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Sustentabilidade e inteligência artificial – o caminho mais normal da próxima comissão europeia? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 17, 2024

A economia global está a passar por uma rápida transformação e, com ela, a União Europeia enfrenta o  desafio urgente de manter e aumentar a sua competitividade num cenário dominado por avanços  tecnológicos e imperativos de sustentabilidade. O “Relatório Draghi” – oficialmente intitulado O Futuro  da Competitividade Europeia: In-depth Analysis and Recommendations – oferece um roteiro  pormenorizado, que defende investimentos estratégicos na digitalização, na inteligência artificial (IA) e  nas tecnologias verdes. Estas áreas não são meras melhorias, mas representam pilares essenciais que  irão moldar a trajetória económica da Europa nas próximas décadas.

1. PILAR 1 – DIGITALIZAÇÃO: A ESPINHA DORSAL DA COMPETITIVIDADE  FUTURA 

A digitalização está na vanguarda da estratégia da UE para garantir a sua vantagem competitiva. O  relatório sublinha que o investimento em redes de banda larga de alta velocidade e em infraestruturas de computação em nuvem é essencial para que a UE possa prosperar num mundo cada vez mais digital.

O sector das tecnologias da informação e das comunicações (TIC) já desempenha um papel significativo  no PIB e no emprego da UE. No entanto, subsistem oportunidades substanciais de crescimento,  especialmente no reforço dos sectores da administração pública, como os cuidados de saúde, a justiça e  a educação. Ao modernizar estas áreas, a UE pode garantir que a infraestrutura digital sustenta tanto o  crescimento económico como o progresso social.

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Igualmente importante é a tónica no desenvolvimento de competências digitais. À medida que a  economia global se torna mais orientada para a tecnologia, a mão de obra da Europa deve estar equipada  não só com literacia digital básica, mas também com competências avançadas em IA, aprendizagem  automática e ciência dos dados. Tal permitirá às empresas e aos indivíduos tirar pleno partido dos  avanços tecnológicos, garantindo que a Europa se mantém na vanguarda da inovação digital.

O relatório sublinha e denota igualmente a importância de alcançar a autonomia estratégica. A  dependência da Europa em relação a países externos no que respeita a tecnologias e matérias-primas  críticas representa uma vulnerabilidade. Ao reforçar as capacidades internas e garantir as cadeias de  abastecimento, a UE pode atenuar os riscos e criar um ecossistema digital mais resiliente e  autossuficiente. Isto não só aumentaria a resiliência económica, como também garantiria que a Europa  liderasse em áreas de inovação, desde a computação quântica à cibersegurança.

2. PILAR 2 – IA E COMPUTING: PRÓXIMA FRONTEIRA 

A inteligência artificial (IA) e a computação de alto desempenho (HPC) representam os  alicerces do futuro digital da União Europeia, como sublinhado no relatório Draghi. Estas  tecnologias não são apenas cruciais para a inovação, mas também para assegurar a liderança  da UE no cenário tecnológico global.

A melhoria das infraestruturas de computação, em particular através do aumento das  capacidades de HPC, é essencial para apoiar a formação e o desenvolvimento de modelos de  IA avançados. Esse avanço é fundamental para uma economia baseada em dados, onde a IA  impulsionará novos serviços e indústrias inteiras. Para isso, a criação de um quadro

comunitário que permita às pequenas e médias empresas (PMEs) inovadoras acederem a estes  recursos computacionais é vista como uma prioridade estratégica.

A computação quântica é apontada como a próxima fronteira tecnológica que a Europa não  pode ignorar. O documento salienta que o investimento europeu nesta área é crítico para  assegurar a competitividade a longo prazo da UE nos ecossistemas digitais de nova geração.  A integração das tecnologias quânticas com as infraestruturas de HPC já existentes não só  aumentaria a eficiência, como também consolidaria a posição da Europa como pioneira em  inovações tecnológicas disruptivas. Esta integração é especialmente relevante para áreas como  a segurança cibernética, a otimização de processos industriais e a simulação de fenómenos  complexos, todos dependentes de avanços quânticos.

3. PILAR 3 – SUSTENTABILIDADE: LIDERAR A REVOLUÇÃO VERDE 

Além da digitalização, a sustentabilidade emerge como um imperativo competitivo, e não  apenas “ético”. O relatório realça que a UE já possui uma vantagem significativa no domínio  das tecnologias verdes, que deve ser constantemente reforçada frente à crescente concorrência  global, especialmente da China e dos Estados Unidos. A inovação em setores como  transportes ecológicos, biocombustíveis e energias renováveis (especialmente eólica e solar)  está no centro desta estratégia. O compromisso da Europa em liderar a revolução verde é  ainda complementado pela transição para uma economia circular, onde a reutilização de  recursos é maximizada, e a pegada de carbono é reduzida.

A meta ambiciosa de atingir emissões líquidas zero até 2050 é uma das principais bandeiras  da UE. Esse objetivo, embora desafiador, é possível de alcançar através de investimentos  robustos em inovação verde e tecnologias de baixa emissão, além de políticas que favoreçam  a transição energética e a descarbonização de setores intensivos em energia.

4. INICIATIVAS ESTRATÉGICAS 

Para alcançar estas metas, o relatório propõe uma série de iniciativas estratégicas. Entre as  principais está o Ato Europeu para o Desenvolvimento da Nuvem e da IA, que procura criar  uma arquitetura harmonizada de cloud computing e coordenar esforços para aumentar a  participação privada no financiamento dessas tecnologias. O reforço das capacidades de HPC,  IA e computação quântica será vital para garantir que a Europa continua na vanguarda da  inovação tecnológica mundial.

Outro ponto importante do relatório é o financiamento de modelos de IA aplicados a setores  estratégicos, como automóvel, energia, agricultura e saúde. Estes são setores fundamentais  onde a Europa pode garantir uma vantagem competitiva global através do uso eficiente de  tecnologias emergentes. O apoio às startups e PMEs é também destacado, com ênfase na  necessidade de melhorar o acesso ao financiamento e eliminar barreiras de regulação e  fragmentação do capital.

Em suma, o futuro da competitividade europeia está intrinsecamente ligado a investimentos  estratégicos em digitalização, IA e sustentabilidade. As propostas delineadas no relatório  Draghi não são meras sugestões, mas sim um apelo firme a ações políticas coordenadas, com  investimentos substanciais tanto do setor público quanto do privado, e um ambiente  regulatório que incentive a inovação. A capacidade da Europa de navegar os desafios do

século XXI depende da sua determinação em adotar estas inovações com visão e  compromisso. Ao seguir o roteiro estratégico proposto, a UE poderá não apenas manter, mas  também expandir a sua relevância no cenário económico global, em múltiplas dimensões que  vão desde a competitividade digital até a liderança na sustentabilidade.

Observadorassocia-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.

Referências; Comissão Europeia. (2024). O futuro da competitividade europeia: In-Depth Analysis and  Recommendations. Bruxelas: União Europeia.

Nota do autor:  Este artigo foi adaptado do relatório “The Future of European Competitiveness: In-Depth Analysis and  Recommendations”, que reflecte os principais imperativos estratégicos para a UE nos domínios da  digitalização, da IA e da sustentabilidade





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