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de webcomic a série da Netflix, como é que esta história queer está a fazer a diferença? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 4, 2024

Dez páginas de cada vez publicadas nas plataformas Tumblr e Tapas. Foi assim que Alice Oseman foi apresentando Charlie e Nick aos leitores. Aos poucos, o webcomic que começou em setembro de 2016 foi ganhando personagens (Elle, Aled, Darcy) e temáticas (amor, autodescoberta ou saúde mental), mas sobretudo uma imensidão de fãs, de pré-adolescentes a jovens adultos.

Aos 22 anos, a autora britânica escrevia, ilustrava e publicava Heartstopper. Do mundo digital, a novela gráfica transformou-se depois em livros físicos (em Portugal sob a chancela da Desrotina) que já venderam mais de oito milhões de exemplares pelo mundo, e em 2022 ganhou uma versão na Netflix.

A série chegou ao top 10 de 54 países e prepara-se agora para repetir o feito, com a terceira temporada disponível a partir desta quinta-feira, 3 de outubro. Mas como é que Heartstopper nasceu e se transformou? Quais são os efeitos sociais de um fenómeno deste género? É benéfico abordar temas complexos com uma faixa etária jovem? O Observador foi à procura de respostas.

Charlie Spring, de 15 anos, e Nick Nelson, de 16, frequentam a escola fictícia de Truham, no Reino Unido. O primeiro é esquelético, desengonçado, toca bateria e é gay. O segundo é um atlético jogador de râguebi. Primeiro surge a amizade, depois a paixão — um sentimento claro desde logo para Charlie, mas não para Nick, que terá pela frente um longo caminho de descoberta e aceitação da respetiva sexualidade.

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Além dos protagonistas, há mais personagens queer na narrativa. As lésbicas Tara e Darcy, de 16 anos, ajudam Nick a entender e aceitar a sexualidade dele. Uma das melhores amigas de Charlie, Elle, é transgénero e mais tarde na história percebe-se que a irmã, Tori, é assexual (não sente atração alguma). Aled é gay e demissexual (ou seja, não sente atração sexual até formar uma conexão profunda com alguém).

A convivência na escola, a vida familiar, sexualidade, aceitação, homofobia, depressão, distúrbios alimentares ou automutilação são alguns dos temas abordados em Heartstopper, fazendo da narrativa um sucesso — precisamente porque aborda temas universais da adolescência, no seio da comunidade LGBTQ+ e não só.

Alice Oseman é britânica e nasceu em Chatham, Kent, a 16 de outubro de 1994. Cresceu em Rochester e tirou o curso de Literatura Inglesa em Durham. Aos 17 anos conseguiu fechar o primeiro contrato com uma editora e em 2014 publicou Solitário, um livro direcionado para jovens adultos sobre um casal de adolescentes que tenta desvendar uma data de partidas na escola.

Dois anos mais tarde seguiu-se Rádio Silêncio, que se foca na vida universitária e respetivas expetativas e pressões, assim como relações LGBT+. Oseman passou para o livro muita da sua experiência na Universidade de Durham, que não foi propriamente feliz. Nasci Para Isto, sobre uma banda de música e o seu grupo de fãs adolescentes, foi publicado em 2018. Por esta altura, nascia também o webcomic Heartstopper.

[o trailer da terceira temporada de “Heartstopper”:]

Tendo uma forte componente de personagens queer em todas as suas histórias, Alice Oseman resolveu clarificar as questões sobre a sua sexualidade em 2020, ao promover o livro Sem Amor. Responde aos pronomes “ela” e “eles/elas” e explicou ser assexual e arromântica .

“É difícil. Vivemos numa sociedade em que o sexo e o romance são premiados acima de tantos outros aspetos de sermos humanos. As pessoas são condicionadas desde que nascem até crescerem. [Têm de] encontrar um parceiro, casar, ter filhos — quando somos assexuais ou arromânticos não nos encaixamos propriamente nessa estrutura de vida”, lamentou numa entrevista dada à revista Hello! em junho de 2023. “Não há literacia sobre isso e temos sorte se sequer conhecermos esses termos”, explicou ainda.

Apesar de falar sobre isso atualmente, nem sempre foi assim. “Assexual” foi um termo que descobriu por acaso online quando tinha 18 anos. Frequentava a faculdade e percebeu que não conseguia cumprir a expetativa que ela própria tinha: encontrar o amor. Aceitar isso foi um processo longo.

“Passei por uma fase em que tentei forçar-me a gostar de rapazes”, contou. Depois pensou ser demissexual (a atração surge apenas quando se desenvolve um vínculo afetivo) e só mais tarde se cruzou com o termo “arromântico”. A jornada foi complexa e, segundo Alice Oseman, será semelhante ou ainda mais difícil para jovens que se debatem com a respetiva identidade e nunca ouviram sequer falar destes conceitos — ela própria revelou que, ao crescer, não teve contacto com nenhum destes temas.

Atualmente vive em Kent e está a trabalhar no novo volume de Heartstopper. Quando lançou o primeiro livro, só lhe falavam da idade e do feito que era publicar tão jovem, ninguém estava realmente interessado na história. Isso afetou-a mas, na altura, era demasiado jovem para recentrar o assunto naquilo que importava. Aprendeu com o tempo e, em 2022, decidiu fazer uma pausa nas redes sociais e no trabalho devido ao stress e à pressão. Arranjou tempo e fez da sua saúde mental a prioridade. Regressou à escrita um ano mais tarde.

Solitário, o livro de estreia, já tinha a primeira semente para o fenómeno Heartstopper. Estavam lá como personagens secundárias o irmão gay de Tori, Charlie, e o namorado deste, Nick. Inicialmente, Alice Oseman tentou desenvolver esse arco narrativo através de pequenas histórias em ebook, mas depois percebeu que uma webcomic seria o mais lógico. Escrevia, desenhava e publicava dez páginas de cada vez no Tumblr e na plataforma Tapas. Aliás, a história continua a evoluir no mesmo sítio, com atualizações nos dias 1, 11 e 21 de cada mês.

Apesar de Solitário ter chegado às livrarias através das edições infantis da HarperCollins, Oseman sempre soube que a escolha para Heartstopper tinha de ser outra. “Senti que a autopublicação era o melhor caminho porque tenho muitos leitores internacionais. Se tentasse trabalhar com uma editora do Reino Unido, seria muito difícil para o número grande de leitores de fora do Reino Unido conseguirem um exemplar”, disse ao site The Bookseller.





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