• Dom. Out 6th, 2024

Uma desaparecida chamada Wanda – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 6, 2024

Ninguém sabe onde está a Wanda. Mas quem é ela? Wanda (Lea Drinda) é uma adolescente de dezassete anos que um dia desaparece numa pequena cidade alemã que tem todos os traços de pequena localidade — preconceitos e clichés incluídos. Wanda, em voz-off, faz um excelente trabalho a apontar esses detalhes que, tantas vezes, damos como tão garantidos que até nos esquecemos da sua existência. Um deles salta à vista: o símbolo local, uma criatura mítica que, uma vez por ano, aparece na floresta e rapta uma criança. A cidade até festeja esse dia, com uma parada. Já dá para adivinhar em que dia Wanda desapareceu, certo? Até porque ela saiu de casa vestida à capuchinho vermelho. E essa história não se conta sem um lobo mau.

Mas há aqui um detalhe importante: Where’s Wanda? é uma comédia. Aqueles que preferem caixinhas muito pequeninas irão chamar-lhe uma “comédia negra”. Deixemos isto na gaveta maior, porque a forma que apresenta e o objeto que trabalha é maior do que a ideia simples de fazer pouco de algo mórbido. Outro detalhe: a série, criada por Oliver Lansley e Zoltan Spirandelli, é a primeira da Apple TV+ falada em alemão. Lembram-se de Dark? A Apple quer fazer o mesmo jogo que a Netflix. O que faz sentido, porque há mesmo qualquer coisa aqui.

Por ser uma produção distante da indústria americana, permite-se gozar com modelos muito populares dali oriundos, evitando os módulos de sátira ou de potencial auto-reflexão muito habituais. Parte do divertimento em ver Where’s Wanda? é perceber o como e o porquê do que está a gozar. Não que reconhecê-los seja fundamental, só que tem mais piada — tem sempre mais piada — se sentirmos o zeitgeist da coisa.

[o trailer de “Where’s Wanda”:]

Quando ficamos a saber da Wanda desaparecida, logo ao início, conhecemos os pais, Carlotta (Heike Makatsch) e Dedo Klatt (Axel Stein), a fazerem-se passar por empregados da companhia de eletricidade local para entrarem na casa das pessoas com a desculpa de que vão substituir algo obrigatório quando, na realidade, estão apenas a instalar câmaras de vigilância ilegais. Metido ao barulho está ainda Ole (Leo Simon), o irmão surdo de Wanda.

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A razão porque estão a fazer isto é o detalhe maldito de Where’s Wanda?. Após uma participação na televisão que corre muito mal, os Klatt ficam com a semente na cabeça de que ao fim de 100 dias, diz a estatística, é quase impossível encontrar uma pessoa desaparecida. Estão no dia 70, sentem a contagem decrescente e decidem fazer o trabalho de detetives. Uma pista recente cria a ideia de que se Wanda foi raptada, ela está numa área específica da cidade.

O que os leva a essa área é uma peça de roupa encontrada num contentor de doações. Têm um mapa da cidade na cave e vão selecionando potenciais casas suspeitas. Quando olhamos para o mapa pela primeira vez, vem à cabeça uma espécie de “Onde Está o Wally?” com temas bem reais e sombrios. Mas Wanda não é um bonequinho num cenário, é uma adolescente desaparecida que pode ou não estar numa daquelas casas. Onde está a graça? No facto de os pais nunca terem ponderado que a filha não esteja numa daquelas casas. Ou que tenha sequer sido raptada.

Where’s Wanda? é um delírio em volta dos documentários criminais que ficaram populares na última década e explora o imaginário em várias frentes: todas as casas escondem qualquer coisa, especialmente se procurarmos muito; amadores a fazerem investigação criminal não é a melhor das ideias; ou mais uma mulher branca desaparecida.





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