A visão geral da Tesla Inc. foi resumida em uma linha de um relatório deste verão por um dos analistas mais gerais que cobrem a empresa: “O carro é para a Tesla o que o chip de videogame é para a Nvidia. O carro é para a Tesla o que vender livros é para a Amazon.” Adam Jonas, do Morgan Stanley, argumentava que a Tesla está se transformando de uma fabricante de veículos elétricos em uma potência em inteligência artificial e robótica. Nessa leitura, um Tesla não é apenas uma caixa sobre rodas com uma bateria, mas um veículo de entrega de IA. O presidente-executivo Elon Musk também apregoa essa tese, declarando com bravata típica: “Se alguém não acredita que a Tesla vai resolver a autonomia, acho que não deveria ser um investidor na empresa.”
Um asterisco nessa declaração pode ser apropriado. Neste fim de semana, o Wall Street Journal relatou que a xAI, o trabalho paralelo de inteligência artificial de Musk para seu trabalho paralelo de mídia social, X, flutuou a possibilidade de licenciar seus modelos para auxiliar as ambições de direção autônoma da Tesla em troca de um acordo de compartilhamento de receita. Musk rejeitou a história ao longo de vários tuítes, inclusive chamando-a de “absurdo”.
Por outro lado, há apenas cinco meses, Musk acusou a Reuters de “mentir” quando relatou que a Tesla havia descartado planos para um modelo EV abaixo de US$ 30.000, apenas para a empresa anunciar logo depois uma mudança de um EV muito barato para robotaxis. Além disso, Musk já entrevistou aquele corpo de sábios imparciais conhecidos como seus seguidores sobre se a Tesla deveria investir US$ 5 bilhões em xAI (a maioria respondeu afirmativamente).
O som de bater de asas que você ouve é o vento soprando através de um esplendor de bandeiras vermelhas.
Musk tem o hábito de tratar suas várias empresas separadas como partes de um todo unificado. O exemplo mais flagrante foi a aquisição da SolarCity Corp. pela Tesla em 2016, em que a empresa de veículos elétricos comprou um negócio de energia solar em telhados em espiral que era presidido por Musk, devia dinheiro a ele (e à Space X) e era administrado por seu primo. Até mesmo Jonas mais tarde caracterizou esse acordo como uma “detonação controlada”. Quando Musk comprou a Twitter Inc., que se tornou a X, ele trouxe engenheiros da Tesla para revisar seu código. Alguns meses atrás, ele redirecionou milhares de chips da Nvidia Corp. destinados à Tesla para a xAI, explicando isso como um soluço logístico.
Se a Tesla agora realmente investisse bilhões na xAI e/ou compartilhasse a receita com ela, o potencial conflito de interesses dificilmente poderia ser mais claro. A X tem lutado como um negócio desde a aquisição de Musk, com a receita de publicidade sob pressão e a Fidelity, uma das co-investidoras, reduzindo enormemente o valor de sua participação. Musk indicou que os acionistas da X possuiriam 25% da xAI, embora não esteja claro se isso seria individual ou coletivamente por meio da própria X. De qualquer forma, qualquer infusão de dinheiro ou potencial de receita da Tesla seria útil não apenas para a xAI, mas para o projeto X mais amplo.
Tal acordo também zombaria da justificativa da Tesla para conceder um gigantesco pacote de opções a Musk e então pressionar por sua reintegração depois que um tribunal de Delaware o derrubou. A presidente Robyn Denholm exortou os acionistas a votarem sim argumentando, em parte, que isso manteria o olhar errante de Musk focado na Tesla: “Queremos que essas ideias, essa energia e esse tempo estejam na Tesla, para o benefício de vocês, nossos donos”, ela escreveu. Isso se seguiu à ameaça nada sutil de Musk de levar sua visão de IA para outro lugar se ele não obtivesse uma participação maior na Tesla (depois que ele vendeu uma parte durante a aquisição do Twitter).
Se a Tesla acabasse investindo ou contratando outro empreendimento controlado por Musk que literalmente tivesse IA em seu nome, isso sugere que pelo menos algumas de suas ideias de IA foram para outro lugar, com opções ou não. Além dos conflitos e do trolling de governança, porém, há um problema mais fundamental aqui.
Jonas, assim como analistas otimistas semelhantes, atribui apenas uma fração de sua avaliação da Tesla à fabricação e venda de EVs, embora isso represente a vasta maioria da receita e lucro da empresa. A única maneira de justificar remotamente o valor de mercado de quase US$ 700 bilhões é acreditar que a Tesla não é uma mera montadora, mas sim uma pioneira em IA.
No entanto, se esse for o caso, se a Tesla vai “resolver a autonomia”, por que ela consideraria terceirizar funções essenciais de IA ou sentiria a necessidade de investir bilhões de dólares em uma startup lançada apenas no ano passado? As montadoras fazem parcerias com outras empresas para certas tecnologias. Mas Musk vem dizendo há anos que a Tesla já está prestes a quebrar a autonomia dos veículos por conta própria. Colocar dinheiro, ou receita, na xAI enfraquece essa narrativa e desviaria parte do valor prometido dos acionistas da Tesla para os próprios empreendimentos de Musk.
Talvez essas sejam meras propostas e pesquisas que permanecem apenas isso. Ainda assim, havia outra linha naquele relatório de Jonas que permanece, dizendo aos investidores para se prepararem para a nova estratégia da empresa “para conectar mais visivelmente a Tesla com outras empresas controladas por Elon, como SpaceX/Starlink, X e xAI”. Autonomia é, afinal, sobre apenas fazer o que você quer.
(Esta história não foi editada pela equipe da NDTV e é gerada automaticamente a partir de um feed distribuído.)