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A revolução contemporânea de Maria da Fonte – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 13, 2023

A certa altura, o falecido marido de Perpétua, Segismundo, surge como fantasma, para lhe dizer que esta se deve juntar à revolta incitada por Maria da Fonte e ficar assim do “lado certo da História”. Um apelo que se repetiu ao longo da história, nas mais diversas circunstâncias, mas que aqui diz respeito ao rescaldo da Revolução Liberal de 1820 e da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). Estamos em 1846, em pleno período conhecido como Cabralismo. O clima é de conspiração e de grande agitação política. O país, liderado por D. Maria II, tem agora de obedecer a um conjunto de medidas contestadas pelas massas populares.

É neste cenário que entramos na história de Maria da Fonte, a opereta escrita pelo compositor Augusto Machado (1845-1924), a partir de um libreto original da autoria de Batalha Reis, Gervásio Lobato e João Francisco de Eça Leal, estreada no Teatro da Trindade em 1879. Perdida no tempo, é agora recuperada pelo encenador Ricardo Neves-Neves, autor do libreto atual, que será apresentada dias 12 e 14 de novembro, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.

Poder-se-ia dizer que partimos do particular para o universal e que o passado, neste caso, se confunde com a contemporaneidade. O clima inicial é de romaria e as intrigas são as típicas do “quem casa com quem”. Um lenço dos namorados de Viana do Castelo transporta-nos para o Minho e para a cultura desse região. Dança-se, bebe-se e joga-se às cartas na taberna. Já aí se cogitam críticas ao poder político e ao clero. Ao mesmo tempo, cortejam-se as raparigas e goza-se de uma certa liberdade de costumes. Há quem queira preservar os valores mais conservadores, como Perpétua; mas há também Maria que é divergente; bebe às horas que quer e quando lhe dizem que talvez esteja a passar dos limites responde em tom de ironia: “Estou a festejar a minha independência”. A sua figura é a de uma valquíria, forte e destemida. Há suspeitas de traição por parte do seu amante Ludovino (um agricultor rico) com a sua irmã, Joana. Mas surgem também ecos de uma conspiração entre o administrador local, Vilar, e o abade Cortições, que se subentende ser pai de Maria da Fonte e de Joana, para enviar os rapazes para o exército combater a ralé.

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