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O pé esquerdo que faz de Geny um tipo às direitas (a crónica do Estoril-Sporting) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 27, 2024

Seis jogos, outras tantas vitórias, uma média de quase quatro golos marcados, apenas dois golos consentidos com uma série de 414 minutos consecutivos com a baliza em branco (mais de 500 juntando o encontro para a Liga dos Campeões com o Lille). Se na última temporada existia em muitas partidas a dúvida em relação ao triunfo do Sporting, esta época, ou pelo menos este início, quase transformou essa realidade para a base do por quantos o Sporting ganha. Quer isso dizer alguma coisa nesta fase da temporada? Não. E foi à boleia de uma pergunta sobre o texto escrito para o recente livro do antigo jogador Hugo Leal, em que defende que o treinador deve ser o mestre dos porquês, que Rúben Amorim deixou um alerta para dentro e para fora.

Estoril-Sporting. Geny Catamo inaugura o marcador (0-1, 25′)

“O treinador deve pensar sempre nos porquês, tem de pensar sempre que o jogador vai perguntar porquê e temos de lhe dar uma explicação. Fui jogador, eles gostam de ter essa certeza, de ver que o treinador sabe as coisas. Em relação a estar sempre descontente, consigo ver a nossas limitações. Em jogos do Campeonato mostramos alguma consistência mas sinto que temos de trabalhar mais porque quando o nível aumenta, na Liga dos Campeões por exemplo, sentimos mais alguma dificuldade. Há sempre algo a melhorar. Não vivo bem com a história que o Sporting é imparável porque fico desconfortável, quando perdermos os primeiros pontos vão dizer que é só conversa. Temos de estar sempre no máximo e não nos deixarmos levar. Eles [jogadores] têm de pensar que estamos muito bem mas que podem fazer melhor”, salientou o técnico.

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Ainda assim, Amorim não recusa a ideia de que esta poderá ser a sua melhor versão de Sporting. Pelas opções, pela qualidade, pelas rotinas? Também mas sobretudo por uma questão de crença própria. “É o melhor, é o que tem mais intensidade, mais confiança, é a equipa que acredita mais em si. Sinto isso nos jogadores. Quando vamos para o jogo não sei qual será o resultado mas sinto-me mais tranquilo sobre o que vai acontecer no jogo. É tudo mais claro quando vou para o jogo. Demos um passo em frente e é mais perto da ideia que tenho para a equipa. É o melhor Sporting”, assumiu o técnico que chegou a Alvalade em março de 2020 e conquistou dois Campeonatos, duas Taças da Liga e uma Supertaça pelos verde e brancos.

“A equipa cresceu muito na forma como reage. Estamos muito mais rápidos, senti conforto nos jogadores no 1×1 mas sempre que penso nisso, que estamos no caminho certo, imagino jogos mais difíceis em que jogamos mais perto da área. Acho que eles cresceram muito rápido e adaptaram-se muito bem ao 1×1 muitas vezes longe da baliza. Na Liga dos Campeões teremos de mostrar a capacidade de defender a baliza. Sinto que vamos ter testes onde todas estas coisas que digo no fim dos jogos vão ser clara para toda a gente. Vamos sofrer. Haverá jogos em que vamos ter outra ideia da nossa valia”, acrescentou a esse propósito.

Foi também dentro desse espírito que Rúben Amorim não especulou em relação às presenças na equipa no jogo com o Estoril na Amoreira, assumindo os regressos de Gonçalo Inácio e Eduardo Quaresma à lista de convocados ao contrário de Pedro Gonçalves e Marcus Edwards e confirmando a permanência de Franco Israel na baliza apesar da recuperação de Kovacevic. No entanto, havia surpresas preparadas entre Maxi Araújo no trio da frente, Morita, a ausência de Conrad Harder e a recolocação de Geny Catamo à direita com o primeiro jogo fora da titularidade de Geovany Quenda. Mais uma vez, imperou o coletivo. O Sporting é uma máquina que pode marcar mais ou menos golos, pode ter maiores ou menores períodos de domínio mas que encontra sempre soluções para ganhar os respetivos compromissos – neste caso, “sem” Gyökeres.

O sueco perdeu influência? Não, nem por isso. Analisando com cuidado os dois golos do Sporting que foram o fator decisivo da partida, foi o facto de haver um central 1×1 com o sueco e outro pronto para a dobra que abriu os espaços aproveitando para o remate final. No entanto, foi na direita que esteve o segredo de uma equipa que joga bem em todos os corredores, domina todos os momentos e coloca o coletivo a potenciar o melhor de cada uma das individualidades. Francisco Trincão, com Roberto Martínez na tribuna a ver, foi de novo o artista diferenciador a quem só falta finalizar mais e melhor para ser de topo; Geny Catamo, esse, voltou à posição natural onde explodiu e mostrou como consegue fazer a diferença de outra forma do que quando é colocado no lugar onde se mostrou ao mundo do futebol coroando a exibição com um golo.

Como seria de esperar, o Sporting iniciou o encontro a tentar assumir o domínio com bola e teve logo a abrir duas iniciativas em que conseguiu rodar a bola de forma rápida entre corredores com a capacidade de fazer mexer uma defesa canarinha “adaptada” à forma de atacar dos leões (com os laterais também “invertidos”, entre Pedro Amaral à direita e Wagner Pina à esquerda) mas sem passar de aproximações sem finalização. Depois, Amorim teve de gritar. A equipa amoleceu, tornou-se mais previsível, permitiu que o Estoril fosse estabilizando o seu jogo. Ouviu o “toque”, aumentou a intensidade, encontrou os espaços, tornou o jogo mais rápido. Trincão, com um remate em boa posição por cima, fez o primeiro remate (11′) antes de Morita, após uma grande desmarcação de rutura, ver Boma cortar in extremis por cima da trave sozinho na área (15′).

O golo parecia ser uma questão de tempo. O Estoril ia tentando sair com os centrais leoninos a mostrarem em velocidade o porquê das respetivas escolhas mas foi a partir de trás que o Sporting foi reforçando também a sua superioridade a partir de trás com a qualidade no passe longo de Debast, na parte física de Diomande e na técnica de Matheus Reis. A máquina começava a carburar, o “rolo compressor” foi ativado para dois golos em pouco mais de cinco minutos: Geny Catamo inaugurou o marcador de pé esquerdo isolado na área por um passe fantástico de Matheus Reis na sequência de uma segunda bola (25′), Morita aumentou a vantagem na sequência de mais uma grande combinação ofensiva pela direita entre Geny Catamo e Trincão para o cruzamento atrasado com desvio de primeira do japonês (31′). Tudo mudara num pequeno ápice.

O Estoril tinha apenas de tentar “sobreviver” até ao intervalo mas o Sporting ainda ficaria perto de aumentar mais a vantagem conseguida no encontro com mais um tratado de futebol assinado por Trincão, a rematar de primeira em arco de pé esquerdo após assistência de Gyökeres mas a acertar no poste da baliza de um Robles que estava batido (41′) mas que teria também a sua relevância até ao descanso, ao fechar o primeiro poste em mais uma desmarcação de rutura de Morita agora a descair para a esquerda que terminou com a tentativa do japonês em rematar e não assistir antes da defesa para canto (45′). Chegados ao final dos 45 minutos, a única surpresa era mesmo a diferença entre as duas equipas não ter outra expressão no resultado.

Em desvantagem, o Estoril lançou Holsgrove no encontro mas foi a colocação dos laterais nos seus pontos naturais que permitiu outro balanceamento ofensivo capaz de criar mesmo o primeiro lance de perigo do segundo tempo, com Pedro Amaral a cruzar bem da esquerda para a zona entre guarda-redes e centrais sem que nenhum dos avançados canarinhos conseguisse desviar (55′). Rúben Amorim não gostava mas também não mudava os planos num misto entre aquilo que eram as características do encontro e a necessidade de fazer alguma gestão para o próximo encontro de Eindhoven, lançando em campo Gonçalo Inácio, Daniel Bragança e Conrad Harder para voltar a ter maior controlo do jogo com outras soluções na frente.

A quebra da intensidade e da velocidade por parte dos leões acabou por prejudicar não só a missão de um terceiro golo mas também a própria qualidade do encontro, que perdeu motivos de interesse e foi passando de forma “tranquila” entre uma situação de perigo de Daniel Bragança na área e um remate de Geny Catamo que passou pouco ao lado da baliza de Robles. Ainda assim, havia um último capítulo guardado para o período de compensação, com Daniel Bragança a combinar no corredor central com Francisco Trincão antes do remate de meia distância que saiu perto do poste mas que deixou Robles mal batido (90+1′).





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