpenter dirigindo “The Thing”, pois apresentou uma oportunidade única de refazer “The Thing from Another World” de Christian Nyby (junto com a adaptação de seu brilhante material de origem, “Who Goes There?”) e, ao mesmo tempo, permitiu que Carpenter desse seu toque singular ao filme.
A cena do exame de sangue do Coisa foi uma chance de fazer algo especial
A novela de terror de John W. Campbell “Who Goes There?” estreita a caçada por The Thing quando MacReady percebe que mesmo pequenos pedaços da criatura assimilados em corpos diferentes se comportarão como organismos independentes. Para testar essa teoria, ele conduz um teste de sangue em toda a base, levando à morte de 14 homens que são revelados como contaminados. Ao estreitar o escopo do pretendente, Carpenter amplifica a paranoia embutida na sequência, já que cada indivíduo, incluindo aqueles não contaminados, é hostil a MacReady por seus métodos impetuosos, nos fazendo suspeitar de todos, incluindo O próprio MacReady.
Em uma entrevista com O GuardiãoCarpenter falou sobre seu amor pela cena, pois ele finalmente tinha os meios para dar vida a essa sequência tensa sem ter que comprometer nenhum aspecto criativo — algo que nem sempre era possível devido às restrições orçamentárias de um set independente:
“Um dos meus filmes favoritos foi ‘The Thing From Another World’. A ideia de refazê-lo foi assustadora, mas emocionante. Este também foi meu primeiro filme de estúdio, então muitas coisas estavam à minha disposição — era muito diferente da produção cinematográfica independente, onde você tem que se virar. A cena do exame de sangue é a razão pela qual fiz o filme. Pensei que poderia fazer algo especial com ele.”
Detalhes meticulosos foram esculpidos no cerne da sequência, já que o pretendente, Palmer (David Clennon), é o único personagem sem “aquele pequeno brilho que usamos na maioria das vezes nos personagens para criar o senso de vida, de inteligência”, como o diretor de fotografia Dean Cundey revelado ao SYFY Wire enquanto fala sobre como os olhos de Palmer são desprovidos de luz refletida nesta cena. Este pequeno, mas crucial detalhe é essencial para ajudar o público a identificar qual personagem é A Coisa nesta sequência — embora não faça muito para lançar luz sobre o final irremediavelmente sombrio do filme e seu significado em relação ao destino do mundo quando os créditos finais começarem a rolar.